Saúde

Cegueira temporária ‘aguça a audição’, conclui estudo

Cérebro


20/02/2014

 A cegueira temporária causada pela escuridão pode abrir caminho para outros tipos de tratamento para pessoas com deficiências auditivas. Cientistas dos Estados Unidos mostraram que a audição fica mais aguçada nessa situação.

Em um experimento com ratos, as equipes da John Hopkins University e University of Maryland, nos Estados Unidos, compararam a audição dos animais que haviam sido mantidos no escuro por uma semana à de ratos expostos à luz natural.

O trabalho publicado na revista científica Neuron revelou que manter ratos no escuro por uma semana alterou seus cérebros e aumentou sua capacidade auditiva.

O efeito se manteve durante várias semanas após os animais voltarem a ambientes iluminados.

Especialistas qualificaram os resultados do estudo como "fascinantes". Porém, alguns pesquisadores acreditam que criar novos tratamentos para a perda de audição só seria possíveis se as alterações no cérebro fossem permanentes.

Reforço na audição

No estudo americano, os ratos que ficaram no escuro foram capazes de ouvir sons mais suaves e apresentaram mudanças na estrutura do seu córtex auditivo.

"Foi uma surpresa para nós", disse Patrick Kanold, da University of Maryland.

Uma das possíveis explicações para os resultados seria a hipótese de que parte do cérebro dedicada à visão estaria sendo redirecionada. Porém, os pesquisadores notaram que as porções do cérebro responsáveis pela audição estavam sendo "reforçadas".

"Não estamos gerando novos neurônios, estamos simplesmente fortalecendo as conexões que já existem no córtex auditivo", disse Kanold à BBC.

"Isso realmente nos dá esperanças de que haja algum potencial para que isso seja aplicado em humanos. E o que é bom é que não precisamos de remédios, então os testes seriam relativamente simples".

"(A descoberta) talvez tenha implicações sobre pessoas com deficiência auditiva, há muitas pessoas que recebem implantes auditivos cocleares quando adultas e é possível que (uma terapia baseada nessa descoberta) aumente o sucesso desses implantes", ele sugeriu.

Humanos

Não se sabe se as mesmas alterações observadas nos ratos ocorreriam em seres humanos ou se um possível tratamento poderia reverter o declínio auditivo associado ao envelhecimento.

Consultado pela BBC, Michael Akeroyd, do Institute of Hearing Research, dedicado a pesquisas auditivas na Escócia, disse achar o estudo "interessante". "Não sei se é prático, mas oferece potencial", disse.

Para Akeroyd é pouco provável que pessoas idosas sejam colocadas em uma sala escura durante uma semana ou mais. Porém, na opinião dele, o novo estudo contribui para uma maior consciência de que o sentido da audição não se resume ao ouvido.

O especialista disse também que existe uma grande diferença entre o ato mecânico, involuntário, de se ouvir um som e a capacidade de atribuirmos a ele um significado, um processo mais complexo.

"Existe um florescimento na produção científica em torno do treinamento auditivo e o desenvolvimento de formas de aprendermos a escutar melhor. É um tema muito quente no momento".

"Eu sugiro, como próxima etapa, que os pesquisadores descubram formas de conseguir mudanças permanentes. Se você puder torná-las permanentes, você ganhou a parada".

Outro especialista, Ralph Holme, chefe de pesquisas biomédicas da ONG Action on Hearing Loss, disse que o estudo é fascinante porque demonstra a forma como nossos sistemas sensoriais interagem.

"É uma pesquisa importante porque, uma vez que os mecanismos envolvidos sejam compreendidos, talvez seja possível desenvolvermos treinamento (auditivo) ou abordagens farmacológicas que reforcem esses processos para ajudar pessoas com perda de audição".



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