Economia & Negócios

Brasileiro poupa mais e comércio espera Natal tímido

compras


11/11/2013



 O Natal deste ano poderá trazer boas notícias sobre a organização financeira do brasileiro. Segundo pesquisa nacional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o número de brasileiros que pretende poupar o 13º salário passou de 16,3% no ano passado para 20,4% em 2013. O contingente de poupadores não subia desde o final de 2009, quando o otimismo tomava conta do mercado e preparava o terreno para um ano especial – no qual o País somou um Produto Interno Bruto ( PIB ) de 7,5%.

Esse número indica mais um passo para a aproximação entre o número de poupadores e de endividados. Apenas 24,5% da população pesquisada pretende usar o salário extra para pagar dívidas – número bem inferior aos 32,6% do levantamento do ano passado.
 

A pesquisa também destaca a ascensão no número de indecisos, para 20,4%. “Esse número de indecisos nunca foi tão grande”, diz Emílio Alfieri, economista da ACSP. “Esse indicador, somado ao interesse na poupança, dão um sinal claro que há um contexto de insegurança no ar. Vamos ter um Natal morno.”

Desânimo

Não por acaso, o comércio está desanimado para o Natal deste ano. No começo de dezembro, a Fecomercio-SP deverá divulgar as expectativas oficiais para este ano, mas Altamir Carvalho, economista da entidade, já adianta que os juros mais altos e a valorização do dólar podem comprometer resultados melhores. “O reflexo é direto nas compras de Natal”, afirma. A instituição espera um crescimento de 2% a 3% nas vendas desse período, em comparação com as festas de 2012.

Como em todas os prognósticos econômicos, o risco de erro não é pequeno. A Fecomércio-SP, por exemplo, evita frustrações. Nos últimos quatro anos, as expectativas ficaram abaixo dos resultados apontados na pesquisa pós-vendas de Naral. Em 2009, a diferença entre expectativa e resultado chegou a 2,4 pontos porcentuais.

Economia da vida real

Aos 60 anos, a paulistana Vera Lúcia Gomes encontrou um bom caminho para organizar suas compras de Natal. A partir de setembro, ela já começa a passear pelas lojas do centro de São Paulo em busca dos presentes para toda a família. São oito irmãos. Mais os sobrinhos e sobrinhos-neto e ainda fazem parte da lista o marido e a filha.

A família é grande e o número de presentes também. A antecipação tem um motivo e tanto: a conta do cartão de crédito . A cada virada da fatura, ela vai lá e compra mais uma parte. “Já estou na segunda etapa este ano, mas ainda falta bastante coisa para comprar”, conta.

Vera Lúcia faz parte de um contingente crescente de brasileiros mais preocupados com a qualidade do seu endividamento. Este é um dos resultados apontados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que produz mensalmente uma pesquisa sobre inadimplência e endividamento.

Marianne Hanson, responsável pela pesquisa é quem traz a boa notícia. "O endividamento cresceu de 59,7% para 62,5%, mas a qualidade desse endividamento melhorou", explica. Em outras palavras: em vez de parcelar as compras de Natal, o brasileiro está preferindo parcelar a casa própria, o carro e, no máximo, os eletrodomésticos.

Clientes como Vera Lúcia podem ser a salvação para os comerciantes neste Natal. O ritmo de vendas ainda não engrenou completamente e, pelo que percebem do movimento, não deverá ganhar tanta força. Andréia Bessa, diretora do Lojão do Brás , rede de lojas de moda e produtos para casa, espera um crescimento de 3% a 5% nas vendas de Natal este ano. “Não teremos mais Natais como o de 2010”, diz,

O fato é que em 2010 a renda média real do brasileiro , descontados os efeitos de inflação, cresceu 3,8%, para R$ 1,5 mil. Um recorde. Este também foi o melhor Natal para o Lojão do Brás – mas o faturamento, Andréia não revela. “Nossa base comparativa é muito alta, fica difícil manter esse ritmo. Uma hora ia desacelerar”, explica a diretora.

 Segundo Andréia, que dirige o Lojão do Brás, quando as vendas de Natal engrenarem, passarão, em média, 25 mil pessoas por dia na loja matriz, situada no Largo da Concórdia, no Brás. Nesta época do ano a equipe de trabalho de toda a rede quase dobra, de 2.500 para 4.500 funcionários. O cartão do crédito é o principal meio de pagamento.

Vantagens

Gê da Silva Oliveira, de 38 anos, trabalha na Vilani Modas, um pequeno box dentro de uma galeria conhecida como Beco das Fábricas, no bairro do Brás.

Gê da Silva Oliveira vê movimento cair pela metade.

No comércio desde os 13 anos, quando trabalhava na feira com o pai, Gê afirma ter visto poucos Natais com o ritmo tão devagar. “Ano passado a gente atendia umas 15 pessoas por dia nessa época do ano. Ontem (dia 6), por exemplo, foram só quatro pessoas o dia inteiro”, lamenta. Se está ruim para as vendas, para ela a coisa também não vai bem. Comissionada, vai ter de apertar um pouco o cinto neste Natal. “A gente pensa positivo, mas não dá para negar que a coisa está mais devagar”, diz.

Quanto mais, melhor

Se há comerciantes receosos quanto às vendas de fim de ano, Ondamar Fernandes, gerente de loja dos Armarinhos Fernando, mostra otimismo.

A última quinta-feira (7) foi de movimento médio na loja matriz dos Armarinhos Fernando, na rua 25 de março – o mais famoso endereço de comércio popular de São Paulo. Segundo Fernandes, foram cerca de 6 mil clientes – bem menos que os 8,5 mil diários e os 11 mil em épocas de Natal. Para este ano, ele trouxe mais 300 opções em enfeites de Natal e 40 itens a mais em brinquedos – o setor mais forte na loja.

Ondamar pretende vender 10% mais neste Natal do que no ano passado. “Pelo movimento que estamos vendo, vamos bater a meta”, diz Fernandes.

Quem compartilha desse otimismo é Maurício Stainoff, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo (FCDLESP). Segundo levantamento feito pela federação, o valor médio de venda deve ficar entre R$ 100 e R$ 150. No Brasil, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas espera crescimento de 5% nas vendas.

Para Stainoff, os R$ 143 bilhões que serão injetados na economia com 13º salário são suficientemente positivos para sustentar o otimismo. “O valor é quase 10% maior que o do ano passado, isso deve estimular as compras”, diz.

Mesmo assim, não dá para comemorar antes do tempo. “Já entramos em uma fase de acomodação”, diz. “A classe média é mais dependente da condição macroeconômica e das condições do mercado. Se a economia desacelera, ela sente primeiro.”

Otimismo no Rio de Janeiro

Nem as violentas manifestações que marcaram o Rio de Janeiro ao longo do segundo semestre foram suficientes para tirar o otimismo do comércio. Segundo Aldo Gonçalves, presidente do Conselho Empresarial de Comércio de Bens e Serviços da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), a expectativa é de um crescimento de 8% nas vendas frente o ano passado.

Segundo Gonçalves, boa parte da vantagem do varejo no Rio de Janeiro reside no público alvo. A grande quantidade de funcionários públicos na capital mantém um clima de maior estabilidade do clima econômico.



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