Política

Áudios da PF expõem participação de militares em tentativa de golpe durante governo Bolsonaro


24/02/2025

Jair Bolsonaro - 25/11/2024 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Portal WSCOM



Investigações da Polícia Federal revelam novas provas sobre a articulação para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder por meio de um golpe. Diálogos interceptados entre militares e aliados do ex-presidente indicam que oficiais do Exército incitaram manifestantes acampados em Brasília, ação que culminou nos atos violentos contra as sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

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Entre os registros mais comprometedores está um áudio do tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que à época atuava no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter). Na gravação, ele incentiva os manifestantes a marcharem até o Congresso, alegando que a mobilização em grande número impossibilitaria a contenção policial. “A massa humana chegando lá, não tem PM que segure. Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais”, afirmou. O militar está entre os 34 indiciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe e por atentar contra o Estado democrático de direito.

Outro trecho revelado pela PF envolve o general Mario Fernandes, que, na época, ocupava o posto de número dois na Secretaria-Geral da Presidência. Em conversa com o então ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, Fernandes solicita que o ex-presidente intervenha para evitar operações da Polícia Federal no acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército. “Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF… Estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar…”, sugeriu.

O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, também foi pressionado a atuar em favor da articulação golpista. Fernandes solicitou que ele intercedesse diretamente com o então presidente e com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. O objetivo era impedir que a Polícia Federal cumprisse ordens judiciais contra os apoiadores de Bolsonaro.

Além da tentativa de barrar investigações, os áudios sugerem a preocupação de aliados em “blindar” Bolsonaro contra qualquer influência que o levasse a recuar. Em uma das gravações, Fernandes menciona que o comandante do Exército havia tentado demover o ex-presidente da ideia golpista. “Se o senhor está com o presidente agora e ouvir a tempo, blinda ele contra qualquer desestímulo. Isso é importante”, alertou.

A defesa de Fernandes negou qualquer envolvimento e afirmou que os áudios divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, foram editados e apresentados fora de contexto.

Os áudios obtidos pela PF também reforçam a participação de Mauro Cid, que fechou um acordo de delação premiada e confirmou que Bolsonaro alterou uma minuta golpista. “Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?”, afirmou.

As investigações apontam que Bolsonaro analisou e solicitou mudanças no documento, que previa a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo a PGR, o ex-presidente teria pedido que os nomes de Gilmar e Pacheco fossem retirados da minuta.

Bolsonaro é investigado por crimes de organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado democrático de direito e dano qualificado por violência contra patrimônio da União. A Polícia Federal segue apurando o caso para entender a real extensão do envolvimento dos militares e demais aliados na tentativa de golpe.



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