Para Natália Peixoto Phillips

Primeiro vi um filme – Simplesmente Amor, sobre também aeroportos, despedidas, adeus e alegrias de chegadas. Depois o programa de Astrid Fontenelle, no GNT, que às vezes assisto, e que, choro toda vez que compartilho a emoção de quem vai e de quem chega. Estórias de quem parte e leva saudades de alguém… Uma dor nos ossos, que mesmo do conforto da minha sala. Sinto, pelos abraços.

Exercito esses sentimentos há 25 anos, por ter uma irmã que mora alhures, e durante todo esse tempo, a cada pé no aeroporto para levá-la ou buscá-la, era um vale de lágrimas e alegria, tudo misturado. E sem pudor. No meio da multidão, sempre abraços, beijos e afagos.

Mais recentemente, sua filha, minha sobrinha Natália, veio passar um semestre conosco, para melhorar o Português. Aulas particulares, curso na Universidade para estrangeiros, estágio na escola das primas – Evolução, e claro, o dia a dia com as tias, primos, avó, e amizades locais. Da neblina e tempo chuvoso e frio do País de Gales, diretamente para o calor e brisa de Tambaú.

E agora , chegou a hora de Natália ir-se, back to Cardiff, em breve para Leeds-Inglaterra, onde fará seu curso de História. E nós aqui, ficaremos com tantas saudades, dessa sobrinha estrangeira, com sotaque e tudo, mas que na bagagem levará tapioca e ôxente! Encantada com a nossa comida, com os sabores do Mangai e dos sushis da cidade, emblema dessa mistura do mundo global – o Japão é aqui!

Praia ? foi todo dia. Manhã, tarde e noite. Água de coco, artesanato, pôr do sol, capim dourado, barco, barco, queijo assado, peixada, areia, camarão, sopa de feijão, feijão verde com carne de sol, forró em Campina Grande, Igrejas de Olinda e principalmente o Pão de Açúcar e as belezas do Rio de Janeiro. E Biquines! Muitos, pois, quem não quer ser a garota de Ipanema, pelo menos uma vez na vida?

Natália, levará na bagagem, um pouquinho da sua identidade materna. Agora, uma vez selada sua vivência com as rãs da minha cozinha, os latidos de Bóris, o carinho da Tia Bebé (que lhe acolheu todo esse tempo), as mordomias da secretária Fátima, os chamegos das tias tagarelas, as amigas Inglesas que por aqui achou, sandálias Havaianas, sopinha da vovó, e principalmente açaí com granola…será uma Galesa-Paraibana, com certeza.
E a vida segue….Natália partindo logo mais…com saudades de Copacabana e a princesinha do mar, e das areias do Bessa e Cabo Branco também. Fico a lembrar de quando veio a primeira vez, tinha somente 4 meses de vida, e uma outra despedida a esperava, a do meu pai, que aos poucos se encantava. Depois, já maiorzinha, sapeca e arisca, dizia de alto e bom tom: I want manga! Ou, I want cocô, quando balbuciava sua fala Inglês para iniciantes… E nós, tias caducas…nos deliciávamos com sua miscigenação.

Algum tempo depois, quando fui visitá-la, na sua casa de endereço de língua Celta e com muitos fffs, yyyss e kkks, ela, enciumada daquela tia, que lhe roubava à atenção da mãe todo o tempo com aquela língua cantada e estranha, me rejeitava e me dizia com a testa ligeiramente franzida: “I want to sing on my own! I´ll do it myself!”, quando eu , para me aproximar, tentava cantarolar os English Rhymes.

Agora, uma moça feita de 19 anos e com olhos de graúna e cabelos de Iracema, Natália está, como no poema de Margaret Atwood, This is a Photograph of Me, blurred e blended (manchada e misturada), contaminada pelo Nordeste, pelos coqueiros, e pelo Brasil. Tanto tanto que, para fincar esse momento na alma, fincou uma tatuagem no pé, com a palavra “Saudade”! Coisa que desde pequena, leu nos olhos d´água da mãe Teca, mas que, só agora, pode sentir o real significado africano do Banzo de nós todos, da sua família e do seu também país, o Brasil.

Um vento Cais!

Bom Voyage! Saudades de você Natália querida. E que volte para suas Brumas de Avalon, com estórias próprias mais que abensonhadas!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 11 de Julho , 2012