Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

A Bela. Da Tarde!


08/09/2015

Foto: autor desconhecido.

Eu me lembro com saudade
O tempo que passou
O tempo passa tão depressa
Mas em mim deixou
Jovens tardes de domingo

(cantarolando Roberto Carlos)

Fui caminhar nessa tarde de domingo feriadão. A Praia cheia de gente. Gosto do horário das 16.30 pois tem uma luz inconfundível. Brilhante. Nem é mais tarde, nem chegou ainda o lusco-fusco! E praia, solzinho frio, mar já com ondinhas calmas, e coqueiros balançando, e o céu fúcsia, só mesmo um algodão doce, rosa, para me querer plasmar o instante.

E nesses momentos de silêncio e movimento, a gente pensa na vida. Sem pressa. E pensa na infância. E aí vê meninos brincando na beira mar. De castelo. De casinha. Enquanto os adultos sentados conversam, uma garrafa térmica (com café?), uma gargalhada solta ao vento, uma foto. E o pensamento passeia . Chega na praia do poço, nessa mesma sintonia. À tardinha, a praia meio deserta, pouca gente a olhar o mar. Diferente de agora. Todos querem o mar. Não necessariamente para olhar. Lembro do dramaturgo Eugene O`Neill e da sua longa jornada. Gostava do mar. Do verbo- Longing. It´s a long long long Road! Caetano!

Se sigo viagem. Digo caminhada. O perfume dos jasmim do jardim de Fátima Carneiro e Marcos Souto me chamam: Vermelho, rosa e branco! Vejo pessoas gordas e disformes, magras e malhadas, molhadas, a passeio, tagarelando , balburdia, burburinho, o som alto das barracas contrasta com à vista linda dos barcos na altura do antigo Elite Bar. O juízo fez um alarde! A boate! Meus Saturday nights fevers! Como gostava de boate! De dançar no escuro da luz negra. Me embriagar! Não tanto de bebida. Naqueles tempos tomar Rum Montilla e via tudo rodar. Hoje sorvete de pinha e mangaba – vejo a Friberg! Turistas de todos os cantos. E confesso que me espantei com uma mulher da bunda grande e com um short de malha branco que deixava suas carnes grandes à mostra. Quanta naturalidade com seu corpo! Diria até que meio vulgar. Mas o seu poder era tanto no remelexo que, porque não? Chega de patrulha! E cuide-se quem quiser!

O mercado de peixes é o lugar mais bonito dessa praia, fronteira de Manaíra com Tambaú, mas a arquitetura não ajuda. Quem já se viu um mercado de peixes de mármore caixote? E o cheiro forte de peixe podre e maresia também não ajuda. Mas o som da banda das homenagens do Sete de setembro na PBtur me desviaram do olfato para à visão. Marchei! E me lembrei do Lyceu de Tambiá , que marchava exuberante puxando o pelotão de rapazes e moças. Ia lá na frente com meu passo de vaidade e juventude. Rodeava a praça, as ruas, quem sabe minha mãe corria para ver, entreolhava a turma do Pio X, das Lourdinas, e nós lá de farda marchando, todos cheios de orgulho da Pátria, na verdade nem estava ciente assim desse sentimento, mas dos rapazes , si si!

Essas lembranças do Lyceu quase me esqueço que estou caminhando na praia! Já queria ficar ali, nos bancos da Av. Getúlio Vargas, com o relógio parado, e os beijos sem fim. Mas de volta aos coqueiros, prossigo. E o cheiro das barracas de Tambaú é de óleo frito muito. Peixe engordurado. Um som de mau gosto. Uma bebedeira sem fim. Aquela senhora mancando segue. Aquela outra com bengala , tão devagarzinho e persistente. Vejo que faz uso desse hábito. E aquele fortão passou correndo com seus músculos à mostra. Academia! Bomba! E as moças? Ah! Quanta moça ao léu! Passeando em frenesi. A juventude em polvorosa. Olho na Cachaçaria – me deu vontade foi de tomar uma pinga! Me embriagar , pois essa calçadinha lotada de gente e toda essa muvuca, só com a percepção alterada. On the Road!

Olho para as areias, gente fazendo ginástica, reunião, xixi, trocando os passos, e um barquinho segue lá ao longe. O mar está lindo! E a bela. Da tarde! Catherine Deneuve, e os desejos mais que secretos que todas tínhamos de trocar de lugar com ela um dia. De ser ela, talvez.

Suada e apressada, avisto um casal se beijando . Que maravilha que é um beijo na boca. Em público. No Bar. Inconsequente . Puxa vida! Assim não dare! É fazer pouco de mim que estou aqui caminhando, mas não estou cantando, apesar do 7 de setembro! Penso nos versos de Vinicius, Pátria Minha, que minha amiga Marta Pessoa compartilhou. E tento sair do beijo na boca, para não ficar triste. Apesar do crepúsculo ser a hora da tristeza (meu pai não suportava finais de tarde), eu não tenho essa melancolia, não agora, e quase escorrego com o areal na calçada. Me recomponho. Pois a areia, o tombo e o beijo alheio, me desconcertaram.

As árvores do Hotel Tambaú tem as cores do outono. Gameleiras Magenta – Marrons. E tons amarelados. Me lembram o outono dos países temperados. Aquelas cores! As minhas cores de agora! Mas que, junto com esse verão que se anuncia, me deixa também verão. E ao olhar os coqueiros, as ramas da beira mar, o verde e o mar, penso no Havaí que é aqui. Na Tailândia que é aqui. Que o Camboja é aqui. Não conheço nenhum desses lugares, mas gostaria de ir ao Vietnam para comer aqueles sabores primaveris. E pelos filmes e fotos de quem vai, sinto a paisagem deles por perto. Fotografo. Posto. Compartilho. E viajo.

Troco boa tarde com aquela pessoa que não lembro o nome; digo oi para Petrônio Souto; um abraço com todo carinho com Margarete Almeida; Oi Mingo! (Domingos). Quanto cachorro e cocô! E quanta gente dedicada aos seus cães! Manaíra meu amor! A casa de Dada Novais, E fui passando a vista pela casa de Madalena Záccara, dos Carrilhos, de Tênio, Dr. Guilhardo Martins, Totonho, Guilhermão e Serjão…e a calçadinha do domingo. O meu primeiro amor de verão, jogo de vôlei, a Quadra, maré de janeiro, fevereiro e março. É pau! É pedra! É o fim do caminho.

E nisso a noite chegou, a praia agora está iluminada de outras luzes, e o mar majestoso me saúda. Vejo um rapaz que está ali sentado com o olhar perdido no horizonte. Bem sei desse olhar. Também olho no infinito. Buscando contato. Imediato. Mas sei também que dessas águas salgadas, nenhuma cartinha ou bilhete me traz. Me contento em contemplar. Que bem que nos faz a contemplação!

Jovens tardes de domingo! E eu canto Roberto Carlos!

Para Raphael, meu sobrinho, que completa anos hoje (dia 8 de setembro) e está aproveitando as tardes de Florença”


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