Walter Santos

Multimídia e Analista Político.

Cultura

A despedida de Carlos Aranha, personagem de força intelectual, grande produtor cultural e polêmico nas posições políticas


12/11/2024

Houve um tempo em João Pessoa, no final dos anos 70, 80 e até início dos 90, que não se produzia shows da MPB que não fosse pela Jaguaribe Produções, do produtor cultural de nome Carlos Antônio Aranha de Macedo. Do Teatro Santa Rosa ao ginásio do Clube Ástrea, invenção dele, os grandes shows dos maiores artistas sempre passavam por Aranha.

Mas esse é só um flagrante da trajetória de um ativista cultural relevante, que ousou enveredar pela música mas, de fato só veio a se encontrar na produção e no jornalismo cultural com sua coluna “Essas Coisas” até chegar à presidência da API (Associação Paraibana de Imprensa) com seu manifesto underground “A idéia é outra” ao estilo Tropicalista de Caetano e Gil.

Aranha, contudo, vez em quando se deixava flagrar em contradições como à época brizolista apoiar e defender as “Diretas Já” no início dos anos 80 e ao mesmo tempo ser o braço forte do Braguismo com Raimundo Nonato Batista, no projeto Araponga e as políticas culturais da época. Aliás, antes esteve no governo Ernani Satyro na Rádio Tabajara e ultimamente, dizia-se, gerava diálogos com o bolsonarismo – a antítese de sua formação ideológica inicial.

ESSÊNCIA TROPICALISTA

Carlos Aranha na essência era exímio formulador de ideias e conceitos devorando informações políticas e culturais com habilidade de poucos para traduzir tudo isso ao longo de sua coluna requintada e sem igual na análise cultural de nome “Essas Coisas”.

Por força de sua ousadia era figura muito próxima de Belchior, Gil, Alceu Valença, Gonzaguinha, Xangai, etc, com quem dialogava em nível especial por todo o tempo.

DESCUIDO INJUSTO

Mesmo com a dimensão intelectual reconhecida, produção intelectual intensa sob efeitos de seus amores eruptivos, Carlos Aranha não cuidou bem de sua fase da velhice posto que, conforme documento existente na APL, sua aposentadoria mal dava para o sustento.

Aliás, este é um cenário infelizmente comum em muita gente genial da Cultura e do Jornalismo acumulando dramas e/ou problemas pelo descuido na preparação de meios e condições de auto sustentação na fase derradeira da vida.

Por essas e outras, a Lei Canhoto da Paraíba precisa ser ampliada e até ter a versão municipal da Lei Livardo Alves antes que parte de nossa Gente morra de fome desamparada.

LEGADO INCOMUM

Muita gente pode até não assumir, mas é impossível ignorar a influência de Carlos Aranha ao longo da vida, quer como artista, jornalista, produtor, interlocutor com gente do poder, intelectuais dos vários ramos por sua força intelectual reconhecida.

Agora, é se despedir dolorosamente do Cal Tropical – “Bicho, Bicho”- a fazer tanta falta.

VELÓRIO

Desde ontem, segunda-feira, que a Academia Paraibana de Letras abriga o velório de Carlos Aranha até às 10 horas desta terça-feira para seu sepultamento no túmulo da APL, que será inaugurado exatamente por ele.

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