Economia
Após tarifaço dos EUA, produtores de etanol da Paraíba defedem tarifa sobre álcool americano: “Salvaguarda legítima”
01/08/2025

Em reação à tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donaldo Trump, produtores de etanol da Paraíba divulgaram nesta sexta-feira (1º) uma nota pública em defesa da produção nacional. O setor sucroenergético pede a manutenção da tarifa de 18% sobre o etanol dos Estados Unidos, alegando que o Brasil não precisa importar o biocombustível e que há desequilíbrio comercial entre os dois países.
“Brasil e Estados Unidos respondem juntos por cerca de 80% da produção mundial de etanol, e têm, portanto, uma responsabilidade compartilhada na promoção global dos biocombustíveis como solução para a descarbonização do transporte, da aviação e do setor marítimo. No entanto, a assimetria atual nas políticas comerciais e ambientais entre os dois países impõe obstáculos à construção de uma aliança verdadeiramente estratégica”, diz trecho da nota.
Os produtores criticam a proteção dada pelo governo dos EUA ao próprio mercado, principalmente no caso do açúcar, e alertam para os impactos na economia do Nordeste.
“O mercado americano de açúcar permanece altamente protegido, com uma cota global de 1,1 milhão de toneladas distribuída entre 42 países. O Brasil, que detém quase 50% das exportações mundiais, tem direito a apenas 155 mil toneladas e viu recentemente a eliminação da cota de açúcar orgânico — medidas que afetam diretamente regiões como a Paraíba e o Nordeste do Brasil. Ressaltamos que a presente tarifação se trata de um acréscimo sobre a taxa de 83% sobre o açúcar brasileiro que os Estados Unidos mantiveram nos últimos 30 anos como defesa do mercado à produção local”, destacaram.
Os representantes da cadeia produtiva também afirmam que estão abertos ao diálogo, mas rechaçam o que chamam de “práticas de pressão comercial”.
“Relações baseadas em unilateralismo e práticas de pressão comercial (bullying) devem ser substituídas por respeito mútuo, previsibilidade e construção de confiança. O futuro dessa relação passa por investimentos mútuos sustentáveis. Nós do Brasil vemos oportunidades reais para a ampliação de investimentos norte-americanos, em especial em regiões estratégicas como o estado da Paraíba e o Nordeste brasileiro, territórios com grande potencial na bioenergia”, afirmam os produtores.
Confira abaixo a nota na íntegra:
NOTA PELA DEFESA DO ETANOL BRASILEIRO, DO EQUILÍBRIO COMERCIAL E DE UMA PARCERIA ESTRATÉGICA E SUSTENTÁVEL COM OS ESTADOS UNIDOS
Brasil e Estados Unidos respondem juntos por cerca de 80% da produção mundial de etanol, e têm, portanto, uma responsabilidade compartilhada na promoção global dos biocombustíveis como solução para a descarbonização do transporte, da aviação e do setor marítimo. No entanto, a assimetria atual nas políticas comerciais e ambientais entre os dois países impõe obstáculos à construção de uma aliança verdadeiramente estratégica.
Enquanto o Brasil substitui 45% da gasolina no ciclo Otto por etanol, os EUA mantêm a mistura em apenas 10%. A produção americana alcança 60 bilhões de litros, com um excedente de 7 bilhões de litros que são exportados agressivamente, muitas vezes com apoio diplomático e tarifário. O Brasil, por sua vez, possui um mercado equilibrado, com forte crescimento da produção de etanol de milho, inclusive com chegada ao Nordeste, e não tem necessidade estrutural de importar etanol. A tarifa de 18% vigente é uma salvaguarda legítima, especialmente diante dos impactos verificados durante surtos de importação, como os de 2017 e 2018.
O etanol brasileiro, especialmente o produzido a partir da cana-de-açúcar, possui uma pegada de carbono significativamente menor: 22 gCO₂/MJ contra 66 gCO₂/MJ do etanol americano de milho. Adotar etanol importado com maior intensidade de carbono contraria os compromissos ambientais do Brasil e os objetivos globais de descarbonização, sobretudo às vésperas da COP sediada em território nacional.
Adicionalmente, o mercado americano de açúcar permanece altamente protegido, com uma cota global de 1,1 milhão de toneladas distribuída entre 42 países. O Brasil, que detém quase 50% das exportações mundiais, tem direito a apenas 155 mil toneladas e viu recentemente a eliminação da cota de açúcar orgânico — medidas que afetam diretamente regiões como a Paraíba e o Nordeste do Brasil. Ressaltamos que a presente tarifação se trata de um acréscimo sobre a taxa de 83% sobre o açúcar brasileiro que os Estados Unidos mantiveram nos últimos 30 anos como defesa do mercado à produção local.
Ainda assim, nós no Brasil estamos dispostos a ampliar o engajamento com os Estados Unidos, evitar julgamentos precipitados, administrar as diferenças com maturidade e explorar mecanismos consistentes de cooperação. É urgente fortalecer canais bilaterais de comunicação e consulta, baseados em visão objetiva, racional e pragmática, promovendo uma percepção estratégica correta entre as partes.
Relações baseadas em unilateralismo e práticas de pressão comercial (bullying) devem ser substituídas por respeito mútuo, previsibilidade e construção de confiança. O futuro dessa relação passa por investimentos mútuos sustentáveis. Nós do Brasil vemos oportunidades reais para a ampliação de investimentos norte-americanos, em especial em regiões estratégicas como o estado da Paraíba e o Nordeste brasileiro, territórios com grande potencial na bioenergia. Da mesma forma, espera-se o reconhecimento e a ampliação dos investimentos brasileiros nos Estados Unidos, criando um ecossistema de inovação e geração de valor recíproco.
Reiteramos nosso compromisso com a sustentabilidade, a justiça climática, a integridade econômica do setor sucroenergético e a construção de uma agenda bilateral baseada na cooperação, na equidade e na confiança mútua. O etanol brasileiro não é apenas um produto – é uma solução climática de alcance global.
João Pessoa, 01 de agosto de 2025
Defesa da Cadeia Produtiva da Cana de Açúcar – Paraíba
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