Política

Após Lava-Jato, Petrobras triplica as investigações internas


24/05/2015



Desde o ano passado no centro do escândalo de corrupção desencadeado pelas investigações da Operação Lava-Jato, a Petrobras intensificou a instalação de Comissões Internas de Apuração (CIA), segundo balanço da estatal obtido pelo GLOBO. Em 2014, quando os ex-executivos Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco revelaram à Justiça os caminhos da propina na estatal, a Petrobras instaurou 100 procedimentos internos, volume três vezes maior que a média de comissões criadas entre 2000 e 2013: 29 por ano. Os dados foram solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação. A empresa preferiu não informar o número de funcionários afastados em função das apurações.

Originalmente, os procedimentos buscam indícios de atos incompatíveis com os regulamentos internos, e não provas de eventuais crimes cometidos por servidor. Do total de comissões instaladas no último ano, 87 foram concluídas até dezembro. Processos dos quatro primeiros meses de 2015 já alcançam a média dos últimos anos: 28 até agora.

SERVIDORES DEPÕEM À JUSTIÇA

Parte do trabalho das comissões tem ajudado os investigadores da Lava-Jato. Servidores responsáveis pelo trabalho têm sido convocados, inclusive, para prestar depoimentos à Justiça. Ao mesmo tempo, entre as investigações concluídas no último ano está a criada para apurar o pagamento de propinas pela SBM Offshore a executivos da Petrobras, que terminou sem que a estatal encontrasse “fatos ou documentos que evidenciassem pagamento de propinas".

Um ex-funcionário da SBM denunciou o pagamento de US$ 139 milhões a executivos entre 2007 e 2011. O ex-gerente da Engenharia da Petrobras Pedro Barusco admitiu ter recebido US$ 22 milhões, mas ainda não se sabe quem recebeu o restante. Além da PF, a Controladoria-Geral da União (CGU) também apura o episódio a a partir de listas de funcionários citados em investigações na Holanda, reveladas pelo GLOBO em dezembro passado.

Segundo interlocutores da Petrobras junto a investigadores da Lava-Jato, enquanto a PF avançava na apuração de crimes, novas comissões eram instauradas internamente para apurar desvios de procedimento. Entre os alvos estão contratos relacionados aos maiores projetos da empresa, como o da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; o do Comperj, no Rio de Janeiro; e o da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná.

Três funcionários que atuam na comissão de investigação do caso da Repar prestaram depoimento nesta semana à Justiça do Paraná, onde revelaram irregularidades descobertas na apuração. Entre elas, a inclusão de concorrentes no processo licitatório quando ele já estava em curso e a aprovação de fornecedores que não atendiam a critérios de seleção. Os técnicos identificaram situações em que licitações ocorreram sem que o projeto básico estivesse pronto, abrindo margem para discussões sobre custo e, consequentemente, pagamento de propina.

— Desde o início (da Lava-Jato) a empresa entrega toda as informações solicitadas pela Polícia Federal, porque é vítima e quer colaborar. Antes, isso ocorria nos bastidores. Agora, essa postura está escancarada — conta um dos colaboradores da Petrobras com a Lava-Jato, que pede para não ser identificado.

Para Gilberto Souza Esmeraldo, um dos acionistas minoritários da Petrobras que integra a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec-Rio), a mudança de postura veio tarde:

— É correta a mudança. Muda a diretoria, muda como lidam com o problema. Mas essa reação demorou muito.


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