Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Paraíba

Velha roupa colorida


29/06/2024

(Foto: reprodução)

Uma coisa é certa. Não somos mais os mesmos e tampouco vivemos como nossos pais. Os heróis dos nossos filhos, também não vão morrer de overdose e se torna mais que necessário reavaliar os limites, apesar de toda a evolução que o mundo vem experimentando nos últimos anos.

Não se trata apenas de debater à luz do etarismo, que vem crescendo assustadoramente de uns tempos para cá, mas de aceitar a roda viva de um tempo que não volta mais.

Vejamos, por exemplo, duas questões bem recentes que merecem ser estudadas, não apenas à luz dos fatos, que são muito significativos, mas principalmente à luz da razão.

A primeira delas diz respeito a uma questão local que são as festas juninas, de fundamental importância para a economia das cidades nordestinas, muito mais nesse contexto que para a cultura popular da região.

Por essa razão, os chamados sertanejos, já são maioria entre os artistas contratados para as festas.

Nesse caso, não se trata apenas de auferir a qualidade musical em si, mas de aceitar o pensamento das novas gerações e seu gosto musical, construído a partir de novas plataformas que em nada lembram os instrumentos de transmissão de antigamente.

Na prática, mesmo não gostando de música sertaneja, e sendo fã ardoroso de Anitta, devo fazer concessões para continuar me comunicando com a minha filha, que é fã de Gustavo Lima e Zé Vaqueiro.

Nesse sentido, o desabafo de Elba Ramalho, quase um manifesto, que falou em nome de toda uma geração que já não consegue se comunicar com essa gente nova, esbarra na falta de novos compositores e intérpretes do forró raiz.

Esse impasse, que atinge em maior intensidade a música popular brasileira, tem prazo de validade e só existe porque as pessoas estão vivendo mais e melhor.

Por causa dele, o grande Chico Buarque chegou recentemente aos oitenta anos, consagrado pela critica e admirado pelo público, se apresentando para plateias cada vez menores.

A própria música sertaneja, não foge à regra, e assiste ao desgaste natural de alguns de seus maiores nomes, a exemplo de Zezé de Camargo, da dupla com Luciano, e alguns outros menos famosos.

Um outro diferencial é que o Brasil é multicultural, com infindáveis ritmos e gêneros e, o mais importante de tudo, com público e espaço para todos.

A segunda questão, que tem a ver com esse etarismo diz respeito aos candidatos a presidente dos Estados Unidos e ao debate que protagonizaram recentemente com transmissão para quase todo o planeta.

Um espetáculo grotesco de ataques e senilidade, num total desrespeito à humanidade e um exemplo sem precedentes de apego ao poder. Preocupante saber que um deles vai comandar o destino de uma nação vencedora, vencido pelo tempo.

Por isso, é importante saber parar ou recomeçar e isso não tem a ver necessariamente com a idade.

Tem a ver mais com a cabeça de cada um, e com a percepção estudada Aldous Huxley e muitos outros iluminados que por aqui passaram. Alguns deles viveram e produziram até quase os noventa anos e outros mal chegaram aos trinta.

Não tem fórmula e nem receita. Só sei, como bem disse o poeta, que o novo sempre vem.


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