Economia & Negócios

Bancos criam dificuldades para cliente migrar crédito com juro menor

Migração


06/02/2014



 A portabilidade de crédito entre bancos está longe de ser acessível ao consumidor. Embora tenha crescido 13% em 2013, os R$ 6,95 bilhões migrados somaram ínfimos 0,25% dos R$ 2,715 trilhões de todos os empréstimos e financiamentos – que evoluíram 14,6% no ano, segundo o Banco Central (BC). Na prática, as migrações evoluíram menos que o crédito em si.

Um dos motivos pode estar na resistência dos bancos em apresentar uma oferta de juros melhor, quando procurados para fazer a portabilidade. A tendência é que eles apontem a migração como desvantajosa e empurrem como solução o refinanciamento da dívida.

Mas o procedimento é bem diferente da portabilidade, já que consiste em dar um novo crédito para o cliente quitar a dívida no outro banco. Há taxas e impostos embutidos para abertura de cadastro, por tratar-se de um novo empréstimo.

Na portabilidade, a migração é feita entre os bancos sem nenhum custo para o consumidor, inclusive a cobrança de Imposto Sobre Operações Financeiras, o IOF.

“Não funciona direito”

O iG procurou agências bancárias da Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, em busca de uma oferta que cobrisse uma dívida fictícia do crédito pessoal de R$ 2 mil, com juros de 5% a 6% ao mês.

Em todos os casos, os bancos desencorajaram ou até vetaram a portabilidade. Seja porque os juros não compensariam, seja porque a instituição simplesmente não migra dívidas do crédito pessoal.

A Caixa Econômica alegou que o procedimento seria desvantajoso, já que os juros praticados de 3,3% ao mês do crédito pessoal passariam a 5% por tratar-se de portabilidade. “Quando você vai renegociar a dívida, a taxa sobe e fica muito próxima do que você já paga. Sinceramente, não valeria a pena”, lamentou a atendente.

O Itaú, por sua vez, assegurou que os juros para não correntistas são maiores, e também sugeriu refinanciar a dívida, em vez de migrar. Os juros da migração seriam de 6,9% ao mês, maiores que os da dívida apresentada. Taxa bem superior aos 4,58% do empréstimo pessoal não consignado, praticada pelo banco em janeiro, de acordo com o site do Banco Central.

O tom da conversa muda, no entanto, se a intenção for tornar-se correntista. “Aí, se o limite for aprovado, consigo fazer uma taxa bem menor, de até 2%”, afirmou o funcionário do Itaú.

No Bradesco, não foi diferente. A atendente informou que não podia cobrar juros abaixo de 6%, embora esta linha de crédito no banco praticasse 5,62% em janeiro, segundo o BC. A funcionária também sugeriu refinanciar a dívida como opção mais vantajosa.

LEIA MAIS
Dívida do cartão cresce seis vezes em um ano
Conheça os sete pecados do cartão de crédito
Bancos sobem tarifa para compensar perda no crédito
Juros atrativos do consignado escondem armadilha
“[Portabilidade da dívida] não funciona direito. O que podemos fazer é abrir uma conta aqui, fazemos um novo empréstimo e você mesma paga a dívida”, explicou a atendente do Bradesco. Segundo ela, dívidas maiores e com bens de garantia, como veículos e imóveis, são mais interessantes para portabilidade.

O Banco do Brasil avisou, de cara, que não faz portabilidade de crédito pessoal. Só migra dívidas de financiamento imobiliário, de veículos ou consignado. Também sugeriu quitar o crédito e pegar um novo no banco, condicionando a abertura de conta corrente.

Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), o cliente só pode ser obrigado a abrir uma conta para obter o crédito se for necessário fazer depósitos diretamente nela.

No site do Banco do Brasil, há um anúncio incentivando a migração do crédito para o BB, mas só de veículos. “Traga o financiamento de veículo que você contratou em outro banco e conte com os benefícios oferecidos pelo BB”.

Banco faz de tudo para manter o bom cliente

Outro motivo que pode estar emperrando as migrações é a renegociação dos juros nos bancos em que a dívida existe. “Se o cliente for bom, a tendência é que o banco tente mantê-lo reduzindo as taxas”, afirma a especialista em direito do consumidor, Denise Santos.

Pode ser mais fácil tentar negociar uma oferta melhor com o próprio credor do que com outros bancos, na opinião da especialista. Mas Denise alerta para a venda casada, uma prática ilegal, que consiste em condicionar o benefício à contratação de um produto financeiro ou plano de previdência.

A recomendação do BC ao portar a dívida é verificar sempre o custo efetivo total (CET) da operação e o número de parcelas, para saber se a redução dos juros é de fato vantajosa. Uma ferramenta fornecida pela fundação Procon permite calcular este custo.

Bancos poderão leiloar juros

Em dezembro do ano passado, o Banco Central criou novas regras para a regulamentação da portabilidade de crédito. Uma delas estipula um prazo de cinco dias para as instituições financeiras fazerem uma contraoferta com taxas menores para tentar segurar o cliente que encontrou condições melhores em outro banco

Além disso, as migrações serão todas feitas por um sistema eletrônico entre os bancos, padronizando as operações. Os bancos também estarão autorizados a fazer um leilão de juros para ter a preferência do cliente.
 



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.