Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Entretenimento

Campina Noir


02/06/2024

Em meio ao Maior São João do Mundo, um grupo de criativos de Campina Grande, incluindo professores universitários, dedica-se a produzir um vídeo que faz incursões pelo policial noir. Aliás, o próprio título, “Campina Noir”, já parece beber na fonte desse gênero, apesar de que, a partir do momento em que o roteiro ressuscita o super herói Flama e retoma a arquitetura Art Déco de prédios campinenses, dá margem a uma tradução mais abrangente do que a simples inclusão do “noir” na concepção da obra.

Em grande parte porque o personagem imortal de Deodato Borges foi originalmente lançado na plataforma de rádio AM, mais especificamente na Rádio Borborema, como a rádionovela “As Aventuras do Flama”, que fez grande sucesso no início dos anos 60, escrita e narrada pelo próprio Deodato, e voltada para o público infanto-juvenil.
Tive a honra e o prazer de trabalhar com Deodato Borges, que além de ter sido um exímio contador de estórias e autor do primeiro super-herói da Paraíba, inspirado no personagem Jerônimo, de radionovela de mesmo nome, ainda legou para a posteridade, o talento e a genialidade de seu filho, o mundialmente famoso Mike Deodato.

Juntos, cada um no seu tempo, eles colocaram Campina Grande e a Paraíba no mapa mundial dos quadrinhos, partindo dos Diários Associados para chegar em grande estilo à Marvel. Numa licença pra lá de poética, comparo os dois a Luiz Gonzaga e Januário, quando o rei do baião exige respeito ao pai que foi com quem tudo começou.
E digo isso, porque trabalhei também com o filho e sei de sua admiração pelo pai. Mais que artistas de duas gerações, eles sempre pareceram para mim um único ser. Um ser de luz.

Digno de aplausos, portanto, o resgate do Flama, que é apresentado para as novas gerações com a missão de elucidar um crime na cidade que o viu nascer e se tornar famoso. Meu amigo Grigório, por exemplo, ouvia as suas aventuras na cidade de São José de Piranhas, no alto sertão da Paraíba, e guarda ótimas recordações dessa época.
E tudo isso no tempo de João e Maria, onde Chico Buarque mistura o passado e o presente para lembrar do tempo de vilões e heróis.

Eu, igual a toda meninada, também fazia parte desse grupo colecionando gibis e armazenando sonhos, impossíveis de serem realizados. E, como bem cantou Ataulfo Alves, rodeado de pastoras, era feliz e não sabia. Nesse contexto, o Flama ajudou crianças e adolescentes a acreditar que seriam melhores e que iriam mais longe.

Por tudo isso e por algo mais, louvo a iniciativa de Kennyo Alex, Kenner, Erick Marreiro, filho do genial Afonso Marreiro, além de Astier Basílio, que morou por um bom tempo em Moscou e se prepara para lançar um livro com poemas traduzidos de Maiakovski. Todos eles participam desse projeto com o suporte de outros colaboradores. Temos a absoluta certeza que iremos assistir a uma obra que já nasce como um clássico. Até mesmo porque tem no seu elenco, um mocinho que o tempo não conseguiu apagar.


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