Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A vaia


10/09/2016

Foto: autor desconhecido.

 

“Feliz o país que pode vaiar um presidente”. Esta frase foi pronunciada por Juscelino Kubitschek após receber uma vaia. E ele tinha razão. Vaiar é uma manifestação coletiva de desagrado, insatisfação. A vaia faz nascer a esperança de que os detentores do Poder, que se mostram indiferentes à sorte do povo, possam compreendê-la como uma advertência, uma mensagem de desagrado, um alerta de que o povo está atento.

Ninguém vaia sozinho, porque na individualidade não produz qualquer repercussão. O ato de vaiar é demonstração pública de desaprovação. Claro que não há quem se sinta confortável ao ser “homenageado” com uma vaia. Mas ela é um legítimo direito de discordar, de criticar, repreender. Revela-se espontânea, brotando da alma do povo. Desde que não aconteça com ofensas pessoais, achincalhes, desrespeito a autoridades constituidas, é comportamento próprio do exercício da democracia.

Pode ser também entendida como uma atitude de desforra. Na impossibilidade de utilizar instrumentos mais eficazes para reagir contra determinadas situações de descontentamento, parte-se para os apupos. O sentimento de repúdio através de gritos revela-se uma linguagem coletiva adotada por todas as civilizações, desde os mais remotos tempos. Interessante é que a vaia tem um efeito contagiante, despertando emoções momentâneas sob a influência de uma maioria. A vaia é sintoma de irritação consensual, o jeito de dizer que a tolerância começa a ser extrapolada. É o juízo crítico do povão.

“A vaia é o aplauso dos descontentes”, conforme dizia Nélson Rodrigues. Portanto, por mais constrangedora que seja, a vaia tem um significado importante e que deve ser bem compreendido pelos que são alvo desse tipo de manifestação pública, o recado de que há uma forte insatisfação transmitida nos apupos. Se for alguém bem intencionado vai se valer de tal episódio desagradável adotando-o com lição de vida. Ao invés de desdenhar do acontecimento, aproveitá-lo para fazer uma autocrítica e procurar identificar os motivos que lhe deram causa. Quem sabe, as vaias de hoje possam se transformar em aplausos do futuro.

 

 


 


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