Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A pregação revolucionária de Dom José Maria Pires


28/08/2017

Foto: autor desconhecido.


A Igreja Católica exerceu papel fundamental na defesa dos direitos humanos na época da ditadura militar. A CNBB – Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros atuou de forma corajosa, enfrentando e levantando a voz em favor dos excluídos e dos perseguidos pelo regime. No Nordeste, três bispos dedicaram suas atividades eclesiásticas  buscando construir uma igreja mais aberta para os pobres: Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Maria Pires, arcebispo da Paraíba, e Dom Fragoso, bispo de Crateús.

Dom José Maria Pires exerceu seu episcopado no período de 1966 a 1994. Portanto, chegou à Paraíba nos primeiros anos da ditadura. Notabilizou-se por sua luta combatendo o latifúndio e o preconceito contra os negros. Por sua cor morena ganhou os apelidos de “Dom Zumbi” ou “Dom Pelé”. Na Paraíba esteve sempre ao lado dos oprimidos, comprometido com as causas sociais, o que o colocava numa posição não muito bem aceita pelos militares no poder.

Na sua mensagem de Páscoa proferida na semana santa de 1968, deu ênfase ao papel da Igreja Católica no processo revolucionário que o mundo vivia naquele ano.
"A Igreja tem de vencer o peso dos séculos e romper estruturas envelhecidas para ser a verdadeira “Igreja de Cristo ressuscitado”, onde não há lugar para os acomodados e os passivos. As grandes lideranças da história universal estão mortas e os ideais que eles defenderam podem ser ainda fonte de inspiração para os seus herdeiros espirituais. Suas sepulturas são hoje monumentos históricos.
Só Cristo é vivo, porque só ele venceu a morte. Só o Cristo é atual, porque introduziu a eternidade no temporal. Só o Cristo ressuscitou verdadeiramente.  Por isso a Igreja para ser a “Igreja do Cristo ressuscitado” tem que se rejuvenescer continuamente. Não tenhamos, pois, receio de dar passos à frente, de abandonar posições adquiridas e mantidas com esforço e altivez. Busquemos outras mais atuais e mais próximas de Cristo. A Igreja deve colocar-se não na retaguarda da sociedade, mas na crista dos acontecimentos e à frente de todos os legítimos movimentos de libertação que empolguem a gente moça.
Nesta reflexão está a minha mensagem de Páscoa. Seja a Páscoa de 1968 esta passagem do temor para a segurança, da acomodação para a luta, do ódio para o amor. Que ela desarme os espíritos, aqueça os corações e faça de todos nós mensageiros daquela esperança que deve tornar-se realidade nos dias da nossa existência”.

Dias depois, em uma palestra no Liceu, Dom José Maria Pires afirmava aos estudantes:
Palavra como “subversão” não deveria ser temida pelo povo, porque é necessário subverter uma ordem estabelecida sob a injustiça, a fome e a exploração, a fim de que se removam os obstáculos que impedem as nações de construir o seu desenvolvimento. A luta dos jovens é uma luta de Deus, porque é uma luta pela libertação dos homens. A Igreja se coloca hoje ao lado de todos que lutam pelo desenvolvimento, sejam católicos, protestantes, ateus, espíritas, comunistas, etc. Somente o desenvolvimento é que dará paz aos povos.

• Do livro “1968 – O GRITO DE UMA GERAÇÃO”. Lançado em 2013.
• Na republicação desse texto presto minha homenagem a esse que foi um líder no verdadeiro sentido da palavra. Como ministro de Deus dedicou-se a defender os pobres e os desvalidos no tempo em que a opressão era uma marca de governo em nosso país. 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.