Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A memorável campanha de Pedro Gondim


25/04/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Os anos de 1959 e 1960 foram marcados na Paraíba por uma grande efervescência política. Nascia um movimento originado nas camadas populares em torno do nome de Pedro Gondim ao governo do Estado. Vice-governador assumiu interinamente o governo durante o afastamento, por motivo de saúde, do então governador Flávio Ribeiro Coutinho. Sentiu-se na obrigação de renunciar ao mandato para disputar a eleição que o povo exigia nas ruas.

Eu estava na faixa dos dez anos de idade, mas já contaminado pelo entusiasmo político de meu pai. Foi, ao tempo em que ocorria um dos mais empolgantes acontecimentos da história política paraibana, um período de muita apreensão e intranquilidade para a nossa família. Meu pai, não só por admiração, mas também por uma questão de gratidão, desfraldou com determinação a bandeira da campanha. E Isso lhe valeu sofrer pressões de toda ordem para aderir à candidatura oficial.

Sendo um dos convencionais com direito a voto, representando Cajazeiras, no Partido Socialista, foi insistentemente coagido a se posicionar contra o apoio da legenda à postulação de Pedro Gondim. Manteve-se firme na sua decisão, não obstante as ameaças recebidas. Portou-se com a dignidade que sempre norteou sua conduta em todas as situações que a vida lhe impôs viver. Encontraram uma saída salomônica para atender a necessidade política dos que estavam no governo, cassaram a sua condição de votante na convenção.

Participei com ele de inesquecíveis comícios. As concentrações públicas na época eram uma festa. Não havia atrações artísticas. O povo ia para ouvir seus líderes. E não faltavam grandes oradores. O próprio candidato, Vital do Rego, Sílvio Porto, João Agripino, Sindulfo Santiago, Raimundo Asfora, faziam o público vibrar com seus discursos. E os comícios iam até o amanhecer do dia, sem que ninguém arredasse pé da praça pública.

O povo contribuía, em urnas colocadas no Ponto de Cem Réis, com apoio financeiro para custear a campanha. Reagindo à força do governo, a manifestação popular cunhou o jargão: “Está com medo? Não. Estou com Pedro”. Era a demonstração clara de que, quando o povo quer, não há quem possa ir contra a sua vontade. E o povo venceu.

Valho-me da extraordinária capacidade de memória de Durvaldo Varandas Filho, que por muito tempo assinou coluna social em dos jornais da cidade, para reproduzir um trecho do discurso de posse de Pedro Gondim, no dia 31 de janeiro de 1961: “Espero pela graça de Deus e na confiança do povo paraibano, que o meu governo pela paz, pela harmonia e pelo trabalho, se constitua no encanto dos que me acompanharam e no profundo arrependimento dos que me combateram”.

Foi minha primeira lição na política. A postura de fidelidade à sua consciência que corajosamente meu pai defendeu e a decisão popular de se insurgir contra o poder de mando dos governantes de plantão. A posição de meu pai me servindo de orgulho e de exemplo e a opção do povo paraibano pela independência da escolha do seu governador, me orientando no entendimento de que, quaisquer que sejam as circunstâncias, nunca devemos nos curvar ao império do mandonismo e da perseguição, quando na tentativa de violar nosso direito do livre pensar e agir.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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