Saúde

Cirurgia não elimina risco de câncer de mama

Ponderar


14/05/2013



A retirada das mamas de uma mulher saudável para reduzir os riscos de câncer não é um procedimento universal e nem a única forma de prevenir a doença.

Mesmo quando há mutação genética e morte de familiares próximos pela doença – como no caso da atriz Angelina Jolie , que declarou ter se submetido a uma cirurgia de retirada das mamas como forma de prevenir o câncer – a decisão sobre a cirurgia é individualizada e não se aplica à população em geral, garantem especialistas.

A decisão de Angelina foi tomada depois que a atriz se submeteu a um teste genético que identificou mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, genes herdados da mãe, morta em 2007, vítima da doença. Ambos pertencem a uma classe de genes humanos conhecidos como supressores de tumor , ou seja, eles ajudam a prevenir a proliferação e o crescimento desordenado das células. Quando há a mutação, essa capacidade de controle não existe. Sem ela, a proliferação das células pode ocorrer de forma anormal, aumentando o risco de câncer em até 85%.

“A cirurgia preventiva pode ser indicada para essa população restrita e não é uma opção para todas que têm ou tiveram casos de câncer de mama na família. Até porque as chances de insatisfação e de que o medo de ter a doença não passem são muito grandes. A cirurgia reduz o risco para algo entre 5% e 10%, mas ele continua existindo”, esclarece o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Carlos Alberto Ruiz.

A cirurgia

O mastologista esclarece que o nome médico para a chamada “mastectomia redutora de riscos” é adenectomia redutora de risco. Nessa cirurgia, a glândula mamária é retirada e estruturas próximas, como seios e mamilos, são preservados, algo que nem sempre ocorre na mastectomia feita quando a mulher já tem o tumor. Depois da retirada da glândula mamária coloca-se um extensor sob a pele e posteriormente é feita a cirurgia de colocação de uma prótese de silicone.

Os especialistas ressaltam que a operação não elimina o risco porque não é possível retirar 100% da glândula mamária no procedimento.

“É preciso deixar uma camada de tecido para nutrir a pele e as estruturas que estão embaixo dela. Para que isso ocorra é preciso deixar de cinco a 10 milímetros de tecido, é o que garante que o seio não necrose”, explica Ruiz.

Só no Brasil, são 52 mil casos novos casos de câncer de mama por ano, de acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para efeitos de comparação, cerca de 12% das mulheres na população em geral – isso significa 120 em cada mil – vão ter a doença ao longo da vida. Em mulheres com a mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, aproximadamente 60% – 600 em cada mil – serão diagnosticadas com câncer de mama.

“Por meio do mapeamento genético, hoje é possível reconhecer os grupos de altíssimo risco para o câncer de mama”, afirma o oncologista Fernando Maluf, chefe do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José e um dos estudiosos da área.

“Mas mesmo nos casos em que há o histórico familiar da doença, e em que são identificadas mutações, a cirurgia não é a única conduta possível”, diz Maluf.

“É possível indicar um acompanhamento mais próximo desta mulher, com realização de exames com mais frequência e até utilizar medicamentos que podem atuar de forma protetora.”

Segundo explica Ricardo Caponeiro, presidente do conselho técnico da Femama (Federação Brasileira de Apoio à Saúde da Mama), a retirada preventiva das mamas é muito mais frequente nos Estados Unidos do que no Brasil por alguns motivos.

“Primeiro porque o teste genético para identificar a alteração no gene não é uma realidade em todos os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), e a maior parte dos pacientes oncológicos é tratada nos serviços públicos. Além disso, por mais que a retirada diminua o risco, não o elimina totalmente”, avalia Caponeiro.

Arrependimento

“As pesquisas feitas nos EUA mostraram que das mulheres totalmente saudáveis que fizeram a cirurgia, 30% se arrependem. Existe uma série de fatores psicológicos associados”, diz o especialista da Femama.

“Por mais que, esteticamente, a reconstrução da mama fique perfeita, é possível ter alteração de sensibilidade, textura e consistência do seio, sequelas enfrentadas por quem ainda nem tinha um problema de saúde”, diz Caponeiro.

Nos serviços particulares de excelência em câncer de mama, explica Maria Isabel Achatz, diretora do Departamento de Oncogenética do Hospital AC. Camargo, “a tecnologia existente hoje no Brasil é muito semelhante a dos EUA”.

“Só nas pacientes em que a indicação cirúrgica é muito consistente é que pensamos na cirurgia redutora de riscos. Ainda assim, a decisão da retirada ou não das mamas é discutida caso a caso e a paciente participa ativamente desta decisão”, complementa a médica, que já acompanhou 30 mulheres submetidas a esse procedimento.

O atendimento personalizado inclui a avaliação de outros fatores de risco, como obesidade, lesões pré-cancerígenas e até a realização prévia de reposição hormonal. Segundo explica Maria Isabel, até mesmo questões comportamentais são levadas em conta.

“Sabemos que a mama é um órgão muito valorizado pelas mulheres, um órgão diferenciador do gênero. Por isso, todas as nossas pacientes que apresentam o gene e têm indicação para o procedimento precisam ser acompanhadas por psicólogos especializados em Oncologia antes da cirurgia.”

Falta de consenso

A primeira dúvida que surge entre as mulheres que se submetem ao teste genético é: o que fazer se ele der positivo para a mutação? Não existem recomendações formais, esclarece o oncologista Stephen Stefani, do Instituto do Câncer Mãe de Deus, de Porto Alegre.

“O teste só tem sentido se a paciente está disposta a conviver com o risco ou tomar providências para tentar reduzir este risco”, diz o médico.

Para o oncologista Amândio Soares, da Oncomed de Belo Horizonte, a falta de consenso entre os especialistas na hora de indicar a cirurgia tem uma explicação: a mama é um órgão com muitos significados para a mulher e envolve conceitos como maternidade, feminilidade e sexualidade.

“Em princípio, não sou favorável à indicação porque não há 100% de certeza de que o câncer não vai surgir. Mas defendo que a mulher deve ter voz decisiva para fazer ou não a cirurgia.”

A doença no Brasil

No País, o câncer de mama é o segundo tipo mais frequente, o mais comum entre as mulheres e respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. De acordo com o Inca, se diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom. Não fumar, ter uma alimentação saudável, manter o peso e praticar exercícios físicos são atitudes já comprovadas cientificamente como protetoras deste tipo de câncer.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //