Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A perversidade do negacionismo


07/01/2022

O negacionismo é, em síntese, a opção pela ignorância, quando se coloca em xeque preceitos básicos concebidos pela ciência no mundo. É a prática de montar estratégias para criar dúvidas com interesses políticos, elaborando teorias conspiratórias na procura de explicações para o inexplicável. A tentativa de produzir influência na opinião pública, provocando discussões ideológicas. A teimosa recusa em enxergar a realidade que desagrada, com o objetivo de dar legitimidade aos governantes com posições anticientíficas.

 

Polêmicas retóricas e desnecessárias ganham espaços no debate político. O intuito é diminuir a confiança na ciência. Apoiam-se em argumentos superficiais sem qualquer comprovação, fazendo uso oportunista das mentiras. Tornam-se céticos quanto à serventia da ciência. Não se pode desconhecer que as incertezas se fazem necessárias, até para que a ciência faça novas descobertas. O que não se concebe é fomentar a descrença nos ensinamentos científicos porque não se consegue enfrentar as verdades que se tornam ameaças.

 

O negacionista se comporta de maneira confusa propositadamente. Na ausência da sensatez, procede de forma arrogante e prepotente na afirmação de suas opiniões. Principalmente pela impossibilidade de se mostrar racional, equilibrado emocionalmente para entrar num debate em que sejam apresentadas divergências de seus pontos de vista. É o jogo da intimidação no desejo de inibir as alegações discordantes. Intolerante e preconceituoso, faz uso do mecanismo da negação em proteção da personalidade insegura.

 

O obscurantismo intelectual esforça-se para demolir a ciência no Brasil. De qualquer forma temos assistido uma reação da comunidade científica em relação a essa postura. Pesquisadores e entidades unem-se para combater a praga da desinformação. Estudos científicos são intensificados com a intenção de oferecer conhecimento aos desorientados. Os movimentos anticiência que temos assistido, patrocinados por autoridades constituídas, estimulam uma espécie de ignorância que atenda os interesses dos que proferem seus discursos. Nessa luta do conhecimento contra a incultura, tem que ser vitorioso o lado da ciência, sob pena de sofrermos graves danos sociais.

 

Alguns abraçam a ideologia negacionista por ingenuidade, outros, porém, por pura maldade. Fogem da racionalidade para atuarem em obediência a lógicas emotivas. Tornam-se vulneráveis às manipulações de consciência. Não estão preocupados com a possibilidade de que as mentiras em que passaram a acreditar e propagar, coloquem a vida de outros em risco. O negacionismo é um processo socialmente induzido que pode resultar em violências físicas e emocionais. Evidencia-se forte rejeição às reflexões que possam levar o indivíduo ao exercício do senso crítico. O negacionista costuma agir como se tivesse direitos excepcionais. E, por isso mesmo, não se constrange em violar regras morais e éticas de convivência social. O impressionante é que não se dá conta de que está dando força a projetos de autodestruição, com requintes de perversidade, considerando que sua forma de agir causa malefícios coletivos.

 

Rui Leitão


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