Paraíba
Aqui, nessa mesa de bar
20/08/2023
Não tinha nada de especial a pizzaria – mistura de bar e restaurante -, que foi a derradeira trincheira de uma guerra perdida contra a cidade que deixou o rio para conquistar o mar.
Nem sequer o nome era original ou criativo. Muito pelo contrário. Tentava remeter as pizzarias da máfia italiana, até mesmo porque tinha no seu cardápio uma variedade de pizzas de boa qualidade, mas em nada lembrava a decoração das cantinas que eu havia conhecido.
De sorte que eu nunca consegui entender o sucesso do La Verita, que ficava na Souto Maior, na subida de quem vinha da Lagoa.
A única explicação talvez fosse a sua proximidade das redações dos jornais, que abrigavam notórios boêmios que também eram ilustres jornalistas e alguns deles também escritores.
Era o caso do médico Paulo Soares, o mais assíduo frequentador do local, ao lado do grande Martinho Moreira Franco que dividia comigo a redação das peças e roteiros da agência.
Juntos, varávamos as noites entre espumas e o tradicional filé com fritas, que dividia com o galeto a preferência do clube dos amigos da noite, do qual eu também fazia parte.
Já não existiam nessa época – final dos anos noventa – a Bambu e o Luzeirinho, que foram dois ícones da nossa boêmia, e os ventos sopravam todos para o litoral onde quase todos já moravam.
Como bem diz os franceses, muito embora o nome do bar fosse italiano, o lugar era le piece de resistance da cidade antiga e sua gente envelhecida.
Por isso, não faltavam histórias, até mesmo de quem estava levando chifres como acontecia no ponto de cem réis de Gonzaga Rodrigues, mas via de regra, a conversa era aprumada para uma mesa de bar.
E, o mais importante, a cerveja estava sempre gelada. Véu de noiva.
Certa noite, inventei de levar Andréia para lá. Lembro que chovia bastante e que era dia de Flamengo e Vasco.
Foi uma noite de festa. Talvez a última naquele lugar. Alguém levou um rádio, porque não tinha TV na casa.
Melhor para a torcida rubro-negra, que pôde acompanhar a vitória do seu time e ainda zoar com os vascaínos, como Milton Nóbrega, que faziam parte da confraria.
Mas, diferenças à parte, os que ali iam representavam a última geração de intelectuais que faziam do bar a sucursal de suas vidas.
Nesse contexto, o La Verita foi a notícia não escrita, de um jornal não publicado e voltado para um público que não existe mais.
Não sei se ainda está de pé, mas fez parte da minha vida e de muita gente.
Que descanse em paz.
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