Entretenimento

‘Ainda há preconceito contra bandas de rock do Nordeste’, diz Jorge Du Peixe

DIZ JORGE DU PEIXE


02/08/2017



A Nação Zumbi existe há 26 anos e participou de todas as edições do Rock in Rio de 2001 até 2017. Agora, fará show especial com Ney Matogrosso, com metade do repertório de clássicos dos Secos e Molhados. A moral da Nação Zumbi é alta, mas segundo o vocalista Jorge Du Peixe, ainda há parte do "muro" de preconceito contra bandas do Nordeste a se derrubar.

Uma das mostras do preconceito, segundo ele, é a dificuldade de se reconhecer a Nação como uma banda de rock.
"Existe ainda um certo preconceito contra bandas que vêm do Norte e Nordeste. Mas a gente se considera uma banda de rock", diz o vocalista da Nação ao G1.

Outro problema apontado por ele é a diferença de tratamento entre artistas brasileiros e estrangeiros em festivais no país. Mas, no caso do Palco Sunset do Rock in Rio, onde eles estiveram em três edições (com Tulipa Ruiz, Lenine, e agora Ney Matogrosso), o caso é outro: "É nosso lugar, a gente se diverte e as coisas acontecem e funcionam."

G1 – Esse já é o 3º show da Nação no Sunset. Como rolou dessa vez?
Jorge Du Peixe – Depois do show com o Lenine, o Zé Ricardo ficou muito eufórico, contente pra caramba e deu a sugestão para este ano. Esses encontros para a gente são muito bons, um desafio. São pessoas geralmente que têm um link de alguma maneira.

Quando fiquei sabendo que seria baseado num disco dos Secos e Molhados, então… Incrível isso. Eu ouvia esse disco desde cedo. Herdei do meu irmão, da leva de discos pesados, de psicodelia. Deep Purple, Uriah Heep e Secos e Molhados.

G1 – Então para você chegou junto com coisas gringas?

Jorge Du Peixe – Era uma das bandas mais importantes dos anos 70 do país. Trouxe a psicodelia. Esse disco é muito psicodélico. A gente sempre teve um pé nisso também. Talvez tenha também mais uma coisa no segundo [disco dos Secos e Molhados, de 1974].

G1 – E a parte da Nação?
Jorge Du Peixe – Eu estou bem curioso com essa parte também. É ele quem vai escolher. A gente vai sugerir uma lista e ele vai dar o parecer.
G1 – E por que você acha que rolam tantos convites para a Nação tocar com outros artistas? Além do Palco Sunset, teve 2001 com a Cássia Eller. E não só no Rock in Rio.

Jorge Du Peixe – Não sei. Talvez tenham visto que a gente tem bom desempenho nesses encontros e as pessoas têm curiosidade. De uma maneira ou outra a gente sabe se encontrar. É a história do respeito, respeitar a música e o gênero musical das pessoas e esperar absorver aquilo, buscar espaço. E a partir desse pensamento tudo passa a ser possível.

G1 – Já falei com vocês antes sobre o problema de artistas brasileiros que nem sempre recebem o mesmo tratamento que os gringos em festivais aqui. Como está isso hoje?

"Ainda é um problema. Os próprios festivais abrem para esse tipo de coisa. E é perceptível em volume, no tratamento com as bandas. Isso vem se quebrando ao longo dos tempos, mas ainda existe. Mas o Palco Sunset é tranquilo, 'nosso palco', nosso lugar, a gente se diverte e as coisas acontecem e funcionam."

G1 – Na parte da Nação Zumbi desse show, pode ser que apareçam músicas novas [o último álbum de estúdio é de 2014]?

Jorge Du Peixe – Não. Pode ser algo “novo” que é velho, como tocar Luiz Gonzaga ou Jackson do Pandeiro junto com o Ney. Eu não sabia o quanto ele gostava do Jackson e do Gonzaga, fiquei sabendo agora, e eu também adoro.

G1 – Na entrevista anterior a gente também fez um levantamento e vocês eram a banda mais “arroz de festival” daqui, estão sempre em todos.
Jorge Du Peixe – A gente se adapta a qualquer esquema de festival, faz tempo isso. E agora mais um Rock in Rio. Para algumas rádios, o que a gente faz não é rock. Mas eu preciso que alguém me explique então o que é rock.

Algumas pessoas aqui acho que não entendem isso. E acho que existe ainda um certo preconceito contra bandas que vêm do Norte e Nordeste. Mas a gente se considera uma banda de rock.
Com influência de groove do mundo, de hip hop e tal. Mas lá fora a gente é visto dessa maneira. E aqui é uma coisa muito difícil de se entender até hoje.

G1 – Então você acha que, por serem de Pernambuco, é mais difícil entenderem vocês como uma banda de rock?
Jorge Du Peixe – Talvez. Mas nem sou eu quem tem que dizer isso. A gente já derrubou metade do muro. O muro era muito alto. A gente está mais tranquilo hoje. Temos um séquito de fãs, no Brasil e fora. A gente gosta do que faz e não existe unanimidade. Ninguém é obrigado a gostar de nada.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //