Palmarí Lucena

Escritor e diplomata

Internacional

Ameaças existenciais


27/02/2024

Vivemos em um mundo repleto de incertezas e desafios, e uma das maiores preocupações atuais diz respeito às ameaças existenciais. Essas ameaças, por serem de natureza global, têm o potencial de afetar a humanidade como um todo, colocando em risco nossa própria existência.

Uma ameaça existencial pode se manifestar de várias formas, como mudanças no nível do mar e a destruição de ecossistemas, que podem ter o potencial de causar alterações climáticas abruptas e irreversíveis, resultando em aumento desenfreado das temperaturas e tornando nosso planeta inabitável para a vida humana. Além disso, a inteligência artificial e a automação, embora tragam inúmeros benefícios, também podem representar uma ameaça se não forem utilizadas de maneira ética e responsável, podendo prejudicar a humanidade como um todo se estiverem fora de controle.

Não devemos esquecer também das ameaças provenientes do desenvolvimento de armas de destruição em massa. A posse de armas nucleares por parte de nações instáveis ou o surgimento de novas tecnologias com potencial de causar destruição em massa representam perigos reais para a humanidade. A utilização irresponsável dessas armas ou seu acesso por regimes ditatoriais ou grupos extremistas pode facilmente resultar em um desastre de proporções apocalípticas.

Ao abordar o tema das ameaças existenciais, é importante fazê-lo com cautela e considerar diferentes pontos de vista. No caso do conflito entre Israel e Hamas, a ideia de que os palestinos representam uma ameaça existencial para Israel é frequentemente utilizada pelo governo de Benjamin Netanyahu como justificativa para ações militares desproporcionais na Faixa de Gaza. Da mesma forma, declarações públicas de funcionários eleitos israelenses sobre o uso de armas nucleares em Gaza podem ser vistas como uma ameaça existencial contra o povo palestino.

A mesma narrativa também é usada pelo governo de Vladimir Putin para embasar a agressão militar e anexação de território ucraniano, utilizando sua enorme superioridade bélica e ameaças de uso de armas nucleares hipersônicas para defender as ambições territoriais da Rússia. Ações que fortalecem o sentimento de que a Rússia representa uma ameaça existencial contra a integridade territorial, o povo ucraniano e uma nação democrática e soberana em seu entorno.

No caso de Israel e Palestina, a disputa territorial remonta ao estabelecimento do Estado de Israel em 1948 e a subsequente expulsão de centenas de milhares de palestinos de suas terras. A questão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e o status de Jerusalém também são pontos de tensão significativos, ambas as partes têm lutado por sua autodeterminação e segurança, o que torna a resolução dessa disputa ainda mais desafiadora.

Enquanto na caso da Rússia e Ucrânia, o contexto histórico inclui séculos de influência russa sobre a Ucrânia e a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, após a Revolução Ucraniana. A questão das minorias étnicas, especialmente os russos na Ucrânia, também desempenha um papel importante nesse conflito. O direito internacional e a soberania territorial são questões em disputa, enquanto ambos os lados afirmam a necessidade de proteger seus cidadãos e garantir a estabilidade regional.

A resolução desses conflitos requer uma compreensão profunda de sua complexidade histórica, política e cultural. Portanto, é fundamental considerar todas as questões envolvidas, como soberania, direitos humanos, segurança e autodeterminação, a fim de buscar uma solução justa e duradoura, em vez de simplesmente rotulá-las como “ameaças existenciais”.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores


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