Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Cultura

A teia


25/11/2023

Já foi dito que a história só se repete como farsa, até mesmo porque a roda do tempo só se move para a frente. Como dizia Martinho Moreira Franco, uma figura extraordinária, nunca tem ré e não cabe choro, é a vida que segue.

Pensei nisso hoje ao lembrar dos festivais de música, os grandes responsáveis pela renovação dessa arte, não apenas no Brasil, mas também, em menor proporção, em muitos outros países do mundo,

Por aqui, também não foi diferente, e o que vimos nas décadas de 60 e 70, foram edições históricas de grandes festivais de música popular com a participação de compositores e intérpretes que saíram da Paraíba para ganhar o mundo.

Um desses festivais, talvez o mais emblemático deles foi o Fenart, idealizado e dirigido pelo multimídia Carlos Aranha, que escreveu o seu nome não apenas nesse evento, mas em muito do que foi feito e pensado todos esses anos.

Lamentavelmente, apesar do sobrenome, ele não é um super herói da Marvel, e por isso está recolhido em um abrigo, ao invés de estar se movendo em teias para salvar vidas e combater o crime.

Faz parte, contudo, de uma família de artistas, sendo o mais novo de três irmãos, de grande talento. Fernando, o pianista, que eu conheci acompanhando Menininha com o seu quarteto de jazz, e Marcos, o médico que também era um ótimo cronista.

Acho, portanto, que está mais que na hora de se fazer uma derradeira e definitiva homenagem a sua trajetória, até mesmo porque nem todo herói usa capa, mas tem sempre uma lição de vida para contar.

O mais importante, porém, é que ela seja feita em vida, como eu fiz com Gonzaga Rodrigues. Não apenas um busto ou um corpo inteiro, emudecido pelo tempo, mas também uma voz que não quer calar.

Não apenas o nome de uma rua, mas também o resgate do seu bairro. E não apenas ele, mas também muitos outros que as novas gerações nunca ouviram falar.

E também não somente os imortais como ele, mas também outros simples mortais como Políbio Alves e muitos outros que nunca cruzaram as portas da academia.

Mais que nomes, são todos referências de um ofício, um santo ofício porque vão buscar frases, artes e canções no fundo da alma. Filósofos por natureza, são pensadores que tentam inspirar os que nascem com o mesmo dom que eles.

Uma gente iluminada e quase sempre de bom coração. Muitos deles boêmios, outros reclusos, alguns traídos e muitos deles adúlteros, mal amados em sua grande maioria.

Conheci alguns deles e lamento não ter contribuindo de alguma forma para perpetuar o seu trabalho de reconhecido valor. E também dar forma e voz ao seu curto tempo de convivência entre nós.

Acredito, por outro lado, como bem diz Roberto Carlos, que já está a mais de oitenta, que daqui pra frente tudo vai ser diferente com a inteligência artificial.

Logo, as distâncias – inclusive temporais – serão encurtadas e a história será escrita na velocidade da luz, formando uma biblioteca imaginária, onde Aranha e muitos outros seres vão poder morar, e onde todos são amigos do rei.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.