Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Internacional

“Eu tenho um sonho”


27/08/2024

“Todos nós temos um ou vários sonhos. O do reverendo Martin Luther King foi declarado no discurso que proferiu em ato público convocado por organizações religiosas, movimentos populares pelos direitos civis e sindicatos, realizado em Washington, capital dos Estados Unidos, no dia 28 de agosto de 1963, na “Grande Marcha por Emprego e Liberdade”, que reuniu mais de 250 mil negros e negras de todo o país, sob a sua liderança… Naquela oportunidade ele pronunciou seu mais famoso discurso “Eu Tenho um Sonho”, que se tornou emblemático pela qualidade retórica e pelo seu conteúdo.

O célebre discurso lançava um olhar para o futuro, pautado em duas virtudes cristãs: a fé e a esperança. O pastor, ativista dos direitos civis negros, naquele dia, entrou para a história. Rememorou que cem anos antes o presidente Abraham Lincoln, assinou a Proclamação da Emancipação, que dava fim à escravidão nos Estados Unidos. Propôs enfrentar a força física com a força da alma, numa luta sem violência, mas opondo-se à obediência das leis injustas. E repetiu várias vezes a expressão “que ressoe a liberdade”, um dos versos da canção patriótica “My Country Tis of Thee”, que foi cantada por todos os presentes ao final do seu lendário discurso. Ele conseguia inspirar os ouvintes e encoraja-los à resistência.

Seu sonho era de que veria um futuro mais justo para a comunidade negra do seu tempo. “Estou feliz em me unir a vocês hoje, naquela que ficará para a História, como a maior manifestação pela liberdade na História de nossa Nação”. Assim começava a sua oratória. E continuou: “Este verão sufocante da insatisfação legítima do negro não passará, enquanto não chegar o outono revigorante da liberdade e da igualdade. Agora é hora de fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus. Seria fatal para a nação passar por cima da urgência do momento. Não haverá descanso , nem tranquilidade, nos Estados Unidos, até que o negro receba seus direitos de cidadania”.

“Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença: consideramos essas verdades como auto evidentes que todos os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho de que minhas quatro pequenas crianças viverão um dia em uma nação onde não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”. Foram afirmações fortes do seu discurso, exigindo igualdade entre negros e brancos, numa terra onde imperava o preconceito, com a população negra sendo marginalizada em guetos, sem sequer terem direito ao voto, o mais básico dos direitos democráticos.

Ele teve a ousadia de acreditar numa América sem racismo. Foi, sem dúvidas, um líder carismático guiado por um sonho que ainda não se realizou da forma com idealizava. Mas continua sendo a grande inspiração de tantos quantos são vítimas de discriminação racial. Foi morto no sul dos EUA, em abril de 1968, supostamente por um branco racista, James Ray, que se declarava inocente até morrer, na prisão, em 1998.

Clarence Jones, que contribuía na construção dos discursos de Luther King, afirmou que a frase “Eu tenho um sonho” não estava escrita no texto que preparou para aquele dia, surgiu da sua capacidade de improviso. O certo é que o brilhante pronunciamento daquela manifestação pública viria mudar para sempre as relações raciais nos Estados Unidos. Que os valores que ele nos ensinou pelo seu exemplo, sejam considerados como inspiração por todos os que lutam pela igualdade dos direitos civis entre negros e brancos em todas as nações.


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