Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

A crise do fim de um mundo


27/01/2017

Foto: autor desconhecido.

As consequências danosas da grande crise econômico-financeira mundial de 2008 continuam. Os seus efeitos atuais na vida política dos países desenvolvidos são assustadores. Há aí uma agressiva ascensão do populismo-nacionalista de extrema-direita. O pior é que grande parte das populações locais acredita nessa via de solução.

As evidências desse retrocesso são muito fortes. Donald Trump é o presidente dos EUA. A vitória do Brexit impôs a saída do Reino Unido da União Européia sob o nacionalismo xenófobo da nova primeira-ministra Theresa May. Essa linha da ultradireita tem chances reais de chegar ao poder na França, liderada por Marine Le Pen, na Itália, por Matteo Salvini, e na Alemanha por Frauke Petry.

A força dessa direita antiliberal vem da retórica que atribui à globalização o insucesso econômico, desemprego, queda dos salários e perda de bem-estar, no plano nacional. Pretende-se fulminar o êxito dos avanços da globalização que proporcionou um crescimento muito maior das economias emergentes em relação às desenvolvidas.

Como negar que isso é fruto de uma nova fase de internacionalização do capital, agora absolutamente sem pátria, na busca de melhores lucros? Houve uma imensa migração de capital e atividades produtivas das economias avançadas para as emergentes, com evidentes desvantagens às primeiras, mas à luz da lógica empresarial.

Essa nova ordem capitalista mundial erodiu a capacidade competitiva dos países desenvolvidos, principalmente da Europa e os EUA. As suas economias, mesmo estimuladas por altos níveis de despesas governamentais, dívidas públicas em torno de 100% do PIB e taxas anuais de juros e inflação abaixo de 2%, não crescem no ritmo compatível com as aspirações sociais.

Nos últimos dezesseis anos, as taxas médias anuais de crescimento das economias em desenvolvimento foram de 6,8%, de 2001 a 2007, e 5,5% de 2008 a 2016, e as das desenvolvidas 2,3% e 1,1%. Esses resultados foram benéficos aos capitais empresariais em crise, mas trouxeram profundas alterações na distribuição do poder econômico mundial não assimiladas pelos países ricos.

As implicações dessa reestruturação geoeconômica em curso demonstram que a economia mundial continua distante da recuperação sustentável. É difícil saber o seu futuro de médio a longo prazo. É razoável afirmar que prosseguirá cambaleante e em baixa, em 2017. Isso tem muito a ver com as ebulições político-ideológicas dos governos dos EUA e países europeus.

Os países líderes do capitalismo não estão sabendo acomodar os efeitos dos avanços da globalização econômico-financeira liberal que tanto estimularam. Os empresários não têm o que comemorar, com seus negócios mergulhados no risco e incerteza, nem os trabalhadores com o desemprego e salários indignos. Os governos, altamente endividados e deficitários, pouco podem fazer como promotores de solução.

O capitalismo como um todo se encontra em transe e sem boas perspectivas futuras, quer seja na versão neoliberal ou da intervenção estatal. O novo capitalismo que se faz necessário ainda não saiu das entranhas do atual. Mas as condições básicas para tanto estão dadas no processo de globalização produtiva e econômico-finaneira.
 

rspolari@uol.com.br


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