Geral

Coisas para conversar


17/03/2010



Coisas para pensar: A semana passada, por ocasião do dia 8 de março, comentei artigo de Mary Del Priori de 2009, onde ela não via muitos ganhos e motivos para celebrações. Pois este ano, no mesmo espaço, ela escreveu “Uma Nova Submissão”, onde diz que “Se as mulheres orientais ficam trancadas num espaço determinado, o harém, as ocidentais têm outra prisão: a imagem. E são açoitadas para caber nela: eternamente jovens, leves e saudáveis. Uma armadura que em tempos de globalização irradia-se por todo o planeta. Tamanho grande? Só no fundo da loja. A energia que as mulheres consagram aos seus corpos para não deixá-los enrugar e engordar é impressionante. E tudo para caber em um outro cárcere: AQUELE OLHAR MASCULINO. `Os homens olham as mulheres. E as mulheres se olham ser olhadas` , ela cita o sociólogo (Johan Berger), e a feminista Naomi Wolf: A fixação sobre a magreza feminina não é expressão de beleza da mulher, mas de obediência feminina.

Coisas para ver: Os vestidos do Oscar! Penélope Cruz foi indicada a mais glamorosa. E eu não concordei. Acho Penélope sempre mais exuberante nos filmes, como nos personagens de Volver e Abraços Partidos. Os vestidos do Oscar? Muito babados e exageros. Senti falta da elegância máxima de Cate Blanchet e da androginia de Tilda Swinton. E no foco dos vestidos hollywoodianos, passamos batidas no vestido da primeira dama francesa, Carla Bruni, que foi a um jantar de gala sem soutien. Segundo Glorinha Kalil, não pode! E nem era 8 de março! Imagem! Talvez Mary Del Priori tenha razão, estamos muito presas ainda a tantos espartilhos. Ou até mesmo à ausência deles…

Coisas/Filmes para assistir: 1- A Single Man. Que tradução infame, Direito de Amar. A Single Man (um homem solteiro, um homem único, um homem sozinho) e uma tradução vinculada somente ao : amor que não ousa dizer o seu nome, para citar Oscar Wilde. Saí do cinema emocionada com tanta beleza plástica, estética fílmica, trilha sonora, homens belos, dor, luto, perda, casa linda, slow motion, o olhar, a amiga solitária e hilária, a solidão, o tesão, o penhasco, a cor sépia, o vestido azul, o cartaz de Psicose, o medo, Aldous Huxley, e Colin Firth muito maior que o orgulho & preconceito!

2- The Hurt Locker – novamente uma tradução pobre para Guerra ao Terror. Ouvi uma explicação que, the hurt locker significa aquele fio de (des)armar bombas. Fio esse que conduz toda a narrativa fílmica tanto literal como metaforicamente, já que o filme fala muito mais da guerra a si mesmo (o personagem já não consegue viver sem a adrenalina da guerra e se adequar à comprar cereais, tantos espalhados em fileiras intermináveis do supermercado, ou a simplesmente limpar as bicas da casa, em dias de chuva). Ouvi um poeta americano chamar à atenção para a invisibilidade no filme para o Outro. Os pretensos locais, estão sempre na penumbra, e quando falam, suas vozes e falas nunca são traduzidas. O soldado americano é sempre o centro. Embora tenha torcido por Bastardos Inglórios (para mim o melhor filme dos últimos anos), reconheço o talento e a beleza da grande vencedora do Oscar 2010, Kathryn Bigelow. E a ironia é que em pleno 8 de março, ninguém falava tanto da sua vitória, mas da derrota do seu ex-marido James Cameron e seus heróis azuis em Avatar.

Coisas para lembrar: No programa Saia Justa da semana uma pergunta: É bom ser mulher hoje? E, se você pudesse levar uma lembrança eternidade afora, qual seria? Como falei semana passada, é ótimo ser mulher hoje. E se vier novamente quero voltar mulher. Acho mulher muito mais interessante que homem, e não suportaria viver sem brincos e colares… Quanto à lembrança, já quebrei a cabeça para selecionar só uma. Profusa e prolixa que nem eu, focar em uma coisa só, jamais conseguiria. Mas, fiquei a pensar como era bom, e ainda o é, ficar à toa na cama, com meu companheiro me fazendo alisados carinhosos, e meus dois filhos, um de cada lado, cuidando dos meus momentos frágeis. Cafuné aqui…cafuné acolá, um momento para lembrar e levar na bolsa fashion de La Reina Madre ou da Accessorize!

Coisa para celebrar: Os 70 anos das Lourdinas, comemorado em grande estilo e que não pude ir, pois estava celebrando a festa das Mulheres Empreendedoras (SEBRAE). Nas Lourdinas, uma homenagem à minha Tia Margarida Wanderley, a primeira professora do Colégio. E fiquei sabendo que foi minha bisavó (de quem herdei o nome Ana Adelaide, mas que tinha o apelido de Sinhá), e minha madrinha Angelina Balthar, que acolheram a primeira freira do colégio quando aqui chegaram há 70 anos. Como estudei 10 anos naquele colégio, fiquei emocionada de saber tantas estórias das mulheres da minha vida, e dessas freiras por quem tive sentimentos ambíguos e contraditórios, mas que até hoje não consigo esquecer os bons momentos no pavilhão, cantando Andança, e vestindo aquele uniforme azul marinho com tiras azul anil. Quanto às mulheres empreendedoras, as paraibanas novamente merecem nosso aplauso. Foram selecionadas nacionalmente para o prêmio maior.

Coisas para o Luto: o assassinato do cartunista das tirinhas da Folha de São Paulo,Glauco e do seu filho Raoni. Acompanhei à sua trajetória desde o Salão de Humor de Piracicaba na década de 70. E Passei anos me deliciando com o Geraldão, D. Marta, e principalmente com o casal Neuras e o ciúme, gargalhando vida afora. Muito chocante, descobrir que não foi assalto, mas a loucura de um frequentador da Igreja que o próprio Glauco havia criado ao lado da casa. Mais Violência para nos horrorizar. E junto com Glauco, e seu filho, morre todos aqueles personagens maravilhosos. Uma lástima. Um horror. Linda a homenagem dos cartunistas Brasil afora, fazendo tirinhas em sua homenagem.

E a minha última homenagem à esse humor delícia e minha indignação diante da loucura humana, termino dando as minhas gargalhadas solidárias a Betão!



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