Sociedade
A mãe solo
12/05/2024
No momento em que se comemora a maternidade, peço licença para homenagear aquela mãe em particular que leva a vida tocando todos os instrumentos com rara maestria e desempenho. São elas que me fazem acreditar num mundo melhor, apesar de injusto. E que não podem desafinar nunca à frente de uma orquestra imaginária que toca nas quatro estações como Vivaldi.De uma certa maneira, eu também fui criado por uma mãe solo, que ao enviuvar aos trinta e cinco anos, teve de aprender a recomeçar, assumindo o cargo de postalista nos Correios para sustentar os quatro filhos que a vida lhe presenteara.
Com ela, aprendi a superar diversidades e a admirar a mulher. Toda ela. E de um jeito todo especial, a que chamam de mãe solo, porque não tem um parceiro para compor as canções de ninar. Apesar de ser ela própria insone e estar sempre alerta para o imponderável e imprevisível. E que também está sempre fazendo contas que não fecham e batendo em portas que não abrem.
Num contexto mais amplo é a reencarnação de Nossa Senhora, no que ela tem de amor absoluto e de devoção aos seus. A mulher que não desiste nunca e que deixa de comer para não faltar o pão na mesa do filho. Minha mãe tinha uma frase para isso. Ela dizia que depois que filho vi, nunca mais barriga enchi. E precavida como era, enfrentava os períodos de crise econômica do país, estocando comida na despensa da casa. Certamente, emotiva como era, estaria vertendo lágrimas nos dias de hoje com o surgimento de uma nova mãe solo, ainda mais sofrida, que são as mulheres náufragas do Rio Grande do Sul.
Mães sem homens, de filhos quase sempre sem sobrenomes que não tem nem mesmo o sol que a todos cobrem e que distribuem o calor.
Mas, que com tudo isso acreditam que dias melhores virão. Que o sol há de brilhar mais uma vez. E que ainda terão forças para aquecer sua cria com o calor que emana do seu próprio corpo e com a força que vem de sua alma. Quisera eu ter toda a riqueza do mundo para repartir o pão e o peixe com essas mães solo, assim como fez o criador com o seu povo, e ser o pastor, não o que pede dinheiro nos templos, mas o que divide comida e esperança para mães e filhos.
Essa é a crença da misericórdia e o caminho para o perdão. A dor e o sofrimento estão em toda parte. Onde tem chuva em demasia e onde não chove nada. Onde tem tirania e onde são todos iguais. Sinto falta da minha mãe, mas sei que ela cumpriu a sua missão aqui na terra. Acredito também que ela está no céu, porque é o lugar de todas as mães. E sempre rezo por ela, com a certeza que ela reza por mim e meus irmãos.
De certa forma, isso me conforta e me faz melhor como ser humano. Na verdade, o que eu quero mesmo é que ela sinta orgulho do filho que criou sozinha, sem pai, por um capricho do destino. Viva, portanto, essa mãe solo que me toca o coração. Viva Daniele, Karla, Tereza e tantas outras que nem sei o nome, mas que merecem toda a minha admiração e respeito. Sou fã dessa solista incansável que toca todos os instrumentos em todos os tons e são sempre canções de amor. Feliz Dia das Mães para todas elas.
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