Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Paraíba

A POESIA NOSSA DE CADA DIA


29/12/2023

Fazer poesia, como diria Carlos Drummond de Andrade, é coisa séria. Edgar Allan Poe (1845) e Erza Pound (1934) demonstraram a falácia do mito de que a poesia é fruto da inspiração momentânea que acomete os poetas. Posta a nu, vê-se o quanto a criação de um poema é quase sempre demorada e penosa, num interminável processo de revisão. Dedica-se muito trabalho à lapidação de ideias, palavras e sonhos.

Os melhores poemas não fogem à regra. Muitas das suas versões, até sua finalização, passam por incontáveis reelaborações criativas de aperfeiçoamento da inspiração inicial. Aí sim, o trabalho fecundo, pragmático e metódico dá vida ao que antes foram mais impulsos.

Segundo Erza Pound, existem três modalidades de poesia: a Melopéia, que se expressa por palavras impregnadas de sons e ritmos; a Fanopéia, que usa palavras e símbolos para gerar efeitos na imaginação visual, e a Logopéia, que faz a manifestação intelectual verbal sobrepor-se à musicalidade e visualidade para enriquecer a linguagem de sentido.

Nesse processo de criação artística (…) As palavras são usadas para lançar uma imagem visual na imaginação do leitor ou a saturamos de um som ou usamos grupos de palavras para obter esse efeito.

É razoável afirmar que a poesia que nasce para ser sempre viva é composta de Melopéia, Fanopéia e Logopéia. Esse fazer poético relevante é rigoroso. Buscam-se concepções originais, a partir da reinvenção crítica da vida e da linguagem. Cada período histórico da sociedade humana tem os seus aspectos específicos singulares. Aí se encontra o que há de genuinamente novo à procura de poetas inovadores.

Contemporaneamente, o conteúdo poético concentra-se nos sentimos da vida humana no auge da pós-modernidade, e das contradições das forças sociais, econômicas, políticas, científico-tecnológicas e culturais. O ser humano tornou-se densamente angustiado e sofrido, alienado a um contexto impessoal mundial.

Na base da concepção das agruras desse ser humano cada vez mais submetido estão os desencantos e perplexidade do poeta. Daí a razão da indignação do seu canto e lamento, diante de um mundo que, sem medidas, alarga os seus horizontes materiais, mas cobra de cada um de nós altíssima taxa de desumanização.

O conteúdo da poesia é variável, no tempo, em função das especificidades que lhes são determinantes. Algo semelhante ocorre com a forma de versificação do poema. O verso livre rompeu com a padronização silábica e melódica do verso tradicional. O concretismo tornou a poesia mais ideogramática e visual que auditiva, sobretudo com o poema-objeto.

Os caminhos da poesia brasileira foram e estão sendo brilhantemente construídos. Na sua parte mais enaltecida, por Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Adélia Prado, Ferreira Gullar, Haroldo de campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. Mais recentemente, por Frederico Barbosa, Alexei Bueno, Antonio Risério, Glauco Matoso, Cláudio Daniel, Geraldo Carneiro, Hilda Hilst, Francisco Alvim e Antonio Cícero, entre outros.


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