Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Política

A vitória de Lula


16/11/2022

Em memória de Julio Rafael e Murilo Jardelino

Aquele exato momento de felicidade ninguém mais nos tira, aferrou-se no tempo, pertence agora à história. Uma multidão embevecida de alegria, separada por paredes permeáveis, explodindo em canto por toda parte, como se fosse o próprio júbilo a expulsar do poder o homem atroz….(Julián Fuks, UOL, 05/11/22)

Chegou o grande dia. A vitória eleitoral da sociedade civil contra um projeto de autocracia miliciana e fundamentalista não tem outro nome: lavamos a alma. Esse banho vai ser demorado… (Receita para lavar a alma de Gregório Duvivier)

Meu pai era um homem conservador. Estudou em Escola Militar, mas sempre foi aberto ao diálogo e às opiniões das filhas e ao mundo nosso que se abria. Principalmente o político. Passeatas, anos 60, novos costumes, biquíni asa delta, namorados, e a abertura das Diretas Já, o PT, e os anseios dos novos tempos.

No último dia 30/10, dia do segundo turno das eleições para presidente, votei emocionada, vestida de vermelho, botons antigos de outras eleições e novos, com o carro cheio de adesivos de Lula, e em silêncio. Instinto de sobrevivência, depois de quatro anos de horror. Na fila da votação, um Senhor de verde e amarelo bradava por um mundo de Deus, Pátria e Família para os netos. E eu com meus botões: e eu pelos meus. Sem slogan fascista.

A apuração foi em ritual como de outros anos. Reunidos na minha sala com alguns amigos e familiares. E começou a agonia. Voto a voto, e a angústia impensável de mais quatro anos desse mote fascista, desse candidato que, durante o seu governo não trabalhava e só bradava ao cercadinho, com gestos de arma em punho.

Eu não aceitava outro resultado se não o de Lula. Lula e o seu terceiro mandato. Lula e a terceira via, que só ele, um gigante renascido, seria capaz de unir uma frente ampla e democrática em busca das ruínas de um país detonado e des-mantelado. Portanto, quando, de voto em voto, foi se encaminhando à vitória, nós aqui em casa nos abraçávamos. Mas eu, desconfiada e cabreira, queria o fim da votação para ter uma certeza de tudo. E quando esse tudo apareceu na tela, a festa foi grande. Um grito entalado que, há quatro anos não se podia dar, arriscado a se tomar um tiro, como o levou, Marcelo (Foz de Iguaçu), que celebrava os seus 50 anos com um bolo de Lula açucarado. Ou como Flavinha, filha dos amigos, Cidinha e Carlos Alberto, que foi covardemente agredida em seu carro, por perdedores, em frente ao grupamento de engenharia. Saiu na TV.

A vitória de Lula para mim, chegou na saudade de Juca, o meu companheiro de tantas campanhas outras, e que não está aqui para ser testemunha de momento tão grandioso. Ou da ausência do meu cunhado Murilo, que partiu em setembro, depois de 4 anos de críticas ferrenhas ao governo, e de sonhar com essa vitória. Brindei por eles, e gritei da minha varanda para o mundo ouvir – É Lula!

A vitória de Lula para mim, foram as palavras e choro contido da jornalista Flavia Oliveira, falando do que essa vitória significou frente ao racismo, misoginia, e tanta violência clamada pelo des-governo anterior. A lealdade do povo brasileiro – as mulheres, os negros, os pobres, os nordestinos, os indígenas, a vitória da união da maioria, minorizadas – esculachadas….de ataques de risco, de luto, de empobrecimento, de fome, falou Flavia num choro que foi/é de todos nós. O candidato derrotado fala que perdeu para o sistema! Esquece ele que o sistema é o governo! Você perdeu e a nossa vitória foi gigante, pois lutamos contra uma indústria perversa de Fake News; contra muitas teorias de conspiração sobre a urna eletrônica; contra uma máquina do governo sem precedente, passando a mão na cabeça do povo com medidas eleitoreiras; com a apropriação do sete de setembro e das cores da nossa bandeira e os versos do nosso hino; com manobras maquiavélicas como levar um falso padre para o debate a dizer asneiras em nome de Deus. Aliás, Deus nunca foi tão usado em vão. Com certeza esse não é o Deus Brasileiro, país católico, evangélico, espírita e de matrizes africanas. E um país laico.

Demorou três dias para o candidato derrotado vir a público falar dois minutos numa fala dúbia e atiçar a democracia com o seu silêncio covarde e manipulador. Ou quando apareceu na TV fantasiado de presidente da Ucrânia, dizendo coisas inexpressivas e que não tinha mais a força do mandato para mediar o caos que ele orquestrava nas estradas desse país. Aquele homem grudado num caminhão foi o meme símbolo da desobediência à constituição e suas linhas.

É hora de celebrarmos, comemorarmos com o que temos de mais lindo – o voto vitorioso do povo brasileiro. E a força desse gigante que é Lula. A esperança e a possibilidade de sonhar. Dois minutos após o resultado vitorioso, líderes do mundo inteiro o parabenizavam – um pertencimento ao mundo redondo de novo. Nada de terra plana! Nada de entorpecimento da consciência e/ou desestabilização da ordem social, nada de obscurantismo. Lula desviou o trem do abismo falou o crítico/filósofo, Chico Bosco emocionado. Lula redefine o futuro e nos alenta com a esperança. Eu realmente torço para que essa Frente Ampla Democrática se una, e consiga trazer o nosso país de volta. “Se precisarmos de algum marco temporal que funde essa nova época, sempre teremos a noite inesquecível de domingo, a noite em que a alegria derrotou um tirano e o relegou ao silêncio, e o devolveu à sombra de onde ele nunca deveria ter saído….” (Julián Fuks)

Lula lá. E cá


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