Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A decência, a ciência e a democracia


21/08/2020

 

O discurso pronunciado pelo agora oficialmente candidato dos democratas à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, na convenção realizada ontem, me deu esperanças de que poderemos apostar na construção de um mundo melhor no amanhã. Ah se todas as lideranças políticas pautassem suas atuações na perspectiva de comandar nações, a partir das afirmações dele quando disse que seu mandato será definido em respeito a três premissas: decência, ciência e democracia. Que o seu falar tenha ressonância por todo o planeta, repercutindo como uma reprimenda aos que desprezam esses postulados no exercício de suas responsabilidades enquanto gestores públicos.

A decência é condição “sine qua non” para que alguém se afirme como um líder que se porta com ética, merecendo o respeito de seus admiradores ou comandados. Caráter e decência são marcas inseparáveis da personalidade, conferindo dignidade aos homens públicos que podem ser apontados como exemplos a serem seguidos. Padrões morais determinam comportamentos que conduzem à observância da probidade, do decoro e da responsabilidade. Quem não admite a decência como prioridade no seu agir na sociedade, se coloca sob o domínio da insensatez, da falta de comedimento e do desequilíbrio mental. O homem decente é moldado na obediência aos princípios da honestidade, não permitindo nunca ser assediado pelas tentações da corrupção e da egolatria.

Não há como esperar bom desempenho de gestão das pessoas que desprezam a ciência na formulação dos projetos em favor do bem comum. Como ignorar a grande influência que ela exerce na nossa vida cotidiana? O desenvolvimento econômico e social de qualquer nação não pode prescindir do conhecimento, dos ensinamentos que a ciência nos transmite produzindo avanços na tecnologia e nos capacitando para ações de inovação. Quando o negacionismo chega ao poder, estimulando um clima de ceticismo generalizado, cria um ambiente de desconfiança na política séria e responsável. Desconhecer que a ciência existe para beneficiar a sociedade é fomentar posturas extremistas que geram teorias de conspiração e instalação oportunista da propagação das mentiras. O governante que trabalha no sentido de promover uma desconexão entre a ciência e a sociedade, objetiva operar efeitos deletérios na confiança coletiva, para atendimento de interesses escusos.

Ao falarmos em democracia, registramos a necessidade do diálogo, das negociações e da participação popular, para a concretização de ideais voltados para o bem coletivo. Um governo democrático não abre mão do seu compromisso com as demandas do povo. E o faz orientado por direitos e deveres, mas, sobretudo, incentivando o protagonismo das pessoas na sociedade. O propósito da igualdade e da liberdade se põe como determinante para o exercício pleno de cidadania de um povo. A luta democrática deve ser permanente, jamais encarada como uma ação eventual. A democracia deve existir para todos e não para alguns privilegiados.

O pronunciamento de Joe Biden foi um oportuno recado para o mundo, especialmente para os vocacionados para o totalitarismo, líderes populistas que pensam em si próprios ao se julgarem predestinados e donos dos destinos da coletividade. Ele nos induz a reflexões sobre a construção do mundo que desejamos para o amanhã. Impossível pensar em transformações sem que tenhamos a consciência de que o futuro precisa ser edificado na observância desses três caminhos a serem percorridos: o da decência no agir, o do respeito ao que nos ensina a ciência e a preservação e fortalecimento dos conceitos da democracia, garantindo a liberdade e a igualdade social. Tomara que por aqui, no Brasil, os políticos contemporâneos tenham oferecido seus ouvidos ao discurso de Joe Biden.

 


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