Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A Rua das Trincheiras


30/05/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Durante a minha pré-adolescência percorri muitas vezes, a pé, a Rua das Trincheiras. Lá moravam meus tios João Cunha e Detinha, e costumeiramente meu pai visitá-los e nos levava em sua companhia. Esse era também o caminho quando desejávamos ir ao centro da cidade sem utilizar o bonde ou as marinetes.

Nesse passeio a gente podia constatar o quanto aquela rua foi importante no processo histórico de desenvolvimento da cidade. Os palacetes construídos na época da fase áurea do ciclo do algodão já haviam perdido a sua imponência, muitos deles degradados e abandonados, mas revelam um período em que a elite paraibana decidiu ali fixar suas moradias, edificando casarões que expressam bem a riqueza arquitetônica do “art nouveau”. Até o século XX a rua era habitada por gente simples, como pode se vê pelas fachadas de várias casas conjugadas que ainda existem.

A Rua das Trincheiras recebeu esse nome, segundo os historiadores, em razão de um entrincheiramento que o então governador João de Maia Gomes mandou fazer para proteger a cidade de um possível ataque vindo de Olinda por ocasião da Guerra dos Mascates, no ano de 1710.

Posicionada na parte alta da cidade, o governador Camilo de Holanda, por volta do ano de 1918, construiu a Balaustrada, como segurança dos transeuntes que circulavam à margem do abismo que separava a rua da área baixa da cidade, onde hoje se localiza a antiga fábrica de cimento e a Ilha do Bispo. Ficava imaginando o deleite que os moradores da época desfrutavam ao assistirem o pôr do sol no seu mirante. A visão não era a que temos na atualidade, conforme define bem Jomar Moraes Souto em uma das páginas do seu livro “Intinerário Lírico da Cidade de João Pessoa”: “Da amurada das Trincheiras/hoje não se olha em vão/nem os soldados do Quinze/com as negras do Batalhão./Porque o giz daquela ilha/move-se branco lá em baixo/e dentro do cantochão./Giz e cal dentro da ilha/cimento na embarcação/de uma nuvem de fumaça/solta na formação/dos mastros de uma galera/das burrajonas de então.”

Tenho testemunhado a insistência do prefeito Luciano Cartaxo em convencer o IPHAN a incluir no projeto de revitalização do Centro Histórico, a que está em vias de execução, a restauração dos monumentos localizados na Rua das Trincheiras.

Nesse resgate da memória, não há como esquecer minhas idas e vindas transitando pela Rua das Trincheiras. Voltarei a falar sobre ela, me detendo mais ao seu aspecto urbano do tempo em que por ali fiz muitas caminhadas. •

Integra a série de textos ‘INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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