Opinião

A dignificação da condição humana, por Maria do Desterro


30/03/2025

Maria do Desterro Leiros da Costa

Maria do Desterro Leiros da Costa



Comparando as principais crenças religiosas, percebo na vida e obra de Jesus Cristo a missão
de honrar e dignificar a condição humana. A começar por sua encarnação, símbolo do Deus que torna-
se humano – um libelo à beleza da anatomia e à essência que nos constitui. Homenageando-nos desta
forma, percorreu um caminho diferente do que se vê em outras crenças, onde a deidade diferencia-se
dos humanos, assumindo uma posição superior, distante e, em muitos casos, distinta até nas feições
antropomórficas. Jesus igualou-se a nós de forma radical e irmanada: vida intra e extra-uterina, criança,
adolescente, jovem, adulto, carne, sangue, fome, sede, cansaço, choro, dor e morte. Outro aspecto
singular, é que Ele escolheu vir para nos servir: curando, ensinando, alimentando, lavando os nossos
pés… Assim, diferenciou-se das demais deidades, onde os homens é que são destinados a servi-las.

Um dos momentos mais reveladores da missão de Jesus como resgatador da dignidade da
condição humana, foi narrada no Evangelho de Marcos 2. 23 a 28:

“ 23E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas.
24E os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito?
25Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam?
26Como entrou na casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito
comer, senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam?
27E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.
28Assim o Filho do homem até do sábado é Senhor.”

O descanso no sábado era um preceito da Lei, regiamente cumprido e vigiado no mundo judaico, como
traço identitário religioso e cultural. Quando os discípulos de Jesusforam vistos colhendo espigas num sábado, os
fariseus logo os repreenderam, abordando-os com duas perguntas acusatórias (verso 24). Interpondo-se entre
acusadores e discípulos, Jesus respondeu com outras duas perguntas (versos 25 e 26), reveladoras do que se
aprende nas entrelinhas da Palavra quando se lê com mente aberta e coração puro. Estes dois ensinamentos foram
seguidos de duas assertivas paradigmáticas das Suas Boas Novas (versos 27 e 28): “o sábado foi feito por causa
do homem e não o homem por causa do sábado”. Neste contexto,o “sábado” simboliza a lei, o dogma religioso,
o que para os fundamentalistas deve reger as vidas das pessoas, tornando-as cumpridoras servis dos seus ritos.
Como um libertador sem precedentes, Jesus inverteu este paradigma ensinando que a religião foi feita para o
homem e não o contrário. No Seu reino o humano é mais importante do que os dogmas religiosos. Para muitas
religiões as pessoas são concebidas e destinadas para servi-las, submeterem-se aosseus ritos e até sacrificarem-se
por elas. Jesus nos resgatou desta relação, elevando-nos a um patamar completamente novo, cumprindo assim as
Suas palavras: “Se o Filho do homem vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Evangelho de João 8:36). Na
segunda assertiva (verso 28), Cristo reafirmouSua natureza divina: “o Filho do homem até do sábado é Senhor”.

Ele é Senhor de tudo, até do tempo. Jesus, mistério do Deus plenamente homem e do homem plenamente Deus.
Ele posicionou-se entre acusadores e acusados defendendo os discípulos por trabalharem no sábado, a
mulher que estava prestes a ser apedrejada, as crianças que estavam sendo impedidas de chegarem a Ele… Assim,
desde sempre, assumiu o papel de intercessor e salvador dos que o buscam, aos olhos dos céus e da terra. Sua
coerência,lealdade, intrepidez e amor sem limites por nossa condição humana, fazem Dele, o meu escolhido entre
todos … o Caminho, a Verdade e a Vida.



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