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Alice Cooper diz que faltam homens roqueiros nas paradas

'NÃO ENTENDO'


01/09/2017

Antes de Lady Gaga, Katy Perry e outras estrelas de megashows teatrais de hoje, havia Alice Cooper. Maquiagem, violência de mentirinha, letras juvenis: tudo isso já rolava. Foi esse norte-americano de 69 anos que tirou a virgindade de grandes espetáculos de rock no Brasil, no longínquo 1974.

Só que, ao voltar ao Brasil mais uma vez, para o Rock in Rio 2017, ele sente falta de algo nos espetáculos atuais. A primeira coisa é uma música com mais "alma e mensagem", diferente da "dance music comercial" de hoje.

A segunda reclamação dele – na contramão de muita gente que celebra o poder feminino no pop – é que, no ciclo atual da indústria, "todos os grandes shows são de mulheres". Os poucos homens na área, como os Justins Timberlake e Bieber, não são "rock de verdade", como ele quer. Alice pede mais roqueiros com "marra e atitude".

Ao ser questionado se ouve alguma coisa nova, ele cita Green Day (30 anos de carreira) e Foo Fighters (23). Se o cantor de "School's out" tem um discurso antigo, bem "old school", não significa que ele não tenha muita história boa para contar e lenha para queimar.

Ele falou ao G1 sobre a pioneira e explosiva turnê brasileira em 1974, a colaboração com Arthur Brown que vai rolar no Palco Sunset e um possível encontro com o Aerosmith no Rock in Rio, o retorno de sua ex-parceira Kesha e o tal de rock and roll:

G1 – Que lembrança você tem daquele show de 1974? Para nós era uma grande novidade, mas para você deve ter sido estranho. Teve medo em algum momento?
Alice Cooper – Na real, não sabia que ia ser o primeiro grande show aí. Achei que ia ser um show de rock normal, mas foi enorme. No dia seguinte tinha uma foto minha no jornal que dizia "macumba". As pessoas acharam que eu era um feiticeiro da macumba, ou coisa assim. Foi muito engraçado, para mim, que de repente o show tenha virado essa coisa sobrenatural. Mas o público foi incrível.
A gente era mais extremo que os outros grandes shows da época: Rolling Stones, Aerosmith. Então, logo de primeira, vocês viram a coisa mais extrema possível. Mas eu nao tive medo. Já tinha feito shows grandes antes e sabia que o público ia reagir daquele jeito. De todo jeito, nunca vou esquecer daqueles shows.

G1 – Como você compara os shows de 1974 com a última vez que esteve no Brasil, no Rock in Rio 2015 com os Hollywood Vampires?
Alice Cooper – Agora os brasileiros estão mais acostumados com shows de rock. Hoje o Rock in Rio é um show que todas as bandas querem fazer, inclusive a gente. E tem também o show em São Paulo [no festival SPTrip, no dia 26 de setembro, abrindo para o Guns 'N Roses].

G1 – No Rock in Rio, você vai tocar no mesmo dia do Aerosmith, do seu amigo Joe Perry. Há alguma chance de tocarem juntos

Alice Cooper – Recentemente o Joe tocou com a gente em Barcelona. O Aerosmith ia tocar depois de nós, então ele chegou e fez "School's out" conosco [veja vídeo de fã]. É uma coisa que acontece. Não sei os horários do Rock in Rio, mas não seria difícil para a gente tocar as coisas um do outro.

G1 – Tanto você no show deles quanto o Joe no seu show?
Alice Cooper – Nada está planejado agora, mas, no rock and roll qualquer coisa pode acontecer.

G1 – E o show com o Arthur Brown, o que planeja?
Alice Cooper – Arthur é a pessoa certa, que já estava por aí quando começamos. É uma figura eterna. Nós vamos tocar "Fire" com ele e acho que vai ser muito divertido. Nós já tocamos com ele em um Haloween em Londres [veja imagens do show em 2011]. Tenho certeza que ele vai conquistar a plateia aí.
"O Arthur Brown continua a fazer toda aquela performance em que a cabeça dele pega fogo. E a voz continua ótima, pesada. Se vocês acharam que eu era da macumba, então com ele vão ter certeza! (Risos)"

G1 – Além deles, uma parceria inesperada sua foi com a Kesha. O que achou de tudo o que aconteceu com ela após a acusação de abuso e a briga com o Dr. Luke, e agora o retorno?
Alice Cooper – Não mantenho contato com ela, só vejo as notícias, como todo mundo.
"Acho que a Kesha deveria ser uma garota do rock, não uma diva do pop. Eu acho que ela devia arrumar banda e ser e ser mais como Joan Jett, Chrissie Hynde. Porque as minas do rock são mais respeitadas que as divas."

Quando falamos de Beyoncé, Rihanna, Katy Perry, figuras assim, elas estão em um plano diferente, têm seu mundo paralelo rolando. Mas com as garotas do rock, acho que elas são mais respeitadas.

G1 – Existem muitas cantoras hoje com atitude rock, mas o som não é rock. No Rock in Rio deste ano há menos espaço para bandas mais pesadas. Nas paradas de hoje e na música jovem, em geral, o rock está ficando menos popular. Por que você acha que isso acontece?
Alice Cooper – Eu não entendo isso, para falar a verdade. Quando eu era adolescente, não queria saber de dance music, eu estava interessado em Rolling Stones, Kinks, Yardbirds, The Who. E depois os garotos se interessaram em Alice Cooper, Ozzy Osbourne, Aerosmith. Acho que sempre vai ter um mercado para isso.

Mas, como você disse, acho estranho que tantos garotos novos não estão curtindo rock, e sim esse tipo de dance music comercial. Para mim é música sem alma, sem mensagem, sem arte. É só colocar um disco e tocar, em vez de ter uma banda.
"Eu não entendo como DJs são estrelas. Eles só tocam discos de outras pessoas. Você não prefere ouvir uma banda que aprendeu a tocar de verdade? É isso que eu quero, não ficar ouvindo alguém tocar gravações dos outros."

G1 – Mas há alguma coisa nova que te interessa ou você fica mais nas coisas antigas mesmo?
Alice Cooper – Enquanto houver bandas como Foo Fighters, Green Day, e a gente não vai se aposentar. Sempre vai haver rock and roll por aí. E parece haver uma geração nova de roqueiros por aí no underground que vai acabar decolando.

Agora nós estamos no ciclo em que todos os grandes shows são de garotas. Katy Perry, Lady Gaga, em vez de… Poucos homens por aí fazendo grandes shows. Talvez Justin Timberlake seja o único fazendo coisas grandes. E justin Bieber. Mas aí não é rock and roll.

G1 – E como você acha que os homens podem voltar às paradas?
Alice Cooper – Acho que devia haver mais rock and roll de verdade. Mais bandas que tenham atitude de verdade, que vão lá, toquem com fogo dentro de si. Acho que muitas bandas jovens são fracas, não têm aquela marra no palco.



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