Paraíba

Candidato a reitor Valdiney Gouveia concede entrevista exclusiva ao WSCOM

ELEIÇÕES


07/03/2016

O Portal WSCOM fez uma entrevista exclusiva com o candidato a reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB0, Valdiney Veloso Gouveia. O professor Valdiney Gouveia, do curso de Psicologia da UFPB, confirmou sua candidatura a reitor ao lado da vice, professora Viviany Pessoa, de Psicopedagogia, do Centro de Educação.

Confira a entrevista na íntegra

– O que lhe leva a liderar uma Chapa para disputar a Reitoria da UFPB?

RESPOSTA: Tenho respondido a respeito em nosso blog (http://vvgouveia.net/orgulhodeserufpb/). Em essência, a sensação de estarmos ficando para trás no cenário do ensino superior, sobretudo por nos contentar em estarmos em 5º lugar no ranking do Nordeste, ou nos orgulharmos de um ou outro curso que recebe conceito 4 ou 5 do MEC. A UFPB precisa ser mais do que isso, rompendo com disputas domésticas e apego ao poder, visando seu crescimento como um todo; de nada adianta que tenhamos um ou outro curso ou centro com ótimas condições se ao redor contemplamos desigualdades, descasos e recursos precários. Não devemos nivelar por baixo, mas por cima e igualmente. Não pretendo me perpetuar no poder; uma única gestão de 4 anos, estimo, será suficiente para dar outro espírito à nossa Universidade. Ninguém espere que passaremos da noite à manhã a figurar entre as Top 10 do Brasil, mas teremos sedimentado uma estrutura capaz de favorecer a integração, o crescimento compartilhado e a autonomia da Universidade.  Se a comunidade universitária me confiar esta honra de ser Reitor, minha Vice-Reitora (Profa. Viviany Pessoa) e eu dedicaremos o próximo quadriênio a fazer o nosso melhor, trabalhando arduamente para consolidar nossa Universidade. Por isso não desejaremos reeleição, pois dificilmente teremos condições físicas ou intelectuais para tanto, já que nossas propostas começarão a se repetir, necessitando ser oxigenadas. O perigo do continuísmo é esse: paralisia da gestão! Contar com uma UFPB aberta a possibilidades, renovada e plural me motivou a esta disputa a Reitoria. Como credenciais são minha formação, inserção nacional e internacional, atuação continuada em ensino (graduação, mestrado e doutorado), pesquisa e extensão. Minha maturidade é evidente, tendo consolidado minha carreira como Professor Titular e Pesquisador 1A do CNPq – um dos seus de nossa Universidade -), tendo experiência administrativa nesta Instituição (Coordenador de Mestrado e Doutorado) e no Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica.

– Qual a avaliação que o sr faz da universidade? 

RESPOSTA: Quando retornei à Paraíba, final de 1991, tinha a chance de prestar concurso em instituição vizinha (UFRN), mas não me agradou; pareceu-me então um grupo escolar. Deste modo, decidi concorrer a uma vaga para Psicologia Experimental na UFPB. Tínhamos à época um Mestrado em Psicologia, que evoluiu para um programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia Social. No caso, a Psicologia avançou, inclusive em conceito junto à CAPES (hoje somos uma das onze pós-graduações da UFPB com conceito 5; apenas duas têm o conceito 6 e, infelizmente, nenhuma o máximo conceito, 7). Lamentavelmente, temo que os papéis se inverteram e hoje estamos atrás da UFRN, que soube investir em ciência e tecnologia, abrindo-se à inciativa privada sem abrir mão de sua natureza pública. Certamente, a cisão, criando a Universidade Federal de Campina Grande, em muito contribuiu para nossa queda; eles sempre foram bons em áreas técnicas e engenharias, tendo um Parque Tecnológico que jamais cuidamos em reconstituir. Nossa Universidade também se fechou para oportunidades, contando com organização administrativa arcaica, que, por exemplo, reúne na mesma Pró-Reitoria a pós-graduação e a pesquisa, e descuida de instância que possa integrar as diversas ações da Universidade (e.g., escolar, contábil, administrativa). Tratamos como favor a assistência estudantil (os estudantes são nosso maior patrimônio) e jogamos para debaixo do tapete não a sujeira, mas nossos principais valores, raramente se reconhecendo professor, estudante ou técnico por mérito, mas por afinidade política, parentesco ou amizade. Cada um de nós pode listar os múltiplos casos desta e de gestões passadas. A propósito, as igrejinhas tratam de negar tudo que possa ter sido feito por outras gestões, renunciando, inclusive, a concluir projetos que não deram motivo. Nossa Universidade está definhando, sobretudo em razão de ações mesquinhas que a debilitam, e na falta de um planejamento, cada grupo, departamento ou centro tenta se salvar, priorizando obras e ações que não refletem sua integração; a sensação é de que não somos, de fato, uma Universidade.

– Como o senhor se definiria ideologicamente – Esquerda, Direita, Centro -, e como tem se dado sua militância política? 

RESPOSTA: Nunca tive ações atreladas a partidos políticos, nem pretendo galgar uma trajetória política para além dos muros da Universidade. Não me considero de esquerda, direita ou centro, muito pelo contrário. Considero-me como alguém que faz a leitura da realidade, apoiando o melhor para a coletividade, sem deixar de reconhecer contribuições passadas, como as de Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva. No caso, importa-me pouco que partido estará no comando do país, se PT, PSB, PCdoB, PSD, PSDB, PP ou qualquer outro; aliás, no Brasil, com algumas exceções, os partidos ou as ideologias sucumbem aos interesses pessoais. A Universidade, infelizmente, reflete por vezes as agremiações partidárias, ficando em segundo plano. A história recente mostra que se perde a Reitoria e como consolo se ganham cargos nas administrações locais; em contrapartida, se a disputa no Município ou Estado não tiver êxito, abrem-se as portas da Universidade para acomodar aliados na gestão ou, estranhamente, em empresas terceirizadas. Um Reitor – não se confunda a pessoa com o cargo – não pode ter partido, time de futebol ou religião. Ele precisa desestimular grupos dentro da Universidade, premiando a integração, inclusive incentivando ações que se proponham a compartilhar recursos, instrumentos e profissionais. Infelizmente, chegamos a ponto de nossa Magnífica Reitora, segundo noticiário nacional, usar verba da própria UFPB para viajar a Brasília e assinar carta de apoio à reeleição de nossa Presidente. Penso que isso é um equívoco! E se fosse apoio à Aécio Neves? Seguiria sendo um equívoco com implicações desastrosas, intensificando as disputas internas e excluindo os que não são do grupo. Ninguém está impedido de ter preferências, mas estas não podem se sobrepor ao que precisa nos unir: a Universidade.

– Quais os principais eixos de sua proposta à comunidade universitária com abordagens específicas aos Professores, Estudantes e Técnico – Administrativos? 

RESPOSTA: Um dos principais eixos será integrá-los, inclusive compartilhando recursos que podem ser disponíveis a todos, a exemplo de restaurante universitário, transporte circular nos campi, programas de promoção de saúde e qualidade de vida. Um outro eixo é garantir um planejamento de Universidade a curto e médio prazos, orientando gestões que nos sucederão; não renunciaremos às obras existentes ou contribuições de colegas hoje à frente da UFPB. A ideia é focar em competência de todos (estudantes, técnicos e professores), premiando a qualificação, a experiência e a entrega; não esperaremos mais 60 anos para reconhecer nossos principais personagens. Pretendemos que haja uma abertura da Universidade, celebrando convênios com organizações governamentais e não-governamentais, atraindo recursos de empresas privadas, que podem ser parceiras, facilitando a incorporação de nossos estudantes no mercado de trabalho e proporcionando recursos em contrapartida a testagem de produtos, por exemplo. O Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação precisará ser imediatamente regulamentado em nossa Instituição, contando com regras explícitas e claras que favoreçam o avanço da UFPB, que precisará crescer verticalmente. Precisamos potencializar uma incubadora e um parque tecnológico, além de reconhecer e incentivar o ensino a distância, criando um Centro com condições de funcionar. Não adianta criar indiscriminadamente cursos de graduação e pós-graduação, requerendo-se apoio aos novos, mas, também, condições favoráveis aos já existentes. Não descuidaremos da arte, cultura e extensão, buscando os melhores nomes, independente de apoio político ou opção partidária. Os campi do interior não podem ser encarados como anexos. Eles são partes centrais e prioritárias da Universidade, que precisa se fazer presente, preferentemente, em todo o Estado. Mangabeira e Santa Rita não podem seguir como estão, sem infraestrutura mínima. É importante lembrar que somos uma grande comunidade, contando com mais de 50 mil pessoas, devendo exercer sua força junto aos governos municipais e estadual.
O Hospital Universitário (HULW) deverá se modernizar e democratizar, integrando as equipes da EBSERH e aqueles com vínculo direto; a Reitoria não imporá quem comandará os que atuam neste hospital, ouvindo-se os que ali exercem suas atividades profissionais. Questões de infraestrutura merecerão atenção, como a rede elétrica, o abastecimento e consumo de água, a qualidade de nossa conexão à internet, o controle viário e o estacionamento. A segurança será um item priorizado, desenvolvendo sistema que une filmadoras, vigilância motorizada e pontos telefônicos de apoio. Neste contexto, um ônibus circulando em horários estratégicos poderá ser importante.

– Como o senhor acompanhou a greve dos estudantes com ocupação da Reitoria? 

RESPOSTA: Acompanhei com preocupação. A greve, embora necessária, é um recurso extremo em uma negociação; a greve de fome ultrapassa o humanamente razoável, denunciando a falência de uma gestão que reluta em negociar. As reivindicações não eram factíveis? Simples: poder-se-ia dialogar e construir soluções específicas em conjunto com os seus proponentes. Agora, dar as costas sugere flagrante desconsideração e suscita reações diversas, que tendem a se intensificar. Felizmente, as partes recapacitaram e, confio, encontrem outras formas de negociar. Estive em algumas ocasiões no local onde os jovens estavam amarrados; entre os que fizeram greve de fome havia um que ensinei e hoje cursa uma disciplina comigo, tratando-se de pessoa educada, que se empenha em aprender e, de fato, não tem recursos econômicos suficientes para bancar seus estudos. Deste modo, quando há notícias de gente na residência sem vínculo institucional e trabalhando em empresa terceirizada, não me estranha a revolta de jovens que lutam pela democratização da assistência estudantil. Infelizmente, os que se mantiveram de fora tiveram opiniões pouco embasadas, alguns generalizando e chamando os estudantes grevistas de bandidos, e outros escracharam a Reitora, acusando-a de ditadora. Prefiro não julgá-los! O que posso dizer é que, uma vez mais, passamos uma imagem negativa para a sociedade; ensinamos direitos humanos, resolução de conflitos e gestão, mas nos revelamos incapazes de lidar com problemas internos, demandando presença de membros do Ministério Público Federal.

– Qual sua opinião sobre o episódio? 

RESPOSTA: Esta greve, como qualquer outra, teve um cunho ou refletiu uma ação política, representando uma forma de protestar e um apelo drástico de pessoas que se viram desamparadas ou privadas de seus direitos. Houve agressão à Magnifica Reitora? Sinceramente, não posso afirmar ou negar, mas espero que não. Não estamos falando da candidata Profa. Margareth Diniz, que pode ter ou não a simpatia de membros da comunidade universitária, mas da personificação máxima de nossa Instituição, que precisa ser respeitada. Infelizmente, ser candidata à reeleição e seguir no cargo tem o bônus do uso possível da “máquina pública”, porém o ônus de lidar com a insatisfação de parcela dos que fazem a Universidade. Em definitiva, a “ocupação da Reitoria” poderia ter sido evitada se houvesse disponibilidade inicial de negociar por parte da Reitora, quem detém o poder, sendo a outra parte do conflito hipossuficiente para tomar qualquer decisão (além da renúncia de suas reivindicações) que o findasse. Não podemos impedir a greve, incluindo a greve de fome, mas devemos negociar para contorná-la, evitando colocar em risco a vida das pessoas.
Confio que este episódio suscite algumas reflexões importantes. Uma evidente é como lidar com a assistência estudantil de forma responsável e planejada, incluindo residência e restaurante universitários, mas também os auxílios e as bolsas disponibilizados pela UFPB, que precisam ter critérios transparentes, sendo difundidos com antecedência e respeitando calendário pré-fixado. Contudo, chamo atenção para uma segunda, porém não menos importante implicação: o contexto paralisante de uma reeleição. Se um Reitor faz uma péssima gestão, não deveria desejar ser reconduzido, pois apenas amplificará os problemas; tendo feito uma ótima gestão, significará esgotamento de forças e, comumente, ideias. Por isso sou contrário à reeleição, pretendendo, se for eleito, introduzir esse impedimento em nosso Regimento.

– Como líder universitário, qual a avaliação que o Sr faz da conjuntura brasileira – Lava Jato, Congresso Nacional…que avaliação tens do recente caso Lula levado coercitivamente à PF? E sobre Aécio, FHC… 

RESPOSTA: Vivemos uma crise de interesses, incluindo aqueles dos próprios grupos, que têm sido revelados para a surpresa dos litigantes. O aprimoramento dos controles fiscais e as investigações pormenorizadas têm favorecido a identificação de personagens há pouco livres de quaisquer suspeitas. Neste contexto, as acusações de parte a parte aprofundam a crise, e a solução tem sido defender níveis de culpabilidade, em que as culpas de um e outro lado se anulam sob o olhar incrédulo da população geral.  Desculpam-se atos delitivos dos nossos em razão dos daqueles que integram os demais grupos, inexistindo qualquer preocupação concreta com o rumo do país. A situação beira ao absurdo de grupos descriminalizarem conduta delitiva abaixo de determinado valor, sempre acima daquele que qualquer professor ou pesquisador bem-sucedido possa obter trabalhando por 100 anos, por exemplo. Manobras para protelar ações em diversos âmbitos da justiça ou legislativo, incluindo as mais elevadas instâncias, expõem nosso país ao ridículo no contexto internacional. O que poderia ser uma ação contra político A ou B se converte em motivo de insultos e agressões entre agremiações, que juram inocência (ao menos culpa aceitável) de seus líderes, apesar de quaisquer evidências em contrário. FHC e Lula, a despeito de suas importantes contribuições ao país, devem se submeter às normas legais; Aécio não pode ser tratado com diferença. A Presidente Dilma Rousseff merece respeito como máxima mandatária de nosso país, mas também não pode agir à revelia da Lei. O caso específico da condução coercitiva do Lula para depor na Polícia Federal, cujos juristas não acabam de concordar sobre sua ilegalidade ou não, é um exemplo de nossa insanidade. Cedo aprendi que ato judicial se cumpre primeiro, discutindo-se oportunamente; penso que a situação constrangedora vivenciada pelo ex-Presidente poderia ter sido evitada se ele tivesse se apresentado espontaneamente. Entretanto, sua condenação ou absolvição não pode ser popular ou política, mas legal, pautada em provas, conferindo-lhe chance de defesa ampla.

– No âmbito geral, como avalias as políticas do Ministério da Educação com IEFs e o que defenderá com prioridade para UFPB?

RESPOSTA: Seguramente, as Universidades e os Institutos Federais jamais cresceram tanto como na gestão do Governo há mais de uma década no poder. De fato, investiu-se muito dinheiro, como no programa Ciência sem Fronteiras, no aumento de bolsas de Apoio Técnico e Iniciação Científica, na criação de cursos de graduação e pós-graduação, incluindo em cidades do interior, e consequente expansão de vagas e, notadamente, a proliferação de obras. Contudo, não estávamos preparados! Por exemplo, construímos Universidades sem pensar no entorno, na adaptação de professores e técnicos, sem dar condições de vida e trabalho; nossa Universidade, desastrosamente, sem qualquer planejamento, esgotou todos os terrenos construindo dezenas de prédios precários para atender demandas desconexas, que não se integraram sob qualquer planejamento institucional, mas principalmente para atender a anseios de aliados que cobraram sua contrapartida por apoio político. A prioridade da Universidade precisa ser, primeiramente, conhecer seu patrimônio, mapear sua capacidade, concluindo obras de modo a atender as demandas presentes. Superada esta fase, precisaremos incrementar ideias que signifiquem a captação de recursos, minorando a dependência do Governo Federal. Por exemplo, criaremos o Parque Tecnológico e a Incubadora, além de um Centro de Estudos, Concursos e Eventos. Breve se dará conhecimento de nossa carta-proposta, onde detalhamos todas as inovações, incluindo mudanças na estrutura administrativa da UFPB. 



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