Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

A crise política brasileira


27/04/2015

Foto: autor desconhecido.

A política do país enfrenta um descrédito generalizado. Há uma crescente indignação com a ineficiência e os padrões morais e éticos do sistema político-eleitoral e dos poderes executivo, legislativo e judiciário. A população clama por representantes e instituições realmente comprometidos com os interesses sociais e coletivos.

O povo está indo às ruas contra o governo, a corrupção, as péssimas condições de vida e exige reformas políticas radicais. A presidente Dilma, com apenas 100 dias de mandato, enfrenta uma altíssima desaprovação. Os presidentes da Câmara e do Senado passaram a exercer atribuições que deveriam ser comandadas pelo poder executivo.

Essa confusa realidade política é incompatível com a boa condução dos inadiáveis ajustamentos fiscais e monetários da economia nacional. O governo não tem uma base político-partidária confiável, daí as dificuldades para aprovar no Congresso as suas propostas de reorganização econômica do país.

Os partidos de oposição, na luta pelo poder, querem destituir a presidente da República eleita com mais de 54 milhões de votos. O povo nas ruas prega o “fora Dilma”, mas não em favor de qualquer partido político. Essa matéria é complexa e requer muito cuidado, para que a emenda não seja pior que o soneto.

Interromper um mandato presidencial é coisa séria. No presente caso brasileiro, não há fato que justifique isso legalmente. O Impeachment é uma espécie de remédio democrático extremo que não pode estar a serviço de quem não assimilou derrotas eleitorais. Se há um Estado de direito, fora dele, a destituição da presidente é golpe.

A crise política de 1992 foi muito diferente. Os movimentos sociais tinham como foco a corrupção instalada na Presidência da República. As OAB, ABI, UNE e CUT encontraram base legal e subscreveram o pedido de impeachment do presidente Collor de Mello, que foi aprovado pelo Congresso nacional.

No governo Collor, o Brasil se encontrava no auge de um profundo desastre econômico. A inflação de mais de 1.000% ao ano confiscava e erodia as rendas dos mais pobres. A economia enfrentava três anos de recessão, sem crédito externo e em precárias condições fiscais. Havia fortes motivos para a evidente convulsão social

O desgaste político da presidente Dilma e todo o poder executivo federal é muito grande. Isso prejudica o seu desempenho e cria entraves adicionais para resolver os problemas do país que, em condições normais, já seria difícil. No Brasil, nunca se viu o capital político de um novo governo se acabar tão rápido como o do atual.

A reconstrução política do governo Dilma não será fácil. Contar com a oposição, nem pensar! Os partidos aliados, inclusive o do vice-presidente do país, não são solidários. Nem mesmo o PT faz uma convincente e fundamenta defesa das ações governamentais. Além disso, lidar com o atroz jogo político não é o forte da presidente.


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