Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A conflagração


29/03/2016

Foto: autor desconhecido.

 

O pesadelo de uma iminente conflagração nacional tem feito com que muitos brasileiros estejam perdendo noites de sono nos últimos dias. Assusta-nos as conseqüências desse acirramento que domina o cenário político em nosso país. A animosidade das ruas vem sendo insuflada de forma acelerada. Já não se vê nos debates as posições argumentativas e sim o confronto de interesses. Deixaram de existir os diálogos, dando lugar a confrontos, altercações verbais e virtuais.

Fica cada vez mais distante sonharmos com uma solução pacífica e legalista. Os conflitos estão nos levando a uma instabilidade institucional muito perigosa. E o que é mais assustador é a percepção de que irresponsavelmente não se verifica preocupação com o futuro. O que prepondera, a essa altura, é o desejo de tornar-se vencedor na contenda, seja a que custo for.

A democracia conquistada com muito sacrifício, após um tenebroso período de ditadura militar, está ameaçada por essa beligerante disputa pelo poder. O Estado de Direito vem sendo atacado em nome de um processo de combate à corrupção. Chega a até ser risível, se não fosse trágico, observar que a luta contra os desvios éticos, vem sendo feita no cometimento de ilegalidades e desrespeito à ordem constitucional, na observância do preceito maquiavélico de que “os fins justificam os meios”.

Motivações políticas têm submetido o governo a uma paralisia administrativa, o que agrava a crise econômica, com reflexos na inflação, no desemprego, e, por conseguinte, na insatisfação popular. Talvez seja uma estratégia, mas, convenhamos, é um ardil suicida. Acende a chama da conflagração e ninguém há de ganhar com isso, todos sairemos perdedores.

Esse ambiente de ódio e intolerância é combustão para a conflagração. Não se pode transformar justiça em justiçamento. Atores políticos, agindo na condição de representantes do povo, prestam um desserviço à construção das cidadanias, quando violam garantias constitucionais, a pretexto de que estão querendo combater a corrupção. Muitos dos que assim atuam, não podem jogar pedras no vizinho, porque têm vidraças de vidro. Na verdade, estão despertando os fantasmas da ditadura que vivenciamos nas décadas de sessenta e setenta.

Resta-nos rogar a Deus que derrame sobre todos nós brasileiros as bênçãos que façam reavivar o espírito da serenidade e do patriotismo, de forma a que não sejamos protagonistas de uma conflagração nacional.
 


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