Geral

…Alguma coisa acontece no meu coração…


24/01/2012



 Que só quando cruza a Ipiranga e a Av. São João

Assim como Luiza, eu não estava no Canadá, mas em Sampa, e de lá acompanhei os episódios intrigantes e novatos da mais bombástica informação útil/fútil da semana. E a constatação de que o mundo é uma aldeia; da globalização; da instantaneidade e simultaneidade da vida pós–moderna.

Já na primeira manhã, abro o jornal e leio a notícia da morte do diretor teatral Fernando Peixoto que, apesar de ter o meu sobrenome, não era meu parente, mas amigo de um tempo, mas precisamente da década de 70, quando convivemos bastante por ocasião da montagem da peça Coiteiros. Ele o diretor, Flávio Tavares o coreógrafo, Eleonora Montenegro, a atriz, Oswaldo Travassos, o ator, e eu , a platéia. Durante um mês de ensaios, decorei a peça toda, e na estréia, com o Teatro Santa Rosa lotado, senti o gostinho de dizer: Merda! E no meu café Paulista, as lembranças de Fernando, nosso re-encontro no Rio, nosso vinho um dia no Leblon, ouvindo Edu Lobo e a botar as conversas em dia. Ele, que era casado com a irmã de Chico, minha xará, Ana de Holanda, ficou próximo do teatro paraibano, e de um grupo querido. Como há anos não o via, experimentei um sentimento esquisito, ler a morte de um estranho conhecido no jornal, e o seu carisma e talento, me revisitaram, com o gosto amargo do café, e uma sensação mais estranha da vida que pessoas se apresentam e se vão. E a cortina se fecha. Para sempre.

Em Sampa fui visitar a Couromoda, e me perder de vista nos stands da Arezzo, Azaléia, só para citar os da letra A, mas Thanks God, as vendas eram só para atacado, e eu, como varejista, fiquei com meus instintos Imelda silenciados. Mas eis que descobrimos uma ala de bijoux para essas avulsas… aí os olhos brilharam. Colares e Panos, para meus doces enganos. Até guarda-chuva fashion por lá vendiam. A Paraíba com seu stand bem representada, e o lançamento de um projeto do Sebrae – O Gira Calçados, projeto esse composto de uma rodada de negócios e show room a ser realizado em Junho próximo em Campina Grande.

Mas nem só de sapatos vive uma mulher! E viajei sem grandes expectativas. Não tinha feito lista de exposições, bares, lojas, menos ainda estava aflita e ansiosa. Estava com a postura de deixa-a-vida-me-levar, sem agonia. O que viesse era lucro. E nesse Maria-vai-com-as-outras, aproveita-se para viajar na gastronomia Paulistana: Primeiro o Tavares, de nome conhecido, um lugar contemporâneo, com cara de Soho pela decoração meio retrô e toques super- moderno, puro charme na Consolação. Uma sopa numa padaria típica: a Bella Paulista, já que a Mercearia do Pão não vendia bebidas alcoólicas, e como resistir a um bom vinho, estando na terra da garoa? Café Viena é sempre uma boa opção, seja pelas sopas ou pelo Buffet diverso, sem falar na vizinhança – a Mega livraria Cultura. Uma pizza no Bexiga, sempre aos domingos! Sem Melina Mercury, mas com o perfume do manjericão ao pesto… Mas o ponto alto é sempre a Famiglia Manccine, lugar que visito desde a década de 70, mas agora tem fila gigante na porta, uma filial na esquina, e uma loja (de nome Caligrafia) de presentes e objetos de L´Arte de perder a fome.

Mas sábado em Sampa tem que ter a Benedito Calixto, praça que conheci na festa de vitória de Luiza Erundina, e que depois descobri a feira de antiguidades e bugigangas. Como sou mulher de rua e barracas, gosto de ir sozinha, sem a presença masculina objetiva e apressada por perto. Gente interessante, chorinho na praça, broches, colares de murano, lojinhas, brechós, moda alternativa, tudo ao meu gosto. Uma Paulicéia Desvairada…e muitos mercadinhos pops, o que me lembrou a loja de Ritinha e Ramon (Furta Cor),nos tempos do Portal das Cores, e uma loja linda e eclética, de nome Filipéia. Às 14 horas, aí sim, hora de encontrar o marido, e faminta, tomar um chopp no São Benedito. O Consulado Mineiro e sua carne à Pururuca, ninguém entrava ou saía. Tudo dominado! Mesmo assim, um salmão com gergelim e um risoto de alcachofra fizeram a festa!

Filme? Bastou-me somente A Pele que Habito, do Almodóvar, para me des-habitar. Filme esse que os cinemas paraibanos insistem em não passar. Espaço Unibanco é sempre um bom programa. E o filme é de nos deixar muda. Trêmula. Em estado de espanto. Também vi O Garoto da Bicicleta, poético, simples e francês. E Ainda o Espião que Sabia Demais, para fazer uma concessão ao gênero masculino. Até agora estou sem entender nada, e pela primeira vez dormi no cinema, acho que foram os 2 chopps que tinha tomado no almoço….

Domingo chuvoso o que fazer? Feira do Masp, para sentir o ar da Avenida Paulista. Depois Livraria Cultura só para mim. Dessa vez, fui com um olhar mais turístico. E saí percorrendo todos os andares, a me embevecer com todas aquelas pessoas sentadas na rampa , a ler, a cochilar… Lá pelas tantas uma cadeira num canto, e um “Senhor” que dormia o sono dos justos. Reconheci os suspensórios… Encantei-me com as novas edições de luxo e arte da obra de Jane Austen (lembrando sempre da minha amiga Genilda Azeredo). Fiquei tão zonza e feliz que só comprei um livro de poesia, para não sair com as mãos abanando: A Lua no Cinema, org. por Eucanaã Ferraz, cujo título me pegou pela lua e pelo cinema… Já o almanaque de Regina Zappa sobre Chico Buarque, o primeiro da minha lista, minha amiga querida Vilani, já havia se antecipado, e agora estou aqui a viajar nos festivais de Olé Olá. Com as comemorações dos 30 anos de morte de Elis Regina, fico nostálgica e choro com Atrás da Porta ou Madalena, bêbada de saudades e me equilibrando nas lembranças dos anos 70!

Ao shopping Iguatemi tem-se que ir, para se ter a chance de ver o inatingível. Loja da Chanel, casaquetos e bolsas e pérolas, daquela que soube do conforto de um toque masculino e elegância da independência; Marc Jacobs; Louis Vuitton e suas bolsas de letrinhas; e outras grifes brasileiras, como Adriana Barra e suas estampas; as jóias de Antonio Bernardo, tudo só para ver, o que para mim somente nas revistas é accessível. Mas aí tem a Accessorize, agora já plenamente em vigor no Brasil, e é lá o meu canto. Como o próprio nome diz, me perco nas coisas inúteis e, de lá não saio, de lá ninguém me tira! O roteiro da Vila Madalena ficou para a próxima, e minha amiga Andrea bem que me orientou.

Mas o melhor de Sampa é passear pela Paulista. Lá sentimos o ritmo da metrópole; lá topamos com o paulistano que , apressado, não perde tempo. Claro que a multidão não são os cidadãos da zona leste, mas num final de semana, quero mais é sentir a cultura mais que o social. E na falta de Nova York, Sampa supre minhas necessidades da vida urbana: gente, cultura, diversidade.

Ao contrário de Luiza, não virei celebridade instantânea nem meme….mas aprendi essa nova palavra. Somente na literatura e anos de estudo, vim a entender um pouco de mímesis e representação, e somente num click televisivo, escuto e entendo os fenômenos da net, dos posts, e da repetição. Margareth Atwood e Alice Munro, escritoras canadenses de sucesso, não devem ter a noção de quem seja Luiza…, mas também o que importa? Luiza é linda e teve seus 15 minutos de fama que nós todos proporcionamos. Quanto a mim? Cheguei anônima, como bem gosto, pulverizando aqui nesse espaço, minhas estripulias paulistanas..que nem num raio da silibrina!

Na viagem de volta, para não dar cabimento ao meu pânico de avião, um menino tagarela se postou ao meu lado, e passou a viagem inteirinha a perguntar a mãe se o avião ia cair ou se já estava caindo…E eu ali, imóvel a já fazer meus últimos pedidos, cheguei sã e salva, ouvindo da aeromoça: Um Bom Dia Azul!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 22 de janeiro, 2012



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