Atualmente, cerca de 232 mil brasileiros estão em situação irregular nos EUA, tornando o Brasil o 8º país com maior número de imigrantes sem documentos no território americano, conforme dados do Departamento de Segurança Interna de 2023. Entre outubro de 2019 e setembro deste ano, 162 mil brasileiros foram flagrados tentando cruzar a fronteira entre México e os Estados Unidos, colocando-os na 12ª posição de nacionalidades mais apreendidas. Para muitos, como a mineira Lucimara Rodrigues, que chegou aos Estados Unidos há 21 anos, o sonho de uma vida melhor nunca foi simples, principalmente por não ter conseguido regularizar seu status imigratório.
“Durante o primeiro governo Trump, eu tinha medo de ser deportada porque ele colocava blitz de agentes da Imigração nas ruas. Não dá para sair à noite. Você vive com medo de que seus vizinhos chamem a Imigração para pegar você”, relatou .
A sensação de insegurança também é compartilhada por Elen Silva, que imigrou em 2018 e agora trabalha em uma ONG que auxilia outros imigrantes. “O que mais preocupa são as ordens de Trump, que no primeiro mandato limitaram o acesso de migrantes a direitos básicos”, afirmou Elen. Ela ainda destacou que o governo do ex-presidente retirou direitos fundamentais dos imigrantes, o que impactou diretamente suas chances de conseguir o tão almejado green card.
Com o controle republicano no Senado e uma Suprema Corte majoritariamente conservadora, as mudanças prometidas por Trump podem ser ainda mais amplas e rigorosas. A possibilidade de agentes da imigração realizarem abordagens, inclusive por policiais locais, é uma das preocupações de Lucimara e Elen. Atualmente, tal prática é proibida.
Gustavo Nicolau, advogado especializado em imigração, alerta para o impacto de uma retórica anti-imigração sobre o sistema judiciário dos EUA, que pode “contaminar” o processo de deportação. “Hoje, um imigrante irregular geralmente só tem um processo de deportação se tiver um registro criminal. Mas Trump pode reduzir o limite de gravidade para esses casos”, afirmou o advogado.
Embora a política de deportação em massa seja uma de suas promessas mais visíveis, Trump também propôs aumentar o número de green cards para imigrantes qualificados, o que, segundo Nicolau, pode estimular a chamada “fuga de cérebros” de outros países, ao reduzir vistos baseados em laços familiares e focar em profissionais especializados. “A promessa de deportar todos é bravata. O governo americano sabe que precisa de imigrantes qualificados para competir com países como China e Rússia”, concluiu o advogado.