Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

A bela adormecida


14/06/2016

Foto: autor desconhecido.

Na minha adolescência sentia muito sono. Para acordar de manhã para ir ao colégio era um inferno. Meu pai chamava uma, duas e dez vezes, até eu pular da cama e em dez minutos eu virava The Flash! Passava a manhã sonhando em chegar em casa para dormir após o almoço. Mas não era uma dormidinha tipo siesta não.

Gostava de ler um gibi, meia página, e quando os olhos estavam revirando, caia em sono profundo até às 18 horas se me deixassem. Mas não me deixavam, e eu acordava às 16 horas estremunhada, e mal humorada….

Quando tinha prova ou trabalho era um sacrifício. Se ia estudar sem dormir, ficava cochilando sobre os livros sem aprender nada. Se dormia primeiro, dormia demais e a culpa por não estar estudando também me matava, e à noite, nunca fui boa de estudar. E dormíamos cedo naquela época. Meu sonho era dormir! Sem ser interrompida. Quando não tinha tarefas nem aulas, a felicidade até existia, que era dormir.

A hora de dormir também era sagrada. Era a hora que eu tinha toda minha. Lá, nos meus pensamentos, era proibida entrada. Ali, passava a limpo o dia, os olhares dos meninos, minhas indagações mais reflexivas pela vida, questões existenciais – sim! Desde menina me angustiava com a existência; me perguntava sobre a vida, minha vida, minhas faltas, mesmo que não soubesse muito que questões eram essas. Só mais tarde vim perceber o que tanto me afligia – a vida! O que vou ser quando crescer?! As dúvidas! Amorosas inclusive, mesmo que ainda nem tivesse namorado, antes dos 11 anos. Naquele tempo se namorava cedo. Muito cedo. Ir ao cinema, pegar na mão = namorando! Posso gostar de dois meninos ao mesmo tempo? Isso me tirava o sono! E de sonho em sonho eu seguia em busca do que a floresta, os anões, o príncipe talvez me esperassem. Ou não! Quando me casei a primeira vez, jovens e disponíveis, acordávamos às 11 horas nos sábados e domingos. A felicidade até existia. Dormir! Mas depois….

Hoje, guardo algumas desses sonos profundos, apesar de o sono não ser mais o mesmo. Se me deitar na cama após o almoço, durmo de sonhar muito e pensar que é de noite. Portanto o segredo é não deitar…Aos sábados e domingos me dou ao desfrute. E acordo des-orientada, sem saber se é de manhã….

Tem gente que não gosta de dormir. Que acha que é perda de tempo. No meu caso, se não durmo, não existo. Só funciono com uma boa noite de sono no meio. E sempre que bate problemas, tristezas, preocupações, ao acordar tudo é melhor. Portanto, dormir é preciso!

Quando li Dr. Nuno Cobra, A semente da vitória, ele lista os 4 pilares da saúde e o sono é o primeiro deles. Mais até que boa alimentação. Exercício físico e transcendência seguem a receita. A capacidade de se mudar para as nuvens! Essa eu tenho! De abstração! De sonhar! Sentir a poesia da vida.

Conheci gente que o sono também era fuga. Problema = dormir! Uma boa estratégia. Já diz a sabedoria popular que nada melhor que um dia após o outro com uma noite no meio, quando queremos resolver tudo a tempo e à hora.

 E sonhar? Tenho sonhos comuns e extraordinários. Sonhos interrompidos. Sonhos que continuam, em capítulos….E sonhos recorrentes: voando, saltando, sumindo, tristes e alegres, mas o inconsciente, assim como uma floresta selvagem , tem lá suas estratégias, acorda, prolonga, des-cortina, desvirtua, e segue.

Hoje, no outono da vida, não preciso tão mais daquele sono infinito da adolescência. Mas reconheço que o edredon é meu amigo. Mas já descobri outras maneiras de sonhar também. Acordada!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 12 de junho , 2016 – Dia dos namorados
 


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