Economia & Negócios

Cochilódromo vai entrar nas empresas e o primeiro cliente é a bolsa de valores

Novidade


01/08/2013

 Não é difícil pensar em um local com muita concentração de stress, ainda mais em tempos bicudos, com algumas ações em queda livre. A bolsa de valores de São Paulo, a BM&FBovespa, pode ter deixado o tempo dos operadores, que se comunicavam aos gritos, para trás, mas a tensão continua como marca registrada, e já é característica do mercado financeiro.

Tanto é que os empreendedores da Cochilo nem precisaram buscar o primeiro grande cliente. Ele veio até a empresa, um caminho natural. Isso porque o negócio teve o cuidado de sempre ligar o seu serviço aos benefícios do sono para a produtividade, o que resultou até em uma parceria com o Instituto do Sono.

A bolsa já teve um espaço para descanso, localizado fora de seu prédio, na região central de São Paulo. Porém, o local foi fechado. Cerca de dois meses depois, o cliente buscou a Cochilo, conta o empresário Marcelo Von Ancken, de 49 anos.

O benefício atenderá os mais de 2,2 mil funcionários da instituição financeira, alocados em quatro prédios. O funcionário não pagará pelo serviço, desde que o tempo do descanso não passe de 20 minutos. Caso se prolongue, ele tem que custear a diferença. Bastará agendar um horário por telefone, ao longo do dia.

Quatro cabines automatizadas serão colocadas no subsolo do edifício, nas quais o usuário escolhe no painel interno o tempo desejado e consegue ajustar luzes e ar condicionado. Ao término do período escolhido, a cama vibra e as luzes se acendem indicando o fim do descanso.

Os empreendedores fornecerão dois funcionários que cuidarão da higienização das cabines, trocas de lençóis e agendamento dos horários. Para isso, receberão uma remuneração mensal. "Ter uma receita fixa nos ajudará muito a começar uma nova etapa do investimento, diz Marcelo.

Em junho, a empresa havia participado de uma Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho (Sipat), promovida pela BM&FBovespa, com algumas cabines. "Elas foram utilizadas durante dez minutos por 450 funcionários. Foram aprovadas". Hoje, a bolsa já oferece massagem rápida aos funcionários.

Na mira da Cochilo está outro negócio, agora com um hospital. "Enfermeiras não podem trabalhar em dois períodos seguidos. Poderia ser uma solução descansar por algumas horas".

O modelo tem custos menores para os empreendedores, ao retirar itens ‘de peso’, como locação de espaços, que pode ser repassado para tornar o serviço, ainda em fase inicial, mais competitivo.

Teste diário

O fechamento do negócio com a BM&FBovespa, sem prazo para acabar, acontece depois da experiência com uma loja-piloto localizada na Rua Augusta, em São Paulo, que durou 12 meses. Persistência, conta, foi fundamental, assim como aprimoramentos constantes.

Isso porque, antes de montar a loja, foram anos trabalhando a ideia de Von Ancken e sua mulher, que partiu de uma experiência do próprio empresário.

Von Ancken não encontrava lugar para descansar enquanto esperava por uma reunião, que foi adiada. "Estava em um shopping center e não me deixaram dormir dentro do carro, muito menos em um sofá no shopping. Não havia vagas na rua".

Divulgação

Para o empreendedor, o período de teste compensou mais do que o pagamento de uma pesquisa de mercado, que seria limitada. "Deu para conhecer o nosso público e realizar aprimoramentos nas máquinas. Tirar um cochilo pode parecer simples, mas estamos representados pelo sindicato dos hotéis. Temos de oferecer um serviço completo".

Uma das novas funcionalidades surgiu a partir de um caso, no mínimo, curioso. Um advogado queria entrar na cabine porque precisava de um lugar tranquilo para preparar uma petição. "Ele me disse que depois de transmiti-la pela internet, poderia relaxar. Resolvemos criar então um suporte para laptop".

Von Ancken conta que ainda há preconceito relacionado ao cochilo fora de casa. "Relaxar durante o dia é visto como coisa de desocupado e preguiçoso. Mas isso está mudando. E as empresas estão olhando para isso". A loja funcionava das 9h às 20h. "Muita gente, em dias de rodízio do carro, optava por descansar um pouco após o trabalho até passar o horário de restrição para seu veículo circular".

No final do teste, a loja já atendia cerca de 15 clientes por dia. "Abatemos em 30% o custo do investimento no período com a própria receita gerada na loja". Durante o período, a equipe visitou diversas empresas, para as quais oferecia vouchers do serviço, com 20% de desconto, que eram distribuídos aos funcionários.

Na visão do empreendedor, o funcionário é um "patrimônio que precisa ser cuidado". "As pessoas estão conectadas ao extremo e sofrem com uma grande cobrança. Elas optam pelo descanso porque senão, pensam, vão enlouquecer".

Para seguir em frente, a família conseguiu arrecadar 70% do valor entre pequenos investidores, do seu círculo de convivência, e aplicou os outros 30%. O projeto-piloto foi feito com investimentos próprios, investidos mês a mês durante o desenvolvimento da ideia.

Três modelos

Além de entrar com as cabines, devidamente patenteadas, nas empresas, Von Ancken pretende montar uma loja dentro de um prédio comercial perto da Avenida Paulista, que terá 15 cabines, além de uma unidade de rua, no Itaim, bairro corporativo da cidade.

A Cochilo Executivo, localizada dentro de prédios comerciais, funcionará em convênio com empresas. "Estamos planejando levar e trazer funcionários de empresas da região para descansarem", diz Marcelo.

Na sua visão, isso permitirá atender empresas que não conseguem oferecer o serviço no ambiente corporativo, e ajuda a tornar o local mais discreto. "Quem sai para almoçar, em grupo, ficava inibido de usar o serviço".

Na loja de rua, o serviço era utilizado mais por profissionais liberais, como enfermeiros, advogados e professores, das 12 às 16h. "Os motivos eram os mais diversos: queriam se preparar para uma reunião porque não haviam dormido bem à noite, ou estavam estressadas e queriam descansar um pouco".

A maior demanda, conta o empreendedor, é por descansos de 30 minutos, mas há quem queria dormir mais de uma hora, caso de um cliente que chegou a São Paulo às 7 horas depois de uma viagem de ônibus inciada em Foz do Iguaçú, no Paraná. Ele precisava esperar as lojas abrirem às 9h30 para trabalhar.

Os empreendedores já receberam cerca de 80 pedidos de franquias. "Mas queremos deixar redondo antes de abrir o negócio", conclui Von Ancken.

Pioneiro, o empresário não teme a entrada de concorrentes. "Todo mundo compra Bombril, ninguém adquire esponja de aço. Espero ser o Bombril do Cochilo. É muito bom ter o nome ligado à atividade". O empresário, aliás, tem bom sono.



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