Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A modernização reflexiva


18/11/2023

 

Quando vemos a política desrespeitando todos os parâmetros da decência e da humanidade e permanecemos indiferentes a isso, tornamo-nos cúmplices desse instante um tanto apocalíptico que a nossa Nação experimenta. E assumimos uma crise de identidade. O clima de polarização que tomou conta de nosso país alimenta posicionamentos extremados dos diversos campos de atuação política na sociedade brasileira. Por consequência estamos deixando de refletir sem paixões partidárias ou ideológicas sobre a cena social e política contemporânea do Brasil. E assim perdemos a condição de dar ordem ao caos.

É preciso que compreendamos as disputas em curso e pensemos estratégias que nos permitam vencer os impasses enfrentados no presente. Começando por um processo de estímulo para a renovação do nosso sistema político. Sem descuidar de que a defesa da democracia deverá ser ponto essencial que garanta a pluralização social e identitária, articulando a participação efetiva da juventude e promovendo mudanças na consciência política dos trabalhadores e da classe média. O novo ciclo político que se faz necessário demanda novas formas de organização abrindo oportunidades para a participação nas esferas públicas das chamadas “minorias”.

Nada disso poderá acontecer se não olharmos com atenção para a heterogeneidade dos movimentos reivindicatórios que se inspiram nas agendas progressistas, dialogando com os mais diversos setores da sociedade, procurando reduzir a influência dos que insistem em apresentar propostas mais conservadoras e buscando atender demandas emancipatórias individuais e coletivas. Há uma convicção que não pode ser desprezada: evitarmos, a qualquer custo, que agentes políticos continuem conspirando no sentido de solapar o processo de democratização das estruturas de poder. Permaneçamos firmes na disposição de construirmos um Estado democrático de bem-estar social.

Quando falo em evitar as teses de conservadorismo radical, não estou produzindo conceitos de destradicionalização. Nenhuma sociedade pode prescindir de suas tradições. Elas são formadoras da cultura de um povo. A modernização não significa abandonar os aspectos da vida social cotidiana originada de legados transmitidos por gerações que nos antecederam. Porém, ela tem que ser desenvolvida de forma reflexiva. Onde o Estado não atue através de decisões autoritárias, mas se configure um Estado de negociação, mediando conflitos nas relações sociais com o objetivo de encontrar entendimentos consensuais, valorizando a crítica ativa racional. A visão de mundo analítica e científica, fugindo do negacionismo, favorece a efetivação do processo de modernização reflexiva realizado necessariamente num diálogo construtivo.

Rui Leitão


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