Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A prática do filhotismo – Por Rui Leitão


16/12/2023

É algo difícil de acreditar, mas a informação foi prestada pelo próprio convidado numa sessão extraordinária da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, por ocasião da sabatina a que estava sendo submetido o ministro Flávio Dino para admissão do seu nome como integrante da Corte Suprema da justiça brasileira. O senador, filho do ex-presidente da República, afirmou, sem qualquer constrangimento, que teria sido sondado pelo pai para ser apresentado como indicado para a vaga deixada pelo ex-ministro Marco Aurélio no Supremo Tribunal Federal. Segundo ele, recusou o convite, e sugeriu que a indicação recaísse na pessoa do “terrivelmente” evangélico André Mendonça, como, de fato, aconteceu.

Se a afirmação não tivesse sido feita publicamente pelo senador Flávio Bolsonaro, teríamos dificuldade em acreditar. Algo que foge ao bom senso. Uma decisão de quem não tem o mínimo conhecimento da importância e da responsabilidade de que se reveste a condição de ministro do STF. Chega a ser ridícula a revelação feita. Seria a completa desmoralização daquela Corte. Aliás, talvez fosse esse mesmo o desejo.

Não surpreende, no entanto, a inclinação do ex-governante do Brasil para a prática do “filhotismo”. Antes ele tentou indicar outro filho para ser embaixador nos Estados Unidos. É o nepotismo exercido na sua forma mais radical. A Presidência da República tratada como se fosse a sua casa. Completa falta de consciência da sua postura em função de políticas de Estado. A inobservância absoluta da tal “meritocracia” tão propagada pela extrema direita. Favorecimento indevido de parentes por agente público. Fico na dúvida se o Senado teria a altivez para rejeitar essa indicação, contando com os votos dos seus fiéis seguidores, que já estão minguando.

“Se eu puder dar filé mignon para meu filho, eu dou, sim”, chegou a afirmar o ex-presidente, tentando justificar a indicação do 03 para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. A história, pelo que tomamos conhecimento agora, se repetiu. Virtudes e competência nunca foram levadas em consideração.


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