Economia & Negócios

Briga de fast fashion pode derrubar preço

Moda


04/04/2014

 Após três semanas da chegada da Forever 21 no Brasil, oferecendo calças jeans a R$ 34,90 e acessórios a R$ 8, as filas para entrar na loja de São Paulo, que chegaram a demorar seis horas, continuam, ainda que um pouco mais rápidas, bem como a espera para provar as peças e realizar o pagamento.

A marca norte-americana de fast fashion (como é conhecido o conceito adotado por algumas redes de moda de lançamento de muitas coleções durante o ano) foi a única grande empresa internacional a chegar no Brasil recentemente com a mesma proposta e faixa de preços similar às de suas lojas no exterior.

Neste primeiro momento, a marca parece ter driblado o custo Brasil para importar peças com preços semelhantes aos vistos nas lojas nos EUA.

Como consequência, encontrou consumidoras brasileiras ávidas por qualidade, marca e preço atraente. A sueca H&M busca ponto no Brasil e fechará o ciclo da vinda das grandes redes globais que oferecem o conceito. A Zara chegou em 1999. Já a holandesa C&A é a pioneira: está no País desde 1976.

Diante dessa movimentação no segmento, que inclui mudanças também nas redes nacionais, os especialistas fazem coro: com o aumento da concorrência, o maior beneficiado é o consumidor.

Redes podem revisar preços

Ainda que os preços baixos das roupas importadas da Forever 21 não se mantenham (e por enquanto a rede tem apenas duas lojas no País), e sejam apenas uma estratégia de chegada da marca, para a professora do curso de pós-graduação em moda do Centro Universitário Senac, Astrid Façanha, o estrago já foi feito. "A marca mostrou que pode ser possível vender mais por menos. Os concorrentes vão precisar realizar ações semelhantes e podem iniciar uma queda de braço em relação a preço".

Quando são comparados os preços das redes de fast fashion aos cobrados por butiques, Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da consultoria especializada em varejo Gouvêa de Souza (GS&MD), acredita que os dois sejam. "Não tem havido abusos".

Porém, o consultor acredita que o cenário pode mudar com a chegada de um concorrente agressivo. "Acredito que revisões de preços são possíveis".

Pressionado por um cenário econômico mais desafiador, a deflação do setor de vestuário já está acontecendo desde o início do ano. Para o consultor do setor de varejo Claudio Felisoni, uma maior concorrência também pode ajudar a dar impulso para este índice.

As roupas ficaram 0,15% mais baratas em janeiro e 0,40% em fevereiro, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Mas o item ainda tem uma grande alta acumulada nos últimos anos, consequência de um aumento vigoroso do consumo e migração de uma parcela da população para as classes B, C e D.

Enquanto itens básicos costumam ter uma variação menor de preços, os mais sofisticados, que envolvem design e marca, tendem a flutuar mais. São estes itens que podem ser pressionados e ficarem mais competitivos.

Consumidor vai encontrar mais diversidade

A tendência, de acordo com a professora do Centro Universitário Senac, Astrid Façanha, é que os preços da Forever 21 se mantenham em uma faixa inferior à da Zara e sejam um pouco acima das marcas nacionais.

Como consequência, haverá maior disputa pelos consumidores das classes A e B, que já dividem compras entre butiques de luxo acessível e o fast fashion, e é uma faixa lucrativa, que pode aumentar o gasto médio nas redes.

Leia também: Descubra qual rede de fast fashion cobra menos?

A criação deste nicho é benéfica. "O consumidor irá encontrar mais diversidade, tanto em peças quanto em preços. Ganha uma opção para comparar", diz Astrid.

Lorenzo Merlino, professor do curso de design de moda da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), aponta que a Zara preferiu disputar o segmento de consumidor das classes A e B até C. "A rede não chega à classe D, apenas D+, por conta de preço. Mas a Forever 21 tem como disputar a classe D também".

Com qual preço a H&M irá chegar no País ainda é uma incógnita. "É provável que fique abaixo da Zara, mas acima da Forever 21", diz a professora do Senac, Astrid.

Para Lorenzo Merlino, da Faap, a questão não é disputar o mercado atual de moda no País, mas também o seu crescimento futuro. "A migração entre classes deve continuar acontecendo no Brasil. É isso que atrai as redes internacionais aquii".

Para competir com maior igualdade com as nacionais, as internacionais precisam ganhar escala, o que pode diluir o custo dos produtos importados. A Forever 21 prevê 100 lojas no País, mas serão apenas sete até o ano que vem. A C&A tem hoje cerca de 260 pontos de venda.

"As margens financeiras do setor de vestuário já são baixas. Isso é necessário para a competição. A H&M não veio até hoje para o País porque está buscando esta estrutura", diz Merlino, da Faap.

Marcas terão de se fortalecer

O trunfo das redes internacionais na disputa por mercado com as marcas nacionais é a imagem da marca. "Comprar uma grife de fora tem grande apelo. É uma questão emocional, de experiência de marca", diz a professora do Senac, Astrid Façanha.

Esse ponto é importante principalmente entre os consumidores da classe C, diz Lorenzo Merlino, professor da Faap. "Quem migrou de classes passa por um período de afirmação no qual consome com mais afinco para demonstrar seu novo status social. E a roupa é muito importante por estar relacionada com a sua imagem".

Astrid aponta que é mais fácil chegar com uma imagem de marca determinada, como a Forever 21, do que construí-la. "As varejistas nacionais já foram conhecidas por produtos populares. É mais difícil se reposicionar e ter o mesmo apelo".

A modelo Diana Oliveira, de 25 anos, era uma das consumidoras na fila para entrar na Forever 21 nesta terça-feira (1º). Ela afirmou já ter deixado de comprar na Renner e na Marisa, mas ainda adquire produtos de redes como Riachuelo e C&A. "As peças são mais bonitas". Ela já comprava na Forever 21 nos Estados Unidos.

As redes nacionais já vêm se preparando para o aumento da concorrência. Este ano, a Riachuelo abriu sua primeira loja conceito na Rua Oscar Freire, endereço conhecido de São Paulo pelas marcas estilosas. A C&A aposta cada vez mais em coleções de estilistas, agora internacionais. Após a chegada da Forever 21, a rede anunciou nesta semana uma nova parceria com Francisco Costa, da Calvin Klein.



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