Saúde

Cientistas explicam monogamia através dos primatas

Explicação


31/07/2013



 A explicação para a monogomia social entre os machos, o que os leva a se relacionar com uma única fêmea formando um par por um longo período, é alvo de muita controvérsia. Tanto que nesta semana dois novos estudos sobre os motivos que levam determinadas espécies de mamíferos e primatas a serem monogâmicas foram publicados. Em comum apenas, nenhuma das explicações era de comover o coração dos humanos mais apaixonados.

Pesquisadores de Cambridge, no Reino Unido, afirmam que a monogomia surgiu como uma estratégia de reprodução, ainda que pareça contraproducente.

No entanto, eles afirmam que a monogamia evoluiu justamente em espécies em que as fêmeas mudaram a dieta e com isso passaram a defender um território exclusivo e evitar outras na área em que viviam, até que se tornaram solitárias. “Assim os machos mudaram de estratégia e passaram a formar par com uma única fêmea", disse Tim Clutton-Brock, da Universidade de Cambridge e autor do estudo publicado no periódico científico Science .

Tim Clutton-Brock e Dieter Lukas estudaram longamente comportamento, genética e evolução de 2500 espécies de mamíferos. Eles descobriram que apenas 9% das espécies de mamíferos era monogâmica, incluindo poucos roedores, alguns primatas e principalmente carnívoros, como chacais, lobos e suricatos.

"Onde as fêmeas se dispersam, a melhor estratégia para o macho é acasalar com uma fêmea só, defendê-la e certificar-se que é o progenitor de toda a cria. Em suma, a melhor estratégia é ser monogâmico", diz Clutton-Brock.

A dupla analisou várias espécies de mamíferos, mas humanos ficaram fora deste estudo. “Tivemos dificuldade em classificar os humanos. Humanos são diferentes. Os casais interagem de forma diferente de qualquer outro mamífero”, disse Lukas em coletiva de imprensa.

Filhote meu é filhote vivo

O outro estudo sobre monogamia divulgado nesta segunda-feira (29) analisou apenas os primatas, grupo ao qual o ser humano pertence. Entre eles, segundo pesquisadores da Universidade de Manchester, Oxford e Aukland, o acasalamento exclusivo entre um macho e uma fêmea existe como uma forma deles se assegurarem que seus filhotes não serão mortos por rivais dentro do seu grupo.

O estudo publicado no periódico científico PNAS afirma que filhotes e animais jovens são vulneráveis porque as fêmeas tendem a postergar uma segunda prole enquanto estão cuidando de seu filhote. Com isto, machos desprezados podem matar os filhotes de seus rivais para que as fêmeas emprenhem novamente, desta vez, deles. A monogamia evoluiu, neste caso, para que o pai garanta que seu filho não vai sofrer nenhum mal.

"O que torna este estudo tão emocionante é que nos permite olhar pra trás no nosso passado evolutivo para entender os fatores que nos tornam humanos", disse em comunicado Susanne Shultz, da Universidade de Manchester.

Para chegar a esta conclusão, o grupo analisou 230 espécies de primatas e suas relações evolutivas.

Dúvida cruel

O motivo do surgimento de espécies monogâmicas sociais gera curiosidade há anos entre os cientistas. Isto porque machos teriam possibilidade de deixar muito mais descendentes com diversas fêmeas, enquanto uma fêmea passa pelo período da gestação. A monogamia é mais comum entre os pássaros, cerca de 90% das espécies são monogâmicas. Já entre os mamíferos estima-se que ocorra em menos de 3% das espécies.

Até estes novos estudos, duas hipóteses para a existência desta pequena porcentagem de espécies monogâmicas entre os mamíferos eram as mais aceitas. Uma explicação se concentrava no cuidado paterno e sugere que a seleção natural favoreceu a formação de casais (monogâmicos sociais) que protegem e alimentam os filhotes, aumentando a mais probabilidade da prole de se desenvolver.

A segunda hipótese, reforçada pelo estudo dos pesquisadores de Cambridge, sugere que machos formam pares para proteger as companheiras mais facilmente.

"É importante ressaltar que são os estudos de longo prazo que respondem as grandes questões", disse Clutton-Brock, que estuda a monogamia há mais de três décadas. "Não sabíamos do estudo [publicado na PNAS] e não tivemos ainda a oportunidade de confrontar os dados das duas pesquisas. É o tipo de coincidência que acontece de tempos em tempos na ciência", ponderou Clutton-Brock.



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