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‘A Forma da Água’ é fábula que exige muita boa vontade de quem assiste

CONTO DE FADAS


30/01/2018

Com 13 indicações ao Oscar, "A Forma da Água" é um conto de fadas bizarro e erótico. E bonito, como qualquer filme do diretor Guillermo del Toro, conhecido por "O Labirinto do Fauno" e "Círculo de Fogo".

Começa com o charme fofo óbvio de edição rapidinha que faz lembrar "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001).

Mas, depois, vira uma homenagem ao cinema clássico e aos filmes de monstros. O cineasta mexicano já disse ter pirado em "O Monstro da Lagoa Negra" (1954), quando tinha sete anos, com personagem-título muito parecido com a criatura aquática deste novo filme.

A história mostra a relação de afeto entre a faxineira muda Elisa (Sally Hawkins, uma das favoritas ao Oscar) que conhece o tal anfíbio com formas humanas em um laboratório em Baltimore, nos EUA, em 1962.

Capturado na Amazônia e chamado de Deus pelos locais, ele começa a se aproximar de Elisa, mesmo que decepe gatos e mãos humanas. Ela oferece ovos cozidos e música para flertar com ele.

O "monstro" é usado em experimentos secretos coordenados pelo Coronel Richard Strickland (Michael Shannon, todo intenso, ui) e pelo Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg, presente em três dos longas indicados ao Oscar de Melhor Filme).

Aceita que dói menos

Como toda fábula, é essencial que você encare as 2 horas e 3 minutos de sessão com toda boa vontade do mundo. Para gostar de "A Forma da Água", você tem que acreditar que os pares de "A Bela e a Fera" e "King Kong" devem ir além de uma dançadinha ou troca de olhares.

Você tem que fazer um pacto com del Toro e sua turma: Alexandre Desplat (responsável pela boa trilha sonora nostálgica) e o diretor de fotografia Dan Laustsen (que acerta ao tingir tudo com tons de verde e azul).

Muita coisa do filme parece tão fora de lugar quanto os desajustados personagens. Tem cena esdrúxula de sapateado que destoa do tom sempre sóbrio. Tem cena que poderia estar no "Cine Privê" ou no Planeta Bizarro.

Mas há algo pior: um espectador mais atento precisa de 3 segundos para saber se algum personagem é bom ou mal. Tudo é caricato demais.

O vizinho de Elisa, Giles (Richard Jenkins, narrador da história) é um ilustrador desempregado que se divide entre gatos, desenhos e sua TV sempre ligada, com musicais dos anos 30 e 40, de Shirley Temple a Carmen Miranda.

Octavia Spencer ter sido indicada ao Oscar pelas piadas de Zelda, melhor amiga de Elsa, é um exagero.
"A Forma da Água" é uma fábula bonita, que faz sentido ser lançada nestes tempos de intolerância, mas poderia ser um pouco menos encharcada de maniqueísmo.


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