Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A Troca de Guarda na Direita Brasileira


04/07/2025

O então deputado Jair Bolsonaro na votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016 (Foto: Alan Marques/Folhapress)

Durante décadas, assumir-se como de direita no Brasil era algo raro — e, quando acontecia, era feito de forma envergonhada. O termo estava inevitavelmente associado ao autoritarismo do regime militar instaurado em 1964. Esse quadro começou a mudar a partir dos movimentos que ganharam força nos protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016. Grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online emergiram das crises econômica e política, apoiados pela Operação Lava Jato, e deram início a uma profunda transformação na direita brasileira.

Essas organizações, atuando com eficácia principalmente nas redes sociais, passaram a combater ativamente o Partido dos Trabalhadores e as pautas da esquerda. Assim, abriu-se espaço para uma nova configuração ideológica no campo conservador. A direita, antes moderada, adotou um discurso mais agressivo, passando a questionar instituições, desacreditar o sistema eleitoral e estimular ações de viés antidemocrático. A radicalização ganhou força e consolidou uma vertente ultraconservadora, identificada com a extrema-direita.

Essa nova direita não é homogênea. Está dividida por classe social: entre os setores mais ricos, predomina a defesa do liberalismo econômico; já entre os segmentos mais pobres, o foco recai sobre pautas morais e de costumes. Essa fusão de liberalismo econômico com conservadorismo religioso e cultural é um dos traços mais marcantes do novo campo ideológico. O uso de símbolos nacionais, o discurso patriótico e a retórica fundamentalista passaram a compor a identidade dessa corrente política.

Inspirada em modelos internacionais como o de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, essa direita brasileira radical passou a defender abertamente o rompimento com o pacto democrático estabelecido pela Constituição de 1988. Nesse contexto, ganhou espaço o bolsonarismo, fenômeno político que levou Jair Bolsonaro à presidência da República em 2018 e fortaleceu o discurso de ultradireita, impulsionado pela influência de figuras como o ideólogo Olavo de Carvalho.

Mesmo após a derrota nas eleições de 2022, essa direita não desapareceu. Está em processo de reorganização. Embora o bolsonarismo tenha perdido parte do apoio que detinha, especialmente entre setores mais moderados da direita liberal, o campo ultraconservador continua mobilizado, buscando uma nova liderança capaz de retomar sua força eleitoral e discursiva.

O avanço da extrema-direita no Brasil é um fenômeno sem precedentes na história republicana. Por isso, exige atenção constante da sociedade democrática. O cenário político ainda está em disputa, e os próximos passos dessa direita radical definirão, em grande parte, os rumos da política brasileira nos anos que virão.

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