Geral
A Lenda
22/12/2015
Foto: autor desconhecido.
Terezinha Peixoto (Da série – “Poesia numa Idade Dessas?”) João Pessoa, 1996
Dizem que ainda hoje,
Quem passar pela velha Lagoa
De palmeiras moribundas rodeada
E de paus d´arcos também
(só que estes, de tão revoltados
Com o descaso e a poluição,
Já nem flores tem…),
Certamente ouvirá murmúrios…)
É só se mostrar atento
E abrir o coração…
Vozes que de tão juvenis
São difíceis de entender….
Diz a lenda que um poeta, caboclo mestiço, albino, jagunço,
Cangaceiro ou marquês,
Tirador de caranguejo,
Sei lá….talvez,
E uma jovem semilouca
Ali se encontravam
Nas longas tardes de maio.
Enquanto o mundo dormitava esperando a Ave-Maria,
Falavam de amor mas não trocavam juras:
Filosofavam….
Enquanto ele seriamente lia
Livros complicados
Como “O Eurico”, “O Presbítero” e a “Ceia dos Cardeais”,
Ela, meio louca, meio ingênua (ainda , por enquanto)
Qual verde fruto que não desabrochou…
Fazia que entendia só para agradá-lo
(talvez por amor)
E não se sentir menor…
Ao canto estridente das cigarras,
Que sofriam de insônia e fora de hora cantavam,
Misturavam-se boleros e canções
Que de uma vitrola, ao longe,
O vento trazia.
Ou uma mensagem do ângelus
Ao som da Ave-Maria….
Schubert ou Gounod? não sei….
Se você quiser tentar…
Vá lá.
Procure nos bambus envelhecidos,
No reflexo das águas, agora sujas,
Da Lagoa (se for noite de lua).
E, se , com sorte,
Espreitar algum duende, fogo fátuo, gnomo…
Correndo amedrontados,
Pode ter certeza:
São Eles, sim (os namorados: o poeta e a donzela ingênua),
Que ainda vagueiam por lá…
João Pessoa, 21 de dezembro,2015
Obs. E com essa poesia da minha mãe, eu desejo aos leitores um Feliz Natal e um 2016 cheio de amor e um mundo mais justo! Ana Adelaide Peixoto
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