Geral

Casamentos & Divórcios


13/12/2011

 Nessas últimas semanas li reportagens sobre pesquisas do IBGE e a explosão de divórcios e re-casamentos no Brasil. Depois também vi na TV, comentários, debates sobre o tema. Não sou especialista, nem D. Flor , mas até que tenho alguns dados de estrada e causos que poderia dividir um dia.

Quando me casei , era uma menina, embora me achasse uma mulher feita de experiências diante da vida. Ledo engano. Dezenove anos é isso mesmo, uma menina, cheia de sonhos e de expectativas de viver a vida inteira junto. Mas como no filme Simplesmente Amor, como saber quem é o grande amor da sua vida? E qual o amor que é para a vida toda? Éramos jovens e não sabíamos. Era a década de 70 e o mundo explodia em novos comportamentos e sexualidades. E como garantir que viveríamos numa redoma sem nos deixar contaminar pelas milhões de possibilidades à nossa frente, fosse no Bar O Boiadeiro, fosse alhures.

Lembro que brinquei um carnaval sozinha, recém casada, e fantasiada de cigana. Com a barriga e a alma de fora. E eu brinquei tanto tanto, e toquei tantos pandeiros até altas madrugadas no Cabo Branco, que na quarta de cinzas, me deram as cinzas do meu próprio casamento. Ora, mulher casada que anda sozinha, é andorinha! Outra vez, viajei por um mês para Londres, e lá, dançava todas as noites nos Dance Clubbers. Ora , se os pubs fecham às 11 da noite, o que essa andorinha fazia até as longas madrugadas no meio dos fogs ? Perguntavam os Sherlocks ao meu redor. E eu, cheia de culpas e constrangimentos, me inquietava: “como não posso dançar? Só porque me casei?” Descobri aí, nessa temporada, que o casamento era sim uma prisão, mesmo que subjetiva. Pelo menos para uma menina que amava os Beatles e os Rolling Stones.

Casei-me de noiva, de sandália rasteiras, ao som de Jesus Alegria dos Homens e Bridge Over Troubled Water, tocado ao órgão pela arquiteta Eliane Freire, ex-dos Diplomatas, que recentemente nos deixou e hoje deve estar a tocar para alegria de Jesus. Na festa somente bolo com champanhe. E vatapá para os íntimos. Tudo tão simples, que hoje ninguém ousa ter tanta simplicidade. Já era simples antes de Danuza Leão!

Mas, quando acabou, diferentemente do censo comum, não acreditava que não tinha dado certo. Tinha dado certíssimo. Mas não sabíamos nos reinventar no cotidiano. Casamento é Morte e Vida Severina todo dia. Capacidade de – nada como uma boa noite de sono no meio de dois conflitos. É guerra de sexos sim. É guerra de poder. Mas também um exercício de humildade e compreensão. Sem submissão jamais. Naquela época, uma briga que fosse, era o fim do mundo. Quando se é muito jovem a urgência é a palavra de ordem. Não se sabe que: Nada é prá já!

Nunca sonhei em casar e ter filho como já contei em crônica. Outro dia , encontrei uma colega de geração , e ela falando de como os casamentos são frágeis hoje em dia,e falou: “Diferente do nosso tempo hein Ana, que queríamos casar”. Eu olhei em volta, pois aquilo não era comigo. Nunca planejei casar e constituir família, como se diz. Aliás, nunca planejei muita coisa. Sou aquariana, e a vida vai vivendo o seu curso. Não sei se isso é bom ou ruim, só sei que é assim comigo. Um dia por vez. E tenho muita dificuldade de saber planejar o ano que vem.

Casei-me num tempo que era obrigatório o uso do nome do marido. Com isso, perdi o nome da minha mãe. E depois fiquei com o meu novo nome de herança, por carinho e memória de duração. Uma parte de mim. E depois das dores e apartes, ficávamos um tempo de molho para averbar um papel com nome de “Desquite”. E com esse nome, uma acusação: “Ela é desquitada!” Que perigo! Que ameaça! Embora nunca tenha dado cabimento a esse título. Sentia-me a mesma, e diferente , claro. Somente alguns anos depois mudei de nível e virei uma mulher divorciada. E como achei elegante esse status! Depois, já em outras Bodas de Papel, e sem papel algum, toda vez que preenchia meu imposto de renda, onde tinha Estado Civil, assinalava o X de “Outros”. E de Outros em Outros, cheguei a casada de fato, pois 23 anos desbravando a natureza humana (a minha e a do amado), não posso mais me achar coisa alguma, senão casada de novo. E concordo com Ruth de Aquino na Revista Época da semana: “Recasar não é começar de novo, mas continuar na mesma estrada!”

Interessante que, quando meus filhos eram pequenos, tinham medo que o prazo de validade do meu casamento estivesse por vencer. E viviam me perguntando se eu ia me separar DE NOVO… Era difícil convencê-los do contrário. E ao contrário das leis dos bons costumes, e numa pura ironia, eles se sentiam inseguros, porque no colégio, quase todos os coleguinhas eram filhos de pais separados. E deviam se perguntar: “Como minha mãe ainda não faz parte desse lugar comum que era o da separação?” Ao ponto de, na Escolinha Sempre Viva, não se comemorava dia das mães nem tão pouco dia dos pais. Mas o dia da família, pois o que tinha de ex-; futuros-; e atuais….,somente uma mesa comunitária poderia dar conta dessa nova família e desses novos amores também.
As separações modernas, doeram sim, e quebramos o pau, mas não tivemos mais a necessidade de quebrar o pau na casa das amantes, quebrávamos nas nossas próprias, incrédulos e sonhadores. Éramos da geração pós-hippies e do amor livre, da paz e amor, mesmo que ainda com muitas repressões internas principalmente. Agora digerir, mastigar as relações não era coisa fácil. Não queríamos ser como nossos pais, mas não sabíamos como ser diferentes tão pouco. Nessas pesquisas, li que as mulheres não agüentam viver o insuportável, e por isso exigem discutir a relação. Já os homens odeiam essas DRs, porque eles botam prá debaixo do tapete todo e qualquer desentendimento. Tem verdadeiro pânico de praticar o pão pão queijo queijo. Li também que, a maior queixa das mulheres nos consultórios psicanalíticos, é sobre o narcisismo do homem. Pronto! Tá explicado. Homem olhando pró umbigo, e mulheres olhando ao redor! Teria distância mais absoluta? Marte e Vênus não superam essas léguas luzes.

Quando vou à festas de casamento, fico impressionada com o conto de fadas armado. As fadas estão aí com tudo. Mais do que nunca, o romantismo é preciso. As daminhas revirando os olhinhos/ as noivas translumbrantes tremendo os queixos; o noivo meio sem jeito diante daquela pompa; buffets que nem a realeza britânica nunca viu igual; cornetas fazendo o grande anúncio; portas centenárias rangendo, e uma platéia muda e silenciosa, com os olhos entumecidos, assistindo em pose testemunhal, aquele discurso que não é do Rei, mas de um padre tentando ser engraçado e fora de propósito, que aprisiona com o “até que a morte os separe”. Aliás, os padres por aqui de maneira geral, são por demais inoportunos: fazem graça onde a ocasião é solene; tentam dividir com os convidados certas pilhérias machistas; e esbravejam palavras de ordem, que já não cabem nos dias de hoje. Uma comédia de erros, com chuva de arroz, pompa e circunstância.

O segredo para uma longa jornada noite adentro? Não tem. Cada química é única. Mas, acho que, o principal segredo é o de se ter uma vida própria; entender que depois de uma briga estúpida o mundo não acaba; ter a capacidade de pedir desculpas; de perdoar; e de rir de si mesma e do outro, e dos dois. Não quebrar o encanto cotidianamente também vale. E tomar muito, mas muito cuidado mesmo, com a chegada dos filhos. As mulheres tem mania de abandonar os homens com a chegada dos filhos. E não poderia ser diferente. Durante anos temos que cuidar cuidar e cuidar. Sim! Nunca chamar o marido de “filho” também vale. São instâncias/sintonias diferentes, onde o tesão não navega jamais. A não ser que seja uma fantasia sexual….e por falar em fantasia, vale fantasiar também; só não vale que estamos num conto de fadas. Num Conto Chinês talvez….Quartos separados, banheiros separados e escovas de dentes separadas, talvez seja a receita do casamento moderno. Mas daí todo o cuidado é pouco, pois o fio da navalha é tão tênue, que nem Sommerset Maugham saberia decifrar o fio.

E já que estamos falando de conto de fadas….leitura obrigatória se faz o conto de Marina Colasanti – A Moça Tecelã, que fala sobre uma donzela que tecia tudo que queria e era feliz, até que se sentiu sozinha e teve a idéia de tecer um homem, um amor. Esse amor que logo se mostrou ganancioso, foi lhe pedindo mais e mais, até que quando se viu, só tecia, para agradar e suprir o amado. Foi quando , na torre do castelo sentiu-se triste e aprisionada, e num piscar de olhos danou-se a desfiar tudo o que construíra, até que desfiou seu príncipe. E viveu feliz para sempre.

E Viva os Noivos!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 12 de dezembro 2011



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