Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A jovem direita brasileira


06/11/2017

Foto: autor desconhecido.


Os jovens, por natureza, são contestadores. E, por isso mesmo, sempre se postaram como questionadores do pensamento político dos donos do poder. É o espírito de rebeldia que instiga, entusiasma, encoraja a juventude a se manifestar contra o “status quo”.


Encontro nessa constatação o motivo maior do nascimento da nova direita no Brasil. Uma geração que nasceu quando o país experimentava grandes conquistas democráticas, após um período de ditadura militar (quando pensar era proibido), teve a sua consciência crítica formada num momento em que estavam no poder aqueles que lutaram pela democracia e pela justiça social. Esperava-se, no entanto, que esses ideais revolucionários das gerações que lhes antecederam, fossem colocados em ação sem serem contaminados pela corrupção e pelas práticas antigas da cultura política brasileira. A percepção de que a esperança, embora atendida por transformações importantes na sociedade, se desfez quando verificados equívocos de postura política que prejudicavam os conceitos ideológicos que sempre defenderam. Daí, surgiu a juventude antiesquerdista, ou antipetista. Nasceu a nova direita entre os jovens brasileiros.


Estimulados pela grande mídia e por setores interessados em conquistar uma militância jovem de direita, muitos não se envergonham mais em assumir convicções ideológicas conservadoras ou neoliberais. A chegada do PT ao poder acirrou então a politização ideológica do Brasil. O discurso da defesa do liberalismo econômico, em contraponto aos ideais socialistas que defendem um compartilhamento igualitário da população dos avanços econômicos e sociais, se mostra cada vez mais presente na internet e nos fóruns de debate da juventude brasileira. O jovem de direita saiu do armário.


Eles ocupam os mais diversos meios de comunicação para colocarem em xeque os dogmas do socialismo, fustigarem os esquerdistas, exaltarem o neoconservadorismo. O viés reacionário da direita jovem já não se coloca como algo reprovável, como em tempos passados. Eles se proclamam militantes de uma causa anticomunista. Detestam a cor vermelha, mesmo que não saibam necessariamente, as razões pelas quais expõem seus argumentos. Porque não são deles. São fundamentos construídos para serem repetidos de forma a estabelecer uma convicção renovadora de ativismo político.


Cada pessoa tem a sua forma de ver o mundo. E é, exatamente isso, que estabelece a importância do diálogo, da formação do senso crítico. O perigo está no emocional, no modismo, na recepção de influências perniciosas que têm somente a intenção de usar indivíduos como massa de manobra para alcançarem interesses que não são os da coletividade.


Os jovens de direita no Brasil de hoje, se utilizam da visibilidade das redes sociais para pregarem discursos que eles próprios desconhecem o seu conteúdo. Mas o fazem movidos por um sentimento de reação inconformada com erros protagonizados pelos que até pouco tempo estavam no poder e não souberam honrar seu idealismo socialista, porquanto manchados pela nódoa enojadora da corrupção, que continua, mas desconsiderada pela paixão política momentânea. Corruptos, na visão deles, são só os que foram afastados do poder. Entendem que o mal maior foi cortado quando expurgados os socialistas.


O grande risco é levantar uma crença nessas jovens mentes de que basta romper com o ideário socialista, demonizando esse campo ideológico por questões meramente circunstanciais de má aplicação dos seus conceitos. E começar a recusar as políticas públicas que efetivamente defendam a igualdade social.


Ainda bem que essa não é, ainda, a postura majoritária da juventude brasileira. Mas estão conquistando aliados.

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