Celebridades

Alexandre Nero celebra transformação nos últimos anos: “Vivia na esbórnia, tenho o privilégio de ter escapado”


11/12/2022

Alexandre Nero em ensaio para a Canal Extra (Foto: Priscila Prade / Estilo de Karen Brusttolin / Maquiagem de Ricardo Tavares)

Extra



Dos tripulantes da novela “Travessia”, Alexandre Nero pode dizer que a sua viagem até aqui está sendo das mais inesperadas. Hoje, o ator e músico se reconhece em uma pessoa que nunca imaginou que seria. Se rodasse o relógio para dez anos atrás, quando interpretou Stenio pela primeira vez, em “Salve Jorge”; encontraria um cara bem surpreso com o homem atual. Voltando mais dez anos, até o artista que fazia teatro e música em Curitiba, o susto seria ainda maior.

— Nunca esperei ser o que sou. Confesso que para tudo que sonhei, as coisas se superaram. Jamais pensei ter uma projeção nacional, trabalhar na Rede Globo ou fazer novela. Quando que eu ia imaginar ser dupla da Giovanna Antonelli, e três vezes!? Não planejava ser pai, achei que não ia casar, que casamento não era muito para mim, mesmo sendo casado. Aí fui casado (com a atriz Fabiula Nascimento) e descasei. Então achava que não queria casar de novo e casei — recorda ele, para citar alguns pontos.

Mas a reflexão ainda pode ser bem mais profunda para o marido da figurinista Karen Brusttolin e pai dos meninos Noá, de 7 anos, e Inã, de 4. Os pequenos, aliás, estão sendo responsáveis diretos pelo fato de o ator de 52 anos acessar memórias até então escondidas. Ainda pré-adolescente, o artista perdeu o pai e a mãe, ambos vítimas de câncer. Por um tempo, morou com um tio até começar a buscar trabalhos na arte para sobreviver.

— Depois que meus filhos nasceram, fui atrás de análise e comecei a entender que passei por traumas muito profundos. Com isso, bloqueei todas as memórias, mas agora elas começam a voltar. Por exemplo, é a primeira Copa do Mundo que assisto com meu filho falando de futebol comigo, isso obviamente me faz lembrar o meu pai. Tudo que eu faço com eles me liga aos meus pais — avalia Nero, que completa: — Não sei o que é ter pai e mãe. Então esse amor descomunal era muito complicado para mim. Estou aprendendo tudo, diariamente.

Alexandre Nero com os filhos Noá e Inã

Alexandre Nero com os filhos Noá e Inã Foto: Reprodução / Instagram

 

Além das mudanças emocionais, ele está diferente fisicamente, vivendo o novo Stenio. Quando “Travessia” estreou, Nero foi apontado nas redes como um dos galãs da trama, ao lado de Chay Suede, Romulo Estrela e Rodrigo Lombardi. Há dez anos, na outra novela de Gloria Perez em que vivia Stenio, ele não era visto assim, e tampouco tinha o corpo que exibe hoje. Resultado de consultas no endocrinologista, exercícios e reeducação alimentar — que ele passou a fazer há quatro anos —, o novo físico também foi conquistado por influência das crianças.

— Meus filhos salvaram a minha vida em todos os sentidos. Eu vivia na esbórnia, na noite e na bebida. A vida para mim era uma festa. Isso foi até depois do nascimento do Noá, precisei de um tempo para cair essa ficha — aponta Nero, sem segurar a emoção ao falar dos meninos, e os associando à nova realidade: — Preciso fazer exercício, estou com 52, faz diferença para pegar meus filhos no colo, subir escada, fazer sexo. Acabei com a minha saúde tocando na noite. Foram 20 anos. É surreal, você bebe todo dia, vai comer 4h da manhã e dorme às 5h, acorda ao meio-dia. É uma vida louca, que você acha muito legal quando é jovem. Tenho o privilégio de ter conseguido escapar disso.

Os novos hábitos começaram mesmo por questões de saúde, porém, o ator também foi se entusiasmando com o resultado estético. Nas últimas semanas, o curitibano que leva o nome do famoso imperador incendiário da Roma Antiga postou uma foto, para também tacar fogo nas redes, em que vestia apenas uma toalha vermelha.

— Essa coisa de galã, sem camisa, é uma novidade para mim. Eu sou um ex-gordinho. Então estou aproveitando o meu primeiro momento e talvez o último. Porque sei que é daqui para baixo agora. Aí aparece aquele menino da 5ª série que sofreu bullying. Penso: “Ah, vou mostrar que já estou magrinho, que valeu a pena, sequei e tal, já que a rede gosta disso também” — diz o ator, reconhecendo ter esperado a repercussão que a imagem causou na web.

Alexandre Nero em post que repercutiu nas redes
Alexandre Nero em post que repercutiu nas redes Foto: Priscila Prade / Reprodução

 

Mas se agora Nero está se vendo diferente no espelho, ele também busca reconhecimento além da fama. Logo no início da entrevista para esta reportagem, reflete: “Como é aquela expressão mesmo? Quem vê close não vê corre?”. E, ao longo da conversa, volta a recorrer à expressão outras três vezes para ressaltar o sacrifício de seus diferentes e hercúleos trabalhos, seja para lembrar que o novo corpo não é milagre — já que luta todo dia contra a compulsão de comer algo fora da dieta — ou para contar que educar os filhos é a tarefa mais difícil da vida. Isso sem falar na bateria de gravações intensas que uma novela exige, com preparações feitas no detalhe.

— Falam muito de química, e parece que é uma coisa que cai do céu. Ignoram muito o trabalho. É tudo muito pensado e debatido. Qualquer tempinho que dá, estamos ali ensaiando o texto — explica sobre a parceria com Giovanna Antonelli: — Ela é workaholic, como eu, já chega falando da cena no 220. Ninguém compete com a Giovanna em falar e em ter ideias.

Na sua missão de ressaltar que a profissão não é esse glamour todo, Nero mostra que o corre está valendo o close. O casal #Steloísa tem tantos fãs nas redes que eles conseguiram até que a música-tema dos dois em “Salve Jorge” voltasse a tocar em “Travessia”.“No me compares”, de Ivete Sangalo e Alejandro Sanz, passou a ir ao ar no fim de novembro.

Além do carinho, no entanto, a internet pode também ser cruel nos “closes errados”. Conhecido nos bastidores por ser engraçado e extrovertido, Nero revela que tem evitado fazer piadas nos seus perfis por conta de interpretações de má-fé.

— Parei de fazer brincadeira nas redes. Porque tem uns sites malucos de fofoca que distorcem o que falamos para ganhar clique. Sou um cara muito bem-humorado, mas não tenho o crachá de humorista. As pessoas me veem como um ator dramático. Já o Fábio Porchat pode falar qualquer coisa, que sabem que é piada. Comentei isso outro dia com o (Rodrigo) Lombardi. Ele é um cara engraçadíssimo, mas também morre de medo de fazer piada nas redes sociais — lamenta.

Helô ( Giovanna Antonelli ) e Stênio ( Alexandre Nero ) em 'Salve Jorge'

Helô ( Giovanna Antonelli ) e Stênio ( Alexandre Nero ) em ‘Salve Jorge’ Foto: Rede Globo / Divulgação

 

Nas ruas, o artista também passou a encarar com mais humor determinadas abordagens dos fãs. Em qualquer passeio que faça, é certo brincarem com ele, chamando-o de Comendador, em referência ao emblemático personagem José Alfredo da novela “Império” (2014). A história daquele protagonista foi tão bem aceita que Nero até hoje é lembrado por ele.

— O personagem passou do limite do sucesso, virou um fenômeno. Me incomodava um pouco quando as pessoas me chamavam de Comendador antes. Ninguém me chama de Alexandre. É só Comendador. Até o dia em que eu vi o Antonio Fagundes sendo chamado de Rei do Gado e o Lima Duarte de Sassá Mutema. Se esses dois baluartes são vinculados a esses personagens, quem sou eu para reivindicar que não me associem ao Comendador? — recorda, contando que as pessoas ainda cobram que ele adote o visual do personagem da novela de Aguinaldo Silva: — Querem que eu vire o Comendador (risos).

Por falar em visual, o ator tem em comum com o Stenio de “Travessia” a paixão pela moda. Em casa, divide o assunto com a mulher figurinista e, nos ensaios fotográficos, como este que estampa a Canal Extra, ele gosta de estar bem vestido.

— Sempre fui fashionista. Este foi um dos motivos de me apaixonar pela minha mulher. Ela sempre brinca, quando dizem que ela está me vestindo. Responde: “Eu não visto o Nero, e ele só casou comigo para ter o aval, pra todo mundo achar que ele usa essas roupas e tem uma pessoa responsável” (risos). Então posso fazer qualquer maluquice, que tenho o crachá de alguém que entende do assunto — diverte-se o marido, que para este ensaio teve o estilo assinado por Karen, com quem acaba de completar 11 anos juntos.

Alexandre Nero e mulher, Karen Brusttolin
Alexandre Nero e mulher, Karen Brusttolin Foto: Reprodução / Instagram

 

A rotina na casa deles também vem interferindo na escolha dos trabalhos do artista. Depois de ter interpretado o vilão Tonico Rocha, em “Nos tempos do imperador” (2021), o ator quis viver um personagem como Stenio, mais alto-astral. Mesmo não deixando os filhos assistirem a esses dois trabalhos, Nero diz que as crianças sentiram a diferença.

— Inã perguntava quando eu ia tirar a barba e o bigode do Tonico, porque pinica, né? Eu dizia que era para a novela, e ele falava: “Aquela novela que não acaba?” (risos). Porque entrou pandemia, paramos as gravações… Virou “a novela que não acaba”. Era um personagem muito pesado, um maldito que berrava, e a gente traz para casa fisicamente, o corpo sente — avalia ele, completando: — Eu estava precisando de um papel leve, como Stenio. Você chega lá, conversa baixo, faz uma gracinha, é um relacionamento bonitinho.

É também com uma malemolência ao estilo Stenio que a família vem vivendo suas últimas celebrações de Natal. Esta era uma data em que, ao longo da vida, Nero costumava xingar, se revoltar e ir para o boteco beber, por sentir falta de um núcleo familiar. Hoje, ele se derrete por viver o fim do ano em uma casa com os filhos pequenos e a mulher.

— Agora tem árvore, chamamos um Papai Noel, o avô e o tio também já se fantasiaram em outros anos. Começo a entender que é muito mais por mim do que por eles, sabe? É pela emoção de ver a alegriazinha deles, estar ali e depois fazer uma oração, de estarmos em família — celebra o ator, agora como pai e como filho, traduzindo de alguma maneira os versos de uma canção sua, lançada há dez anos: “O amor está em quem já deu, em quem doou, em quem doeu”.



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