Saúde

Cenário de ocupação de UTI Covid-19 na PB é crítica, diz Fiocruz; Governo admite fila de espera por leitos

Com capacidade de atendimento estrangulada pela COVID-19, sistema de saúde enfrenta gargalos. Onze estados apresentam lotação de leitos superior a 90%. Paraíba chegou, neste fim de semana, a uma média de 84% de ocupação de leitos UTI


07/06/2021

Imagem ilustrativa (Foto: Tatiana Fortes/Governo do Ceará)

Da redação/Portal WSCOM

Dados publicados pelo Observatório da Fundação Oswaldo Cruz na última sexta-feira (4) mostram que as taxas de ocupação de leitos de UTI do SUS para COVID-19 é superior a 80% em 20 estados brasileiros. Em outros seis, a situação é pré-crítica, ou seja, mais de 70% das vagas disponíveis estão em uso. Treze unidades da federação já acumulam filas de espera por leitos, incluindo Minas Gerais. Na Paraíba, o cenário é tido como crítico pelo estudo. Nesta segunda-feira (7), o governador João Azevêdo (Cidadania) confirmou a existência de fila de espera por leitos Covid-19 no estado.

Após um curto período de estabilidade, o sistema de saúde brasileiro caminha para o temido colapso de inverno. Anunciada desde o início de abril deste ano, ainda durante o segundo pico da pandemia, a nova crise agora grita nos números. As mazelas a que assistiremos desta vez, alertam especialistas, podem ser ainda piores do que aquelas enfrentadas em março, já que o perfil dos pacientes internados mudou: eles, agora, são mais jovens e permanecem mais tempo no hospital. A circulação de novas variantes do vírus é outro agravante do cenário pandêmico.

Estudiosos da Saúde Pública acreditam que o controle da situação está ao alcance das autoridades, mas se mostram pouco otimistas quanto à atuação assertiva do poder público nas próximas semanas. A melhor expectativa é de que o curso natural da vacinação ponha freio à sequência de colapsos.

Sinal vermelho

Elaborado a partir de dados compilados entre 23 e 29 de maio, o mapa de ocupação das UTIs COVID montado pela Fiocruz estampa uma grande mancha vermelha. Onze estados brasileiros apresentam lotação em nível considerado extremamente crítico, ou seja, superior a 90%.

Com 106% de vagas ocupadas, o Mato Grosso do Sul tem o quadro mais delicado. A lista segue com Pernambuco (98%), Rio Grande do Norte (99%), Sergipe (96%), Paraná (95%), Mato Grosso (95%), Distrito Federal (95%), Ceará (92%), Alagoas (92%), Santa Catarina (92%), e Tocantins (91%).

Em outros nove estados, o cenário é tido como crítico, com lotação que oscila entre 80% e 89%. São eles: Piauí (89%), Goiás (89%), Bahia (86%), Rio de Janeiro (85%), Rio Grande do Sul (83%), Maranhão (83%), São Paulo (82%), Minas Gerais (81%) e Paraíba (81%). Seis unidades da federação estão na zona de alerta intermediário (entre 60% e 80% de ocupação). Apenas o Acre está fora da zona de alerta.

Doze estados e o Distrito Federal já acumulam lista de espera por leitos, já que vários municípios tiveram a capacidade de atendimento estrangulada. O Paraná lidera o ranking, com 647 pacientes na fila. O Mato Grosso do Sul, com 291 pessoas, ocupa o segundo lugar. Pernambuco (269) é o terceiro, seguido por Minas, com 264 doentes na espera. As informações são das secretarias estaduais de saúde, divulgadas na sexta-feira (4/6).

Outro patamar

O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Unaí Tupinambás, projeta que o gargalo das redes de saúde nas próximas semanas pode ser elevado a um outro patamar, significativamente mais grave. Ele explica que isso se deve, em parte, à mudança do perfil demográfico do público hospitalizado.

Segundo Unaí, durante grande parte da pandemia, os internados eram sobretudo idosos. Mas este grupo já sente os efeitos da vacinação e, assim, desenvolve menos a forma grave da doença. As hospitalizações, agora, contemplam majoritariamente adultos jovens, que permanecem mais tempo na UTI.

De acordo com o professor, pessoas de até 50 anos saem mais, se expõem mais – consequentemente, se infectam mais. E, como acreditam ter um corpo mais forte que o dos idosos, resistem a procurar assistência. Quando o fazem, já estão em estado muito grave e exigem cuidados mais demorados.

“Esse tempo extra no hospital é complicado de administrar. Fora que esses jovens também desenvolvem sequelas da COVID-19 e, daí, precisam sair dos leitos de UTI para ocupar os de enfermaria, onde se submeterão a outros tratamentos. Com isso, a gente perde a capacidade de remanejamento dos leitos. Atualmente, nossa margem de manobra é de 13% do total. Mas se fica tudo ocupado – UTI e enfermaria – não sobra muita coisa para remanejar”, ressalta o médico

A proliferação de variantes do Sars-Cov-2 seria outro potencial agravante da crise. “Já circulam por aqui as variantes Alfa (do Reino Unido), Beta (África do Sul), Gama (brasileira) e Delta (Índia), todas com maior potencial de transmissão”, diz o especialista.

 

Fila de espera na Paraíba

 

O governador João Azevêdo (Cidadania) confirmou a existência de fila de espera por leitos Covid-19 na Paraíba e revelou preocupação com a situação, em evento promovido por ele, no Centro de Convenções, nesta segunda-feira (07). Segundo ele, é um risco que o estado corre diante desse cenário de alta transmissibilidade da Covid-19 entre a população, tratada com por ele como ‘terceira onda’, principalmente em João Pessoa, onde a taxa é alta.

“Quando se tem uma abertura muito grande, quem perde não o estado ou município, quem perde é a população, que vai se expor mais, que vai depender, muitas vezes de um leito de UTI, que, às vezes, pode até não ter no momento. Nós estamos hoje com fila de espera no estado e isso nos preocupa muito”, afirmou o governador.

O secretário de estado da Saúde, Geraldo Medeiros já admite que a Paraíba esteja em seu pior momento, com a ocupação de leitos de UTI e de enfermaria contra a Covid-19 sobrecarregados no fim de semana.  Ele disse em entrevista, na manhã desta segunda-feira (7), que já há fila de espera por leitos especializados para o tratamento da doença. “É o pior [momento] que nos encontramos ao longo da pandemia”, declarou.

Geraldo Medeiros lembrou que a Paraíba chegou, neste fim de semana, a uma média de 84% de ocupação de leitos UTI Covid-19 e 85% de leitos de enfermaria para Covid-19. Campina Grande tem um pior resultado, atingindo 101% em relação aos leitos de enfermaria. Quando aos leitos de UTI, o pior quadro é no Sertão, com 93%.

O secretário pontuou que a situação é crítica, até mesmo na capital que registra 80% de UTI e 75% nas enfermarias,  já que João Pessoa é a capital do Nordeste com a maior taxa de transmissibilidade dentre as capitais nordestinas. “Há pessoas esperando dentro de unidades hospitalares e UPAs porque há uma ocupação intensa”, afirmou Medeiros.

 

País contabiliza 473.404 mortes

O Brasil registrou 873 novas mortes causadas pela COVID-19, nas últimas 24 horas, de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgados ontem. Com os registros, o país contabiliza 473.404 óbitos desde o início da pandemia. O levantamento do Conass, que compila dados de secretarias de Saúde dos 26 estados e do Distrito Federal, apontou ainda 39.637 novos casos de COVID-19 em 24 horas, com 16.947.062 registros da doença no Brasil.

 



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