Política

CMJP devolve mandato de vereador e diplomas de cassados na Ditadura

Homenagem na CMJP


01/04/2014



A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) devolveu, de maneira simbólica, os diplomas de mandato de vereador de Antônio Augusto Arroxelas e dos suplentes (in memoriam) José Gomes da Silva, conhecido como Zé Moscou, e de Leonardo Leal. Eles sofreram perseguição ideológica e tiveram seus direitos políticos cassados pela Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil. A sessão especial em alusão ao “Golpe de 1964” aconteceu na tarde desta terça-feira, 1º de abril, em propositura dos vereadores Bruno Farias (PPS) e Fuba (PT).

Bruno Farias salientou que poucos brasileiros se rebelaram e levantaram a sua voz contra o sufocamento das garantias coletivas, o ultraje das instituições republicanas e contra a afronta dos valores democráticos do Brasil. “Dentre esses poucos, estava o jovem vereador Antônio Augusto Arroxelas. Falo dele com carinho porque é uma das referências políticas que tive quando menino. Ele era uma legenda em nossa cidade. De voz equilibrada, serena e ponderada, ele fazia política e era temido sem ser um brado sem causa, e assim são os grandes cidadãos”, afirmou.

Para Fuba, a solenidade é um exemplo de que João Pessoa está vendo a justiça, embora tardia, diante dos acontecimentos de 1964. “Que esta sessão reviva em nossas memórias as arbitrariedades que aconteceram nos amargos 21 anos de Ditadura para que não voltemos a ter tempos como aqueles. Os torturados daquela época jamais tiveram suas vidas e militaram como outrora. Esse resgate é importante em nossa cidade e devemos lutar para que isso nunca mais aconteça em nosso Brasil”, clamou.

Na oportunidade, Fuba lembrou que contribuiu para a modificação da lei responsável pela nomeação de ruas, acrescentando que os nomes que remetam a agentes da Ditadura sejam modificados. “Apresentei requerimentos a fim de que a Praça da Pedra seja renomeada para Praça Luís Carlos Prestes e a Avenida Castelo Branco, poderá se tornar a Avenida Presidente João Goulart. São iniciativas para que acabemos de uma só vez essa lembrança maléfica em nossas ruas e bairros. João Pessoa foi a cidade que mais homenageou a Ditadura Militar”, comentou.

Bruno Farias ainda relembrou o clima tenso, de conflito de interesses políticos e ideológicos em que a Paraíba estava durante os “Anos de Chumbo” no Brasil. “Lembro que em Cruz das Armas, à época, bairro mais populoso da Capital, houve um apagão e de repente chega um caminhão com militares, que começaram a agredir e a calar vários cidadãos em um comício”, comentou ao relembrar vários episódios, entre eles, de tortura, agressões e, inclusive, o dia em que Arroxelas foi cassado e torturado.

“Estamos aqui para resgatar a memória daqueles que já se foram, daqueles que foram o verdadeiro cordeiro sacrificado em nome da democracia, da justiça e da liberdade. Estamos reunidos para reparar a injustiça que nosso passado fez contra a cidadania e estamos reescrevendo a História com essa iniciativa. Este é um pedido de desculpas público que a CMJP deve aos pessoenses, à Paraíba, a você, Arroxelas, e aos demais companheiros que foram perseguidos na Ditadura. Queremos abraçar todos aqueles que, de alguma forma, foram atingidos por atos de força, e há tantos nomes, inclusive aqueles cujos corpos nunca foram encontrados. Os meus heróis não morreram de overdose, mas estiveram comprometidos com causas sociais”, discursou Bruno Farias.

Fuba e Bruno Farias conseguiram aprovar o Projeto de Resolução (PR) que anulou a cassação de diplomas de ex-vereadores da Casa que tiveram o mandato interrompido pela Ditadura Militar no Brasil, em 1964. O documento anula a cassação do mandato de vereador de Antônio Augusto Arroxelas e dos diplomas dos suplentes, José Gomes da Silva (Zé Moscou) e Leonardo Leal, em abril de 1964. O PR reconhece como “antidemocráticos e dignos de repúdio os atos de cassação” e prevê também a restituição, de maneira simbólica, do mandato dos três políticos.

Vereador cassado pela Ditadura recupera diploma de mandato na CMJP

Antônio Augusto de Arroxelas Macedo revelou que carrega até hoje os traumas do período em que ficou preso e trancafiado em um local escuro,de onde só ouvia tiros vindos de fora. “Fui proibido de estudar e concluir o curso de direito. Roubaram-me o mandato, tentaram calar uma nação inteira, censuraram, exilaram, mas não apagaram nosso sonho, a nossa utopia de construir uma pátria livre”, frisou. Ele lembrou que sempre lutou contra as injustiças sociais, os abusos dos poderosos e a presença imperialista dos Estados Unidos.

“Hoje, 50 anos após o Golpe, ainda me pergunto: qual foi o crime que cometi? Lutei por uma sociedade mais justa, pelas reformas de base e pela democracia. A lembrança e o esquecimento não são apenas atos da memória humana, mas também fruto das disputas políticas e pelo poder. A quem interessa a pagar da memória a sua própria história? Acredito que ao povo interessa a verdade, e o passado precisa ser superado, mas jamais esquecido. Por isso, agradeço pela iniciativa da CMJP e a solenidade em memoria do Golpe de 64, que não pode cair jamais no esquecimento das novas gerações”, sugeriu.

Antônio Augusto de Arroxelas Macedo nasceu em 6 de fevereiro de 1939, em João Pessoa. Em 1960, ingressou no curso de odontologia e ainda estudante, integrou o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Foi eleito vereador da Capital em 1963 e foi cassado devido à Resolução da CMJP nº 5, de 3 de abril de 1964. Ele participou da campanha pela Anistia, ajudou a construir, em 1980, a Frente Democrática e em 1982 conquistou novamente uma cadeira na CMJP sendo o vereador eleito mais votado daquele ano. Arroxelas participou da campanha Diretas Já e foi um dos atuantes que contribuíram para a redemocratização do Brasil.

Estiveram presentes na solenidade os vereadores Benilton Lucena (PT), Luís Flávio (PSDB) e Raoni Mendes (PDT). Também compareceram diversos políticos, representantes de órgãos, entidades e secretarias do Município, como o deputado estadual Anísio Maia (PT); o ex-deputado Assis Lemos; o secretário de Transparência Pública Éder Dantas; e os presidentes das Comissões Estadual e Municipal da Verdade, respectivamente, Paulo Antônio Nunes e Marlene Almeida.

 


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