Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A mídia lavajatista sobrevive


06/04/2024

(Foto: Rodolfo Buhrer/ Reuters)

Ainda que sejam muitas as provas de que a Lava Jato era, na verdade, um projeto de poder político, alguns integrantes da imprensa brasileira se mantêm firmes na defesa dos procedimentos adotados pela operação coordenada pelo ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Dallagnol. Até porque continuam apostando nesse esforço de estabelecer uma estrutura política alinhada à ideologia da extrema direita.

Em princípio era fácil observar que a Lava Jato tinha exclusivamente o propósito de fazer política partidária e ideológica, abrindo portas para Moro e Dallagnol disputarem pleitos eleitorais, como de fato aconteceu quando ambos renunciaram suas funções do campo da justiça.Foram eleitos com apoio da grande mídia. Um para o Senado e o outro para a Câmara Federal. O ex-procurador se manteve por menos de um ano como parlamentar, tendo sido cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE, por unanimidade. O ex-juiz está às vésperas de igualmente sofrer a cassação do mandato de senador.

Porém, o temor maior do ex-juiz na atualidade, deixou de ser a sua cassação. Agora tem algo muito mais forte tirando seu sono. A Corregedoria Geral da Justiça, após correição realizada na 13ª. Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba (PR), ao concluir análise dos processos inspecionados, encontrou uma gestão caótica no controle de recursos financeiros provenientes de acordos de colaboração e de leniência firmados com o Ministério Público Federal e homologados por aquele juízo.

Em seu relatório o corregedor registra que: “as autorizações concedidas entre 2015 e 2019 foram dadas ao ímpeto de efetuar a execução imediata dos termos estabelecidos nos acordos firmados pela força-tarefa, o que terminava por consolidar verdadeira dispensa do devido processo legal”. Pontuou ainda que: “os valores teriam sido transferidos antes do trânsito em julgado de parte das ações penais, em um processo instaurado de ofício que não incluiu a participação de réus e investigados”.

É importante considerar que o ex-juiz Moro, ao deixar a magistratura para ocupar o cargo de Ministro da Justiça do governo passado, já respondia por cerca de 20 procedimentos administrativos no CNJ. Assim, buscou se livrar de eventuais punições administrativas e disciplinares. Há um provérbio popular que diz: “o mau do esperto é pensar que todo mundo é besta”. As investigações não sofreram qualquer ação de descontinuidade. A pretexto de combater a corrupção, não é permitido que se corrompa um sistema de justiça.

O Relatório do CNJ demonstra graves indícios de violações praticadas no âmbito da operação e o corregedor pediu pauta para julgamento. Sérgio Moro tem um Luís atormentando sua vida. Não é Lula, o presidente. E sim, o corregedor geral da justiça, Luís Felipe Salomão que sinalizou pedir abertura de processo criminal pelas práticas delituosas evidenciadas no Relatório. A cassação seria uma punição menor, em relação ao que pode vir desse julgamento a ser realizado. Talvez seja por isso que o ex-juiz se dispôs a procurar o Ministro Gilmar Mendes, do STF, em busca de ajuda. Se deu mal. Experimentou uma vergonhosa humilhação.

Tudo isso faz com que a gente se lembre do que disse o presidente Lula, quando prestava depoimento ao ex-juiz, ainda quando estava preso: “Doutor, eu espero que essa nação nunca abdique de acreditar na Justiça. Esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais que eu serei absolvido, prepare-se, porque os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes”. A declaração profética de Lula só errou numa coisa: ainda existe gente como Merval Pereira e alguns outros companheiros da imprensa, que insistem no apoio ao ex-magistrado. Fazem parte da mídia lavajatista que sobrevive, atuando em poderosos veículos de comunicação. Ela permanece na luta pelo poder, pelo sucesso e por dinheiro, mesmo que ao arrepio da lei.


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